Maia está enrolando o mesmo cacho de cabelo há dez minutos, e isso está começando a me deixar louca. Eu balanço a cabeça e aproximo meu suco, mordendo o canudo.
Havia passado dois dias desde que voltamos da casa do lago. Estou me sentindo culpada por achar que esses têm sido os dois melhores dias que tive nos últimos três meses. Não vejo Mia desde que chegamos, trocamos uma ou duas mensagens no máximo.
— Ele é lindo — afirma Maia, olhando para o sujeito que acabou de entrar. — Sério, Cam, quer fazer o favor de olhar ?
Reviro os olhos e tomo mais um gole, apoiando o suco na mesa. Estamos no Squeels desde às três da tarde, olhei para o relógio no topo do bar, 19:06.
— Cam! — Maia me acorda, viro e olho para o sujeito. Alto. Moreno. Maçã do rosto bem definida. Nada de mais.
— Ok. — admito e volto o olhar para ela. — Ele é bonito, e dai?
— Meu Deus! — Maia exclama impaciente e levanta segundo depois. — Vamos, a gente tem um lugar pra ir.
— Sem bebidas? — a encaro antes de levantar, lembrando da crise que ambas tivemos noite passada.
— Sem bebidas. — ela repete e eu levanto.Chegamos em um prédio de três andares — caindo aos pedaços — com carros por toda parte. Maia estacionou ao lado de uma Ranger Rover preta, saímos e fomos direto para dentro. O lugar não era tão agradável, e a maioria parecia ser bem mais velha que a gente.
— Gosto de universitários. — Maia falou como se estivesse lido minha mente.
Nós praticamente éramos universitárias, já havíamos terminado o colegial, só estávamos esperando acabar o ano, então não me senti tão desconfortável. Fomos até o bar e Maia pediu duas águas.
Na metade da água, Maia saiu e foi em direção a um sujeito encostado na parede. Levantei e fui até um corredor do lado esquerdo. Estava lotado, tanto por gente quanto por portas. Parei na frente de uma delas, era um quarto cercado por discos, haviam vários, principalmente em uma caixa ao lado da cama onde um cara estava deitado.
— Você gosta? — ele me encarou. Concordei com a cabeça.
— Tenho uma coleção parecida.
— Entra.
Hesitei mas entrei. Fui direto para a coleção.
— Tá brincando. — peguei um dos discos. — O primeiro álbum do NOFX.
Ele levantou o ombro, se achando.
— Quer uma bebida?
— Não vou beber hoje.
— Ah vamos lá — ele levantou — só um gole.
O encarei por um momento, ele não tinha cara de um estuprador ou de um traficante.
— Ok. — falei finalmente.
Ele se levantou e foi até uma mesa no canto do quarto, dei meia volta e sentei na cama, ainda distraída com The Album.
— Toma. — deixei o disco de lado e peguei o copo, dei dois goles rápidos.
Fiquei tonta de imediato. Merda. Levantei o mais rápido que pude mas não conseguia me segurar.
— Preciso ir. — tentei sair mas desabei, senti seus braços me erguendo.
— Não tão rápido.
Ele me colocou na cama, não estava sentindo minhas pernas e minha visão piorava cada vez mais. Droga droga droga. Forcei a vista o suficiente para ver ele andando até a porta e a fechando.| JUSTIN |
Estava acordado desde às oito horas e não tinha feito nada além de ficar deitado jogando a bola de basquete de Ryan pra cima. A deixei de lado e fui até a cozinha, peguei um copo de água e bebi em um gole. Depois me joguei no sofá na mesma hora que meu celular vibrou. Era Maia.
— Justin — sua voz parecia desesperada. — É a Cam.Cheguei em menos de dez minutos, Maia estava sentada em uma escada com Camryn deitada em sua perna e uma mulher que não dei muita atenção. Camryn estava totalmente chapada.
— Ei — me ajoelhei ao lado de Maia.
— Desculpa. — seus olhos estavam inchados e sua voz parecia de choro. — Não sabia mais pra quem ligar.
Encarei Camryn. Parecia uma geleia.
— Ela tá bem?
— Não sei. Ela não consegue ficar acordada.
— Ela não tá bêbada . — a mulher afirmou. — Ele deu um sedativo pra ela, preciso saber o que é — a encarei. — Sou estudante de medicina.
Encarei Maia.
— Preciso que você me mostre em que quarto ela estava, ok? — voltei o olhar para a mulher — Você pode ficar com ela?
Ela concordou. Maia levantou fomos até a entrada, ela se espremeu até chegarmos em um corredor coberto de portas. Um inferno. Tentei parecer o mais calmo possível.
— É aqui. — ela parou na frente de uma das portas.
Bati uma vez, outra, o sujeito gritou "dá o fora". Dei dois passos para trás e chutei, a porta abriu.
— Ei cara! — o filho da puta estava sentado em uma cadeira.
Fui em sua direção e o joguei contra a parede.
— Que porra você botou na bebida dela?
— Não botei nada!
— Você pode falar pra mim agora ou pra polícia.
— Não foi nada, cara. Foi apenas um sedativo.
— Cadê? — ele riu. O puxei pela gola e o joguei contra a parede com mais força. O soquei. — Responde porra!
— Estão ali na mesa.
Fui até a mesa e abri a primeira gaveta, achei o saco com comprimidos logo de cara. Fui até ele e o soquei mais uma vez.
— É melhor rezar pra que ela fique bem.
— Ei. — entrei no quarto devagar e fui até Maia. — Fiz café. — dei uma das xícaras a ela.
— Não sei como você faz isso. — ela me encarou.
— É fácil, as instruções ficam atrás. — ela riu de leve.
— Sabe do que eu to falando. — ela virou para encarar Camryn que ainda estava dormindo. — Abandona tudo para ajudá-la, mesmo depois do que aconteceu com na casa do lago.
— Ela te contou?
— Um pouco. — pressionei os lábios. — Você conhece ela, sabe que é difícil pra ela. Mas também sabe que ela tem um coração maravilhoso.
— Você também. — ela sorriu. — Vai dormir, eu olho ela.
— Eu prefiro ficar aqui e conversar com você, se não se incomodar.
Fui até uma das cadeiras e sentei, Maia fez o mesmo.
— Você não tem nenhum irmão, tem?
— Além do Ian? — levantei a sobrancelha.
— Merda. — ela fechou os olhos. — Desculpa.
Ri de leve.
— Tudo bem.
Camryn gemeu. Levantei e fui até a cama.
— Ei — sentei ao seu lado. — Como você tá?
— Uma droga.
— Você lembra de alguma coisa? — não queria pressiona-lá.
— Fui a uma festa com Maia.
— Um cara colocou um sedativo na sua bebida. — ela sentou e me encarou confusa. — Maia me ligou, não aconteceu nada. Ela impediu.
Houve um silêncio estranho. Levantei.
— Só queria ter certeza de que você estava bem. — a encarei — Se cuida.— Por que você me ligou? — parei na frente da casa de Maia, encostei na moto e a encarei.
— Sabia que podia confiar em você. — ela deu um sorriso fraco.
— Você é uma boa amiga pra ela.
— Você parece surpreso. — ri.
— Pensei que você fosse uma versão piorada da Kavannagh.
Ela riu.
— Obrigada. — ela respondeu sarcástica. — Valeu pela carona. A gente se vê.
Sorri.| CAMRYN |
Passei o resto do dia na cama tomando comprimido, estava ficando louca. Não lembrava de nada, literalmente.
— Ei — Maia apareceu na porta. — Desculpa.
— Para de falar isso. — sorri — Eu to bem.
— Eu não devia ter te deixado sozinha.
— E eu não devia ter bebido.
Ela deu um sorriso fraco e sentou ao meu lado, deitei no seu ombro.
— Sempre vou estar do seu lado.
— Promete?
— Prometo. — ela me apertou e fez uma voz grossa — Você está grudada comigo.
Ri.
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The Second Chance
Teen FictionO que você faria se descobrisse que um ano da sua vida foi apagado? O que faria se reencontrasse o amor da sua vida mas não lembrasse? O que faria se a vida te desse uma segunda chance? A aceitaria? Ou a desprezaria? E se tivesse outra chance para...