49 | New Life

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         Acordo com a mesma aeromoça me cutucando, pedindo que eu levantasse a cadeira e colocasse o cinto — eu não tinha tirado. Dou um sorriso e subo a cadeira, as crianças começam a chorar enquanto o avião vai se abaixando cada vez mais. Olho pela janela e vejo o Sol se pondo, o céu se transforma em várias cores, do vermelho ao rosa, do laranja ao amarelo...
        Olho para baixo e vejo minha futura cidade. Suspiro. Não é nada parecida com Los Angeles. Não vejo muitos prédios, um amontoado aqui outro ali... e o resto é coberto por um rio e casas. Ajeito a postura me preparando para o impacto.
       Espero mais uns 20 minutos até o avião parar, as portas se abrirem e eu finalmente conseguir sair. Mais 10 minutos até eu conseguir pegar minhas duas malas e mais cinco até eu conseguir achar um táxi.
        — Bem-vinda à Detroit. — um cara de no máximo 25 anos exclama olhando pelo parabrisa. Sorrio.
        — Obrigada. — remexo a bolsa e pego um papel onde anotei o endereço, o entrego.
        Ele analisa por um momento e depois me entrega, como se não fosse nada demais.
        — Da onde você é? — ele pergunta.
        — Los Angeles.
        Ele vira rapidamente para me encarar e depois volta a atenção ma estrada.
        — Desculpa pela expressão, mas que merda você está fazendo aqui?
        — Um estágio de psicologia.
         Ele faz um barulho com a boca, como se estivesse analisando algo.
        — Quantos você tem?
        — 18.
        — Vai morar perto do escritório?
        Franzo a teta e olho pela janela.
        — Por que pergunta tanto?
        Sua reação é totalmente diferente do que pensei. Ao invés de fechar a cara, ele faz o mesmo barulho com a boca e ri, sem responder nada. Melhor assim.
        Minutos depois ele para na frente do IPDDJ, Instituto de Psicologia de Detroit. Não sei o que é o J. Ele ajuda com as malas, agradeço e o pago, quase correndo para dentro do prédio. Paro na recepção.
        — Boa tarde. — exclamo e uma mulher de cabelos vermelhos levanta a cabeça para me encarar. — Sou...
        — Camryn Davis. — ela sorri. — Estávamos esperando por você.
        Ela levanta e faz um sinal com a cabeça para que eu a siga, deixo as malas no canto da recepção e a sigo até um corredor longo. Pegamos o elevador e ela clica no  12º.
        — Cada andar tem duas salas — ela explica — O Sr. Scott está te esperando. Michael Scott.  — ela fala antes que eu pergunte. 
        O elevador abre e ela me mostra a  sala que devo entrar, em seguida a porta do elevador se fecha e eu estou sozinha. Vou até a porta que ela me mostrou e bato, ouço alguém falando "pode entrar" e entro. Ele não é nada como imaginei.
         É um coroa de mais ou menos 58 anos mas está inteiro. Inteiro demais.
        — Você deve ser a Camryn. — ele arruma os óculos e faz um sinal para que eu me sente na cadeira. — Seu pai falou muito sobre você.
       Sorrio.
        — É um prazer estar aqui, Sr. Scott.
        — Não precisa disso. — ele tira os óculos de grau e estende a mão. — Michael. Apenas Michael. 
         A aperto e sorrio. Ele coloca os óculos novamente e abre uma página no computador.
         — Só precisamos completar sua fixa... — começa — para podermos pedir a solicitação do seu cartão de entrada. — ele desvia o olhar para e sorri. — Pronta? Isso pode ser um pouco chato.
         Não, penso.
         — Sim. — respondo e coloco as mãos entre as pernas.
         — Nome completo?
         — Camryn Marie Davis.
         — Nascimento?
         — 6 de Julho de 1990. 18 anos.
         — Estado civil? — hesito. — Camryn?
         — Solteira. — respondo finalmente.
         — Tudo pronto... só falta... Ah claro! Você morava com alguém em Los Angeles?
         — Não.
         — E seus pais?
         — Minha mãe morreu de câncer e meu pai... — dou uma pausa — Sou órfã.
         Ele me encara por cima dos olhos.
         — O que aconteceu com o seu pai?
         O encaro por um momento. Não quero falar sobre isso. Mas ele não percebe. Continua me encarando, seus olhos pedindo uma resposta.
          — Ele me deixou. — falo finalmente. Ele ajeita a postura.
          — Oh.... Sinto muito. — ele exclama e volta a escrever no computador. — Tudo pronto. Bem vinda ao IPDDJ. Espero que goste.
          Ele dá um sorriso e estende a não novamente, a aperto.
         — Pai, eu prec... — viro e vejo o cara do táxi parado na porta. Mas que... — Desculpa. 
         — Tudo bem, James. Entre. — Michael tira os óculos e se levanta. Ele se vira para mim. — Já deve ter conhecido meu filho, James Scott. Espero que ele não tenha te enchido de perguntas durante o caminho, é um mal que nunca supera.
         Não falo nada. Apenas aperto a não do cara do táxi, quero dizer, James.

         — Então você não é um taxista? — exclamo logo quando a porta de Michael fecha atrás de nós e James me acompanha até o elevador.
         — Não.
         — O que foi isso?  
         — O que?
         — Eu não sei. — exclamo. — Ainda estou tentando entender. Você é meu chefe?
         — Não. — ele entra no elevador e segura a porta para mim entrar. — Não tenho empregados. Meu pai tem.
         — O que você faz aqui?
         — Aprendo a cuidar da empresa, caso ele parta. 
         Meneio a cabeça. Saio rápido do elevador e vou até minhas malas, paro na recepção.
         — Oi. — sorrio para a ruiva.
         — Oi. — ela retribui — Deve estar se perguntando sobre a moradia, certo? Bem...
         — Deixa comigo, Andrea. — ouço a voz de James atrás de mim. — Levo a moça para o apartamento.
         — Ok, Sr. Scott. — ela dá um sorriso enorme e tímido. Ela gosta dele.
         Ele pega uma das malas em minhas mãos e não reclamo. Estava pesada demais.
        — Vamos de táxi, de novo? — exclamo com um dos olhos fechados. O Sol já havia desaparecido e o céu adotava uma cor avermelhada. Ele ri.
        — Aquilo foi uma piada. — ele exclama e caminhamos até o estacionamento.
        O estacionamento está coberto de carros pretos, às vezes vejo um branco ou cinza, mas a maioria é preto. Tento acompanhar seus passos apressados.
        — Qual o seu?
        — O preto.
        Olho em volta, procurando. São todos pretos.
        — Todos?
        — Você não para de perguntar?
        — Pare de me deixar curiosa então. — isso saiu de repente. Dou uma parada e balanço a cabeça, o seguindo.
         Ele para na frente de um SUV preto e coloca minhas malas no porta-malas. Entro no banco do passageiro. Não falamos nada o caminho todo. Não foi longo, 10 minutos no máximo. Ele entra na garagem de um prédio de frente para o lago. 
         Olho pela janela, é o tipo de prédio que só aparece em filmes. Alto, espelhado, uma varanda enorme, um apartamento por andar...
         — Vou ficar aqui? Tem certeza? — pergunto.
         — Não, não ia.
         O encaro.
         — O que?
         — Tem um quarto a mais no meu apartamento. — ele continua antes de eu protestar — Por favor, não ache que eu estou pensando besteira ou querendo se aproveitar de você. — seu semblante está sério, totalmente diferente do garoto brincalhão na empresa.
         — Mas por que? O que aconteceu com o meu apartamento?
         — Não está pronto. — não o conheço mas sinto que está mentindo.
         — Como vou ter certeza?
         — Eu durmo na casa do eu pai se você quiser. — ele finalmente para o carro e desce, desço logo em seguida.
         — Pode por favor me dizer o que está acontecendo.
         Ele coloca as duas malas no chão e fecha o porta-malas.
         — Seu apartamento é uma merda. — ele me encara por um instante depois desvia o olhar, pegando as malas e as levando até o elevador.
         — E daí? — corro atrás dele.
         — É um lugar perigoso. Não é lugar pra uma garota como você morar.
         — Garota como eu?
         — Você é de uma família rica, não é? Então, não ia gostar do lugar. Estou tentando te ajudar.
         — Desculpa, mas isso é assustador e... chato.
         Entro no elevador logo depois dele e ele clica no 22.
        — Tenho certeza que não me acha assustador. 
        — Por que tem tanta certeza? — franzo a testa.
        — Porque é a quarta vez que entra em um lugar fechado comigo.
     

        Espero as portas abrirem e dou um pulo para fora. O sigo pelo corredor até a única porta, ele coloca as malas no chão e me estende a chave.  
         — O que? O que quer que eu faça? — o encaro.
         — Abra.
         — É seu apartamento. Abra você.
         — É seu.
         Franzo a testa e ele abre um sorriso.
         — Estava brincando com você. Pegadinha de iniciante. — seu sorriso aumenta. — Sim, eu moro aqui mas não nesse andar. Esse prédio pertence a minha família, ajudamos os estagiários, você não tem que pagar nada.
         O encaro por um bom tempo, tentando entender o que acabara de acontecer.
         — Você não leva nada a sério?
         Ele sorri.
         — Vai pegar a chave ou não?
         Puxo a chave da sua mão e abro a porta, arrastando as duas malas para dentro. Viro para encara-lo.
        — Obrigada.
        — De nada. — ele responde e sorri de novo. Ele não cansa? Fecho a porta antes que ele faça de novo.
 

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⏰ Última atualização: Jul 21, 2016 ⏰

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