29 | Bad habits

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      6:55. Mesmo depois de um longo dia na cama, ainda me sinto completamente tonta. Tento levantar mas uma sombra faz o mesmo do lado esquerdo do quarto. Grito.
       — Porra! — Maia exclama colocando as duas mãos na cabeça.
      — Porra digo eu — a encaro, depois encaro a poltrona, depois a encaro de novo — Que porra é essa?
      Ela me olha como se eu fosse um animal em extinção.
     — Camryn Davis falando duplo porra em uma frase. Isso é um milagre?
     Reviro os olhos e abro a porta do quarto. Minha mãe esta parada diante a porta, seguro um grito. A encaro e depois volto o olhar para Maia, ainda segurando o trinco da porta. Não falo nada.
     — Desculpa... — minha mãe finalmente fala.
      Maia se joga na cama, deixando as duas pernas no ar.
     —  ... por ser super protetora. — ela continua — Como está se sentindo?
     — Ótima. — 60% mentira.
     Ela me encara, não muito convencida mas mesmo assim sai andando pelo corredor. Fecho a porta e encaro Maia.
     — Pensei que fosse sair.
     — Não vou mais.
     Me jogo ao seu lado.
 

     Maia foi embora a meia-hora atrás e ainda me sinto tonta. Arrumo dois travesseiros e sento na cama, encostando na parede. Começo a remexer na cabeceira do lado da cama e encontro um livro. Sempre o vi ali mas nunca dei muita atenção, tiro a poeira da capa e abro, é um clássico.
      Leio até meus olhos não aguentarem mais de cansaço, pisco varias vezes mas não adianta. Fecho o livro e o coloco de lado, vou ao banheiro e tomo um longo banho morno.
      Vou até o guarda-roupa e coloco um shorts e uma regata, quando viro, paro e encaro o livro. Não tinha percebido como as cores da capa da frente eram diferentes da contra capa. Me aproximo e percebo que não são. O livro foi encapado. Sento na cama e puxo a 'capa'. As cores mudam completamente. De um branco, vai para um preto com detalhes dourados. O título, mesmo meio apagado, é visível: The Great Gatsby.
        Me senti estúpida por não ter reconhecido. Era o mesmo livro que Justin estava lendo na casa do lago, levanto e tento não pensar nele. De imediato, imagens da noite retrasada passam pela minha cabeça. O modo em que ele e Maia conversaram sobre mim enquanto achavam que eu estava dormindo, na mesma noite em que ele não saiu até ter certeza de que eu estava bem. Aquele era um Justin que eu nunca conheceria... de novo.
       Simplesmente porque ele não se parecia com o Justin das fotos. Ou porque você não queira conhecer o Justin das fotos. Minha consciência da um pulo. Vou até o guarda-roupa e pego a única foto que tenho. A foto que começou tudo. A maldita foto.
        Volto e sento na cama. Por algum motivo, dobro a foto até que só reste eu e Justin. Esvazio minha mente, e o vejo como o estranho do texto de L.S. em One Tree Hill.
"Você já olhou para uma foto sua e viu um estranho no fundo? Te faz perguntar quantos estranhos tem uma foto sua. Quantos momentos da vida de um estranho você fez parte? Se estivemos lá quando o sonho desse estranho se tornou realidade ou se estivemos lá, quando o sonho do mesmo morreu. Podemos ser uma grande parte da vida de alguém... e nem saber."
        Pulo da cama e me apresso pelo corredor. Saio sem minha mãe ver e pego o carro.

     Estou parada na frente da casa do Justin a alguns minutos. Sinto uma dor aguda na mão, abro e vejo a foto amassada. Coloco no banco ao lado e esfrego as mãos. Saio e bato a porta do carro, sem ter muita certeza se fechei.
      Paro na porta antes de bater.  Ainda não sei o que vou dizer, porque não sei o que quero ou o que não quero. Então deixo meus braços caírem do lado do corpo, e um suspiro profundo escapa dos meus lábios.
      Bato duas vezes. Ele abre.
      Entro sem deixar que ele fale alguma coisa e aberto as unhas na palma da mão.
      — Quando você me disse como se sentia, eu fugi. — dei uma pausa — Mas a verdade é que eu fiquei com medo. Medo porque de uns meses pra cá, eu não sei mais quem eu sou...
      — Camryn...
      —  ... ou quem eu deveria ser. Mas quando eu descobrir, você é pessoa que eu quero ao meu lado.
      — Ei bonitão, cadê... — Maia saiu da porta de trás, vestindo uma das camisetas do Justin. — Camryn. Ei. O que você tá fazendo aqui?
      O encarei de relance.
     — Já estou indo. — virei em direção a porta.
     — Camryn... — era Justin.
     — Tudo bem. — o encaro e sorrio — Pego os CD's depois.
    

The Second ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora