39 | The bomb

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23:12          

       Chego em casa e desabo na cama   O sono que não senti de manhã, cai em mim como uma pedra. Levanto com dificuldade e tomo um banho demorado, quando saio do chuveiro pego uma calcinha e uma camiseta e me visto. Justin não sai da minha cabeça desde que sai do hospital. Deus, sou tão idiota! Me jogo na cama de novo.
         — No que está pensando? — Lucas aparece na porta e encosta na parede, cruzando os braços.
         — Nada. — viro e fico de barriga pra baixo, me apoiando nos cotovelos — Você não vai embora, certo?
         — Não sei.
         — Não me deixa sozinha hoje a noite. — ele me encara e eu deito a cabeça no ombro— Espera eu dormir então?
        Ele ri de leve e senta na ponta da cama. Sorrio e me cubro com o lençol, ele coloca a mão na minha coxa e não fala mais nada. Fecho os olhos e desmaio.

         Acordo no meio da noite, estou deitada no peito de Lucas e seus braços estão ao meu redor. Não quero me mexer, mas estou sede. Muita. Me estico o máximo mas não consigo pegar a garrafa, tiro seu braço cuidadosamente e sento na cama, tomando longos goles de água. Pego o celular e penso em mandar mensagem para Maia, desconsidero a ideia quando vejo que são exatamente quatro horas. Coloco o celular na cabeceira e deito no peito de Lucas de novo, por sorte, ele me abraça.
        

       Acordo no dia seguinte com uma enxaqueca horrível. Sento na cama e olho as horas: 6:14. Mas que diabos...
        Lucas e metade do mundo ainda estão dormindo. Levanto e desço até a cozinha, tomo uma aspirina e deito no sofá. Uma mensagem de Maia chega no meu celular e eu fico surpresa.
       "Não consegui dormir bem noite passada, a cadeira de acompanhante é horrível! Mas a boa notícia, é que talvez sairemos daqui hoje."
        Respondo na hora.
      "Eu também não, minha cabeça está me matando! Isso é bom, espero que consigam."
       Meu celular apita minutos depois.
       "Deus, Cam! Vá dormir! Já tomou alguma coisa"
       "Sim. Não funciona. Não estou com sono mais, quer que eu leve alguma coisa?"
        "Simmmmmm, por favor!! A comida é horrível. E eu preciso de roupas novas, pelo menos eles deixam os acompanhantes tomarem banho!"
       Rio de leve mas não respondo, faço alguns sanduíches e coloco um suco na bolsa térmica e coloco no carro. Volto para o quarto e pego uma roupa sem fazer barulho, me troco e pego o celular de Lucas, coloco no mudo e mando uma mensagem falando que fui para o hospital, coloco na cama e fecho a porta devagar.
       Chego no hospital em 10 minutos, espero Maia descer e a entrego a bolsa.
       Pego um trânsito horrível na volta pra casa. São 7 da manhã, pelo amor... quando chego, Lucas não está. Mando uma mensagem, sem resposta. Suspiro fundo e me jogo na cama.
 

       Acordo com o som da campainha, resmungo mas levanto. O som percorre pela minha cabeça como um copo se quebrando. Quase tropeço enquanto desço as escadas. Abro a porta e vejo Maia.
       — Hey, pensei...
       Sua mão faz meu rosto arder.
       — VADIA!
       — O que foi isso? — a encaro espantada.
       — Bem, Justin acordou, e eu o fiz prometer que ele não estava escondendo nada de mim. Quis dizer sobre a doença, mas a consciência dele pesou e acidentalmente ele me contou sobre o beijo de vocês.
        Demoro um tempo até lembrar do que ela esta falando. Merda... o beijo em San Diego.
      — Maia...
      — Não fala nada!
      — Pode me ouvir? — a interrompo — Eu sinto muito por não ter te contado, e sim, nos beijamos. Mas não significou nada!
      — Um beijo sempre significa alguma coisa!
      — Não! — a encaro — Nem foi romântico, você saberia se...
      — Tivesse me contado? Ou se eu estivesse lá? Deus, Camryn...
      — Não significou nada! Sinto muito! O que quer que eu diga?
      — Que você é uma vadia.
      Ela vira e anda em direção a calçada. Vou atrás dela.
      — Maia! — ela para e me encara — Não vamos deixar as coisas assim.
      — O que você quer? — ela se aproxima — Fazer um contrato pra podermos dividi-lo?
      — Para com isso! Isso foi passado, droga Maia! Estou com o Lucas agora, você sabe disso!
     — Porque você não pode ter o Justin! Nunca mais fala comigo.
     — Tudo bem. — exclamo sem paciência — Se é isso que você quer!
      Ela me encara por um tempo e vai embora. Entro em casa e fecho a porta com tudo. A campainha toca e eu abro a porta sem paciência e meu tom sai alto.
       — Maia, o que você... — é Lucas — Desculpa.
       Suspiro fundo e entro em casa.
       — Uau... o que foi isso?
       — Nada.
       — Camryn...
       — Eu beijei Justin, ok? — exclamo alto, ele me encara — Desculpa... de novo. Foi antes da gente...
       — Tudo bem. — Ok, isso me pegou de surpresa. O encaro e franzo a testa. — Vem cá.
       Vou até ele e ele me abraça. Que diabos está acontecendo?
      — O que é isso? — o encaro com o queixo apoiado no seu peito.
      — Só quero lembrar da última vez.
      — Do que está falando?
      — Você tem uma vida grande pela frente, Camryn. Com o cara que você ama. Não quero estragar isso.
      — Lucas... — me solto dos seus braços e o encaro. — ...foi só um beijo.
      — Eu sei. — ele da um sorriso fraco — Eu sei... Não estou falando disso. Você ama ele, não ama? — o encaro — Sei que ama. E você nunca vai me amar do mesmo jeito que o ama, e é por isso que não vou te prender.
      Não. Não. Não. Lá vamos nós de novo.
      — Para.  — meus olhos estão lagrimejando — Você e Maia combinaram isso ou algo do tipo?
      — Não. — ele franze a testa.
      — Eu perdi todo mundo. Não posso perder você também.
      — Você nunca vai me perder, Camryn Davis. Eu vou perder você.
      — Não, não vai. — ele se aproxima e passa o polegar embaixo dos meus olhos, limpando minhas lágrimas. Logo depois ele coloca a mão no meu rosto.
     — Eu sei que vou. — ele da um sorriso fraco — Eu fui sortudo. Muito sortudo por ter tido o privilégio de passar os últimos dias com você. Não é todo mundo que tem esse privilégio, ou que sente as mesmas coisas que eu senti. Você é um anjo, Camryn. Meu anjo. Você acreditou em mim quando ninguém mais acreditou. E eu sei que vai doer como o inferno quando eu sair por essa porta, talvez nunca pare de doer, mas tenho que fazer isso. Você tem uma vida maravilhosa pela frente. Você está destinada a coisas grandes, e eu não quero te atrapalhar. Deus — ele engole em seco e vejo que esta tentando não chorar — como eu queria que você me escolhesse. Como eu queria ser o cara que você ama, o cara que vai poder acordar todo dia e ver uma mulher maravilhosa, tanto por dentro quanto por fora, ao seu lado. Mas não sou  esse cara. E nunca vou ser. E tudo bem. — ele repete com um suspiro e sorri de leve — Tudo bem. Quero que você seja feliz. Muito feliz, quero que você se case e tenha filhos daqui uns 10 anos talvez. Quero que tenha uma vida boa, assim como você. Sempre vou estar com você.
        Ele sorri e eu o abraço forte. Não sei o que dizer, não quero dizer nada. Não quero tantas coisas. Ah meu Deus. Eu sou o motivo das pessoas sempre irem embora? Por que não posso ser feliz pelo menos uma vez?
        Ele segura minha cabeça e da um beijo demorado na minha testa. Depois vira e sai pela porta. Me vejo completamente sozinha de novo. Primeiro minha mãe, depois meu pai, depois Maia, agora Lucas... tenho mais alguém pra perder?
       Deus, a vida é uma merda. Uma grande merda. Por que você tem que viver se a maioria da sua vida não passa de mentiras e sofrimentos? Esse é o grande motivo de virmos para o mundo? Sofrer?
        Estou sozinha de novo. E talvez esse seja o meu propósito. Mas não quero isso. Quero minha mãe, meu pai, Maia, Lucas... quero uma família. Um lar. Faz tempo que isso não se parece como um lar.
       Suspiro fundo na mesma hora que meu celular vibra. Provavelmente é da operadora, quero dizer, se ela não desistiu de mim também.
       O nome de Ian aparece na tela. Deus, por que os piores ficam? Ignoro. Vibra de novo e de novo, até que eu atendo.
       — Boa tarde, amor. — ele exclama na mesma voz monótona de sempre. Não respondo. — Quem vai buscar meu irmãozinho? Não aguento mais ficar com ele aqui. Onde está sua amiga?
        — Onde você está?
        — Há sete quadras do hospital. 
        — Ele não sabe andar?
        — Ele está um pouco... tonto.
        Suspiro fundo e pego a chave do carro.
    
 
       Dou milhares de voltas até encontrar o carro de Ian parado debaixo se uma árvore. Ele esta encostado no carro, de costas, virado para a praça. Paro na rua oposta e vou até ele, ele quase não percebe minha chegada.
        — Onde ele está?
        — Oh — ele vira e sorri — Oi, mal-humorada.
         Ele abre a porta do carro e vejo Justin dormindo no banco traseiro.
        — O que você fez?
        — Eu? — ele pergunta surpreso e ri — Por que eu faria alguma coisa? Ele ja está ferrado o suficiente.
        Ignoro. Pego o braço de Justin e tenho dificuldade para tirar ele. Ian suspira.
       — Eu faço isso. — ele me empurra de leve e pega Justin, o levando até o meu carro. Dou meia volta e entro no carro, acelerando. — De nada! — ouço Ian gritar de longe.
      Chego em casa e demoro um bom tempo até conseguir tirar Justin do carro. Ele esta soando. O coloco no sofá e sento ao seu lado. O encaro. Maia o deixou, penso. E talvez ele nem saiba. Ele resmunga e abre os olhos.
       — Hey. — dou um sorriso fraco.
       Ele olha em volta, parece confuso.
       — O que estou fazendo aqui?
       — Longa história. — pego um copo de água o entrego. Ele bebe em um gole.
       — Onde está Maia?
       — Outra longa história, meu amigo. — suspiro fundo e o encaro — Você está bem? Parece... drogado.
       Ele ri.
       — Estou ficando melhor, eu acho.
       — Você não parece melhor.
       — Bem, eu sai do hospital, certo?
       Sorrio de leve e levanto.
       — É melhor você descansar. Não consegui te levar para o quarto de hóspedes, sinto muito.
       — Tudo bem. — ele sorri e levanta, se segurando no braço do sofá — Maia terminou comigo, não é? — o encaro — Tudo bem. Ela falou comigo.
       — Ela falou? — franzo a testa.
       Ele meneia a cabeça.
       — Gritou um pouco, mas tudo bem. — rio de leve e suspiro.
       Ele me encara.
        — Você andou chorando?
        — O que? — finjo não entender, não quero responder. Ele me encara. — Não.
        — O que aconteceu?
        — Por que as pessoas sempre vão embora? Isso é uma coincidência ou algo do tipo? — o encaro
        — Não acho que seja uma coincidência. — ele me encara, franzo a testa. — Você acredita em destino?
        — Nunca vi um caso relacionado a destino, mas sim.
        — Talvez estejamos vivendo um. 
        — O que? — o encaro — Você quer dizer nós?
        Ele meneia a cabeça.
        — Não acho que seja coincidência você ter perdido todo mundo... 
        — ...menos você. — completo.
        Ele concorda com a cabeça.
        — Sempre somos os últimos da fila. Sempre sobramos. Você e eu.
        — Você acha isso errado? — o encaro.
        — O que?
        — Essa necessidade que temos de ficar juntos.
        — Não acho que seja errado, acho que talvez possa ser um dever.
        — Um dever? — franzo a testa.
        — Sim — seus olhos fixam nos meus — Talvez destino.
        — Você já parou pra pensar, se fosse você no meu lugar. Eu não seria tão forte como você é em relação a mim.
        — Você está certa. — ele senta no braço do sofá — Você teria sido muito melhor no meu lugar. Eu não fui o amigo ideal pra você esse tempo todo. — ele da de ombros — Não que isso importasse.
         Fico confusa.
       — O que quer dizer?
       — Mesmo se eu tivesse perdido a memória eu teria te amado a minha toda.
       — Como saberia disso?
       — Não sei. Só sinto.
       — O que está sentindo agora? — mordo os lábios. Fico nervosa com a minha própria pergunta.
       — Dor. — ele ri de leve.
       Merda. Não quis dizer nesse sentido. Quis dizer em relação à mim. Dou um sorriso fraco.
       — Eu não quero dizer fisicamente. — ele fala como estivesse se explicando —  Sinto dor em relação a você também. Isso é estranho, eu sei, mas desde que as coisas mudaram, quero dizer, desde do acidente, desde que você mudou, meu mundo mudou. E isso me assustou, pra caralho. E quando eu te vi aquele dia indo para casa da Mia,  eu me senti... bem. Sei que não parece certo, sei que na verdade não deveria me sentir assim, mas no fundo eu sabia que ainda existia um nós. E mesmo sendo grossa — abro a boca e ele ri —  você me fez me sentir de um jeito que Maia nunca conseguiria. E isso também me assusta, porque eu não consigo ter nenhum outro tipo de relacionamento enquanto você estiver aqui. Não quero dizer aqui, aqui, mas enquanto você estiver respirando, eu vou te querer. Vou desejar por você. Isso não é uma coisa que eu possa mudar.  
        Wow. Queria que ele tivesse falando isso em outras circunstâncias.
        — E você quer mudar isso? — é tudo o que falo.
       — Às vezes, sim.— ele me encara —  Só Deus sabe o quanto eu já tentei, Camryn. Mas algo sempre me puxava para você, e eu sei que eu disse que eu não acreditava em destino aquele dia no telhado, mas acho que estava errado. Sempre existe destino quando o assunto é nós.
       — Você tentou? — repito.
       Ele concorda com a cabeça.
       — Foi a época que eu me perdi. Saia toda noite e arrumava confusão mas eu não era o garoto mau. Era apenas um garoto perdido, como no Peter Pan.
      Rio.
       — Peter Pan. — repito e ele ri. O encaro. — Formamos um bom time.
      — Sim, formamos. — ele sorri.
      Nos encaramos por um tempo até que eu me distraio e levanto.
      — Melhor eu ir. — ele exclama.
      — Eu te levo.
      — Não precisa.
      — E se você tiver um derrame no meio do caminho? — ele ri — Sei que esse não é o seu problema, mas foi a única coisa relacionada a cabeça que me veio em mente. — fecho um dos olhos e faço biquinho — Desculpa.
      — Tudo bem, motorista. — dou uma piscadela e pulo sob o sofá para pegar a chave.
       Vamos até a garagem e ele senta no banco do passageiro, se remexendo. Sei que não está se sentindo bem, mas não vou deixá-lo ir para casa em cima de uma moto. Olho para o sensor de ré e vou devagar, quando viro o carro em direção à rua, acelero e pego a avenida. Ele se remexa mais, tentando disfarçar, paro o carro no acostamento e o encaro.
        — Justin. — ele vira para me encarar — Vamos a pé daqui.
        — O que? — ele parece surpreso — Não, tudo bem. Continua.
        — Não. — puxo o freio de mão e tiro o cinto.
        — Camryn.
        — Eu disse não. — tiro a chave e desço do carro. Ele desce em seguida.
        — Vai deixar o carro aqui? — ele ergue a sobrancelha.
        Não. Vou ligar para Dylan. Claro que vou deixar aqui.
        — Sim. — respondo.
        Ele não fala mais nada. Andamos um bom bom bom bom tempo pelo acostamento, sinto minhas pernas formigarem quando chegamos.
        Ele abre a porta e eu entro logo atrás dele, não percebi que sua casa não tinha divisória a primeira vez que vim. A única divisória é o balcão de mármore da cozinha, sua cama fica encostada na parede esquerda com uma TV de plasma na parede da frente. Na frente do balcão, há uma pequena sala com uma mesa redonda e quatro cadeiras. É uma casa bonita apesar de tudo, organizada e tudo em um tom de preto, dos lençóis da cama até o preto e branco da parede  
        — Obrigada.  — ele exclama.
        — Bem, eu precisava de uma caminhada. Então, obrigada. — ele ri de leve. — Vou indo.
         Ele meneia a cabeça e da um sorriso fraco. Quando abro a porta dou de cara como carro de Maia chegando. Merda. Ela desce do carro e ri e me metralhando com o olhar. Ela entra no carro de novo e acho que vai embora, mas segundos depois, ela sai com a bolsa na mão.
         Justin aparece na porta e parece quase tão surpreso quanto eu. Não penso, encaro Maia depois viro para ele.
          — Obrigada pelo sexo. — exclamo antes de sair andando.

Justin

         Merda, Camryn.
      — Ela está brincando. — encaro Maia.
      — Eu vim aqui porque pensei que podia estar enganada, mas pelo jeito, não estava.
      Ela vira e anda em direção ao carro, corro até ela e seguro seu braço, a virando para mim.
       — Pode parar? — olho nos seus olhos — Camryn não é nada pra mim. Sim, ela significa alguma coisa se é isso que você quer saber mas eu superei ela. Quero ficar com você. Sou o cara certo pra você, posso te garantir.
      — Trazendo a Camryn aqui não é um modo de garantir nada.
      — Se você tivesse ido me buscar, ela não estaria aqui. — ela me encara mas não fala nada. — Podemos conversar sem você fazer um xilique?
      Ele meneia a cabeça e me segue até a porta, entramos e ela senta no sofá.
      — Olha, Maia — ela coloca a bolsa de lado e me encara — O que tínhamos, era ótimo, eu realmente gosto de você e não quero que as coisas terminem assim. Camryn querendo ou não sempre vai ser parte da minha vida, não é algo que eu possa mudar mas eu não quero ela. Quero você. Sou o cara certo pra você.
      Sento ao seu lado e coloco uma mecha do seu cabelo atrás da orelha. Ela é linda e ela precisa de alguém, e eu também. E isso nós faz um bom time. Não posso continuar esperando por Camryn, por mais que eu queira, o termo nós me assusta. Mas quando o termo nós se refere a mim e a Maia, parece certo.
       Acaricio seu rosto e a beijo suavemente, para minha surpresa, ela não recua. Ela sorri e deita no sofá, me puxando.

Camryn

        — Merda, cadê o meu carro? — exclamo baixo enquanto ando pelo acostamento. Ainda estou pensando no que disse antes de sair da casa de Justin, Maia provavelmente quer me matar mais ainda agora.
        Parece que andei mais do que antes e nada do meu carro.
      — Hey — um carro para ao meu lado e eu apresso o passo, o carro da ré e eu paro — O que está fazendo?
       Uma mulher loira de uns 40 e pouco se debruça sobre o banco e me encara.
      — Procurando o meu carro.
      — Vi um carro sendo levado pelo reboque a uns 10 minutos atrás.
      O que?
      — Mer... — não fala merda Camryn. — Você viu em qual direção eles foram?
      — Posso te levar.
      Lembro da minha mãe me ensinando a nunca aceitar ou entrar em um carro de um estranho. Mas tenho escolha? Hesito antes de entrar, mas acabo entrando. Há um silêncio perturbador.
      — Você estuda? — a mulher me encara de relance, quebrando o silêncio.
      — Não, já acabei. — dou um pausa — Tenho um estágio daqui uns meses.
      — Que maravilha! — ela exclama — Medicina?
      Sério?
      — Psicologia. — respondo. Quero dizer, não sei, parece que estou precisando mais de um psicólogo do que eles de mim.
     — Eu fiz jornalismo.
     — Legal. — exclamo. Por que ela fala tanto? Deus!
      Ela parece ler meus pensamentos e fica quieta até chegarmos a um lugar chamado Oficina do Rat. Desço do carro e vou até uma mesa desorganizada com uma placa caindo aos pedaços, escrita "recepção". Um velho gordo está debruçado sobre ela. Não tenho certeza se ele está vivo. Cutuco ele, e ele levanta.
      — Hey — exclamo tentando não encara-lo — Vocês trouxeram um carro pra cá a pouco tempo. Uma Land Rover preta...
      — Ah sim! Você está encrencada, mocinha. Não se estaciona no acostamento.
      — Eu sei, eu sei. Eu tive que ajudar um amigo, era urgente.
      — Tudo que posso fazer é arredondar a multa para 200 dólares.
      — O que? Você está falando sério? Não tenho isso agora!
      Se eu tiver dez dólares na carteira agora, é milagre.  
       — Sinto muito, mocinha. — Ele pode parar de me chamar assim? — Sem dinheiro, sem carro. 
       — Argh, vamos lá! — resmungo.
       Ele abaixa a cabeça me ignorando completamente.
      — Eu pago. — tanto eu como o velho viramos, a mulher aparece atrás de mim tirando a carteira da bolsa.
      — Não posso deixar você fazer isso! — exclamo.
      — Eu posso pagar. — ela me encara, e fala com a voz mais calma do mundo.
      Não falo nada. Suspiro fundo e ela tira duas notas de 100 da carteira, entregando para o velho.
      — Assina aqui, por favor. — o velho mudou totalmente sua postura. Está um doce... filho da mãe.
     Ela se debruça e assina o primeiro nome, "Victoria" eu acho. O velho entra em uma porta e some.
     — Obrigada, sério. Eu vou te pagar de volta.
     — Não não não, não precisa. — ela da um sorriso delicado.
      O velho volta e me entrega a chave. Dou um obrigada seco e vou até o carro. Quando passo pela mulher, buzino e ela dá um tchauzinho com a mão.
   
    

The Second ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora