44 | Everything looks perfect

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       O barulho da chuva me acorda com tudo. Levando rápido, assustada logo depois que um pedaço de gelo cai no telhado. Sou a única que tem sono leve? Levanto e vou até a cozinha, a casa está  um silêncio. Tomo um copo de água  e paro na frente da escada. Não é possível que nem Maia nem Dylan nem aquele cara não tenham acordado. Eu que estou aqui embaixo acordei, imagina se estivesse em cima. Paro na frente do quarto de Justin, a porta está encostada e posso vê-lo dormindo como um anjo.
       — Ok, talvez eu seja a louca. — murmuro para mim mesmo antes de voltar para o quarto.
        Pego um livro que achei na sala e começo a lê-lo, não chego nem no segundo capítulo e fecho o livro. Um saco. Levanto e vou até o quarto de Justin, abro a porta devagar e caminho até a cama, torcendo para que ele não acorde. Deito devagar e mordo o lábio inferior quando a cama range, viro e Justin não se mexe. Suspiro e deito ao seu lado, colocando o lençol no rosto.
       

        Não sei quanto tempo dormi, provavelmente pouco, o céu continua o mesmo e não ouço nenhum barulho na cozinha.
       — Tudo bem? — seguro um grito quando ouço a voz de Justin. Ele está deitado ao meu lado, ainda com os olhos fechados.
       — Como sabe que estou acordada?
       — Você não para de se mexer desde que chegou.
       — Você me viu entrando?
       — Não. Eu senti.
       Faço careta mesmo sabendo que ele não esteja vendo.
       — Sabe o que quis dizer.
       Olho de canto de olho e o vejo sorrindo.
       — O que está te incomodando?
       — A chuva.
       Ele se inclina para o lado esquerdo na direção da cabeceira, seus músculos das costas se contraem. Apesar de eu já tê-lo visto sem camisa antes, nunca percebi o quão bem desenhados são seus músculos. Ele vira e estende o braço, com um saquinho na mão. Franzo a testa.
       — O que é isso?
       — Protetores.
       Rio.
       — Minha avó usa isso.
       — Pelo menos ela dorme.
       Cerro os olhos e vejo seu rosto se contrair, ele está tentando não rir. Pego o saquinho e abro, colocando os dois protetores, ouço Justin murmurar alguma coisa mas não ouço claramente. Junto meu corpo com o seu e fecho os olhos, o barulho da chuva vai ficando mais longe.

         Quando acordo — pela terceira vez — estou deitada no peito de Justin, levanto a cabeça e ele me encara, sorrindo. Tiro os protetores.
        — Bom dia, avó.
        Reviro os olhos.
        — Obrigada. É isso que quer ouvir?
        Seu sorriso aumenta. 
        — Não. Só queria te deixar zangada.
        Bato no seu peito e rio de leve. Em seguida levanto e abaixo para pegar meu lençol que cai no chão.
        — Você fica ótima só de camiseta. — lembro que estou com uma camiseta branca e de calcinha, viro para encara-lo e ele sorri, passando a língua pelos lábios. Minhas pernas balançam. Filho da mãe. 
        —  Claro que fico. — exclamo antes de virar e sair do quarto.
        Passo pela sala e por sorte ninguém acordou ou pelo menos desceu. Entro no quarto e fecho a porta. Penso no sorriso de Justin. Será que ele sabe o efeito que tem sobre mim? Provavelmente sim. O canalha não para de sorrir. Ouço alguém bater na porta e me enrolo com o lençol. É Justin.
        Ele está vestindo uma calça de moletom preta e um moletom escrito Guns N' Roses. Sua expressão muda para desapontado imediatamente quando abro a porta.
         — Toma café comigo? — ele me encara e me pergunta como uma criança.
         — Você não veio aqui pra me perguntar isso.
         — Verdade. — ele admite e cruza os braços — Vim para ver sua calcinha de novo.
        Abro a boca.
         — Tarde demais. — fecho a porta.
         Procuro outra camiseta e tudo o que acho é uma regata. Coloco-a, e depois visto uma calça de Maia que acho no guarda-roupa. Abro a porta e ele ainda esta na mesma posição.
        — Vamos comer. — exclamo indo até a cozinha.
        Sinto seus passos atrás de mim como um cachorrinho. Sorrio para mim mesma. Abro a geladeira e pego o leite enquanto Justin faz sanduíches. Pego a granola e coloco no mesmo pote de sempre, em seguida despejo o leite e me encosto na bancada. Ele coloca os dois sanduíches na torradeira e espera até que estejam prontos. Ele morde um deles e me encara.
         — Como consegue comer isso?
         — Como consegue comer isso? — repito.
         — Pão? É bom.
         — Não. Essas coisas que você coloca dentro.
         Ele encara o sanduíche.
         — Carne, queijo, peito de peru e manteiga.
         Faço careta.
         — Cedo demais pra tudo isso, não acha?
         — Não tenho horário pra comer. Não vou comer uma fruta agora se sei que vou ficar com fome daqui uma hora.  
         — Bem, eu como isso — falo do mesmo jeito que ele — e não sinto fome em uma hora.
         — Eu sentiria. — ele dá de ombros — Aposto que não consegue comer um desse sozinha — ele levanta o sanduíche. 
         — Provavelmente não.
         — Tenta. — ele estende o outro sanduíche.
         Estendo a granola.
         — Só se você comer isso.
         Ele me encara.
         — Fechado. — ele pega o pote e eu pego o sanduíche.
          Dou uma mordida e sinto meu estômago revirar. Encaro Justin, ele come duas colheres e me encara.
        — Troca. — falamos quase que na mesma hora.
        Trocamos e voltamos a comer sem falar nada. Quando acabo, olho pela janela, ainda está chovendo e o céu está totalmente cinza. Não vai passar tão cedo. Justin come o último pedaço do sanduíche e enrola o guardanapo, o jogando no lixo como se fosse uma bola de basquete.
        Vamos até a sala e eu lembro que Maia sempre pede para ajeitar a lareira quando o tempo está ruim. Justin me ajuda e em minutos a lareira está acessa. Olho pela janela e não vejo o carro de Maia. 
         — Você viu Maia saindo? — exclamo ainda olhando pela janela.
         — Não. Por que?
         — Acho que ela não tá em casa. Sei que ela acorda tarde, mas o carro dela não tá ai.
         — Deve ter saído pra alguma loja, você conhece ela. 
         — É. — dou de ombros e sento no sofá. Suspiro fundo.
         — No que está pensando? — ele me encara. Pego sua mão e ele a estende em volta do meu corpo, me puxando para perto, deito no seu peito.
         — No estágio. Não quero ir.
         — Você tem que ir. — ele pega minha mão e brinca com os meus dedos.   
         — Não tenho que ir. É uma escolha minha.
         — Eu sei. Não foi o que eu quis dizer. — ele solta a minha mão — Desde o dia que eu te conheci, sabia que você teria um grande futuro pela frente. Você está destinada a coisas grandes, Camryn, e eu não vou atrapalha-la. E eu sei que talvez você pense que estou falando isso pra fingir ser o cara perfeito mas não estou. Claro que não queria que você fosse, mas você tem que ir, você tem o mundo pra conquistar e  sei que você vai fazer isso com ou sem mim.
         — Não quero te deixar.   
         — Você não vai me deixar. — ele me puxa para mais perto e acaricia meu braço — Você é minha, eu sou seu, isso não vai mudar. Lembra quando me perguntou se sempre haveria um nós? — ele dá uma pausa, não acho que esteja esperando uma resposta, então não falo nada — Tenho a resposta agora — ele continua — não importa o que aconteça, sempre haverá nós.
        Dou um sorriso fraco e observo alguns pingos descendo pelo vidro da janela. Justin pega a minha a mão e a acaricia com o polegar. Ajeito-me no seu peito na mesma hora que ouço um carro parando. 
        Instantes depois, Maia entra com um guarda-chuva nas mãos.  Ela levanta o olhar quando nos vê.    
         — Bom dia, pombinhos.
         — Bom dia. — vou até ela e a cumprimento com um abraço — Onde estava?
         — O papel acabou, e Dylan e o goo goo boy dele não saem na chuva.
         Rio.
         — Preciso de um banho quente. — ela anda em direção à escada até que para e vira para me encarar — Obrigada pela lareira.
         
 
       
        

The Second ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora