20 | Nightmare

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Justin estava se debatendo na cama, segurando o lençol tão forte que parecia machuca-lo. Corri e me ajoelhei ao seu lado.
- Justin - minha voz quase não saia, segurei seu rosto com as mãos. Estava suado. - Acorda - ele ainda estava se debatendo, levantei e forcei seus ombros contra a cama, sem sucesso, ele era mais forte.
- Justin, por favor. - meus olhos começaram arder. Coloquei a mão em sua testa, estava fervendo, e seu cabelo, encharcado. Ele parou.
O encarei por um tempo e fechei os olhos, aliviada. Percebi que a minha garganta estava seca, andei até a cozinha e tomei um copo de água em um gole. Voltei para o quarto dele, andei até a poltrona ao lado da cabeceira, sentei e fechei os olhos.

Acordei com a luz do Sol, sentindo uma dor aguda nas costas, sentei.
- Desculpa. - não tinha reparado Justin parado de costas na frente do guarda-roupa. - Não queria te acordar.
- Desculpa - respondi - por ter dormido aqui, quero dizer.
- Tudo bem. - ele virou para me encarar - Ia te colocar na cama mas acordei cedo demais, não queria te acordar.
Levantei e sorri. Ele não ia perguntar o motivo de eu estar ai? Provavelmente já sabia. Levantei e fui até a porta...
- Camryn - virei para encara-lo. Ele jogou uma camiseta na minha direção, segurei. - Não vai querer sair, tem gente lá fora.
Demorei para entender. Não tinha reparado que não estava vestindo nada além da calcinha por baixo da blusa do meu pai. Era uma blusa grande, mas não tão grande assim. Vesti a camiseta que ele havia jogado, parecia um vestido em mim.
Abri a porta, torcendo para que ninguém prestasse atenção em mim. Por sorte estavam todos na cozinha, corri para o meu quarto e fechei a porta. Gritei.
- Meu Deus - Dylan virou para me encarar, parecia tão assustado quanto eu. - Desculpa. Estava procurando aquela boia preta, como não tinha ninguém, entrei.
- Tá na porta do lado.
Ele abriu a porta do guarda-roupa e pegou a grande boia preta. Andou até mim.
- Obrigada e desculpa. Bom Dia.
- Tudo bem. - sorri - Bom dia.
Afastei para que ele pudesse passar, ele saiu. Suspirei e fui até o banheiro, olhei para o espelho. A blusa de Justin era tão grande que acho que até nele ficava larga, mas era confortável e cheirosa.
Tirei tanto ela quando a blusa do meu pai e tomei um banho de água quente, mesmo estando fervendo lá fora. Coloquei um shorts e uma blusa um pouco larga e logo depois sai.
- Bom dia, flor do dia. - uma voz familiar, virei para a cozinha. Ian. Sorri e fui até ele.
- O quê você ta fazendo aqui?
- Mia me ligou ontem. Mas parece que não está preparada. - olhei em volta, e depois para o relógio, Mia provavelmente ainda estava dormindo. - Pronta para mais umas apostas?
- Se você estiver pronto pra perder. - dei de ombros, ele riu e logo depois saiu em direção ao jardim. Fui preparar um café da manha diferente: panquecas de bonecos.
Coloquei duas panquecas no forno, e encostei no balcão, observando o imenso verde lá fora. Quando virei vi Justin saindo do quarto, estava vestindo um shorts preto, uma regata branca e uma toalha em volta do pescoço. Ele se aproximou ao mesmo tempo que o formo apitou, abri e peguei a bandeja com as panquecas.
- Pessoas - ele exclamou enquanto se apoiava na bancada e encarava as panquecas
- Anjos, na verdade. - corrigi.
Ele levantou a cabeça para me encarar. Seus olhos eram de uma cor incrível.
- Nunca vi um anjo. - ele deu de ombros - Quero dizer, há vários documentários sobre demônios e tudo mais, mas não há nada sobre anjos.
- Talvez porque sejam bom demais, e as pessoas estejam mais interessadas em coisas ruins.
- Não acredito nisso. - ele deu a volta na bancada e pegou um palito de dente, colocando na boca. - Você não vai comer as duas, vai?
- Não. - respondi. - Se você quiser. - ele sorriu e pegou dois pratos, colocando na bancada e empurrando um na minha direção.
Antes que eu pudesse ver, ele pegou uma das panquecas e colocou no meu prato, fez o mesmo no dele. Depois pegou o mel, e colocou sobre a mesa. O encarei.
- Você não gosta de mel. - ele falou como se tivesse acabado de lembrar. Ele levantou e pegou canela.
Acenei com a cabeça, comemos e fizemos piada da noite passada, no aniversário de Maia. Não toquei no assunto que havia ocorrido em seu quarto. Quando dei a última colherada, Mia desceu as escadas gritando e correndo em direção a porta, em direção à Ian. Logo depois, pulou em seus braços.
Encarei Justin, ele era o único que não havia falado com Ian desde que ele chegou. Não parecia feliz com sua presença, ou parecia, não sei, ele nunca demonstrava nada.
Ele levantou e foi até a pia deixar o prato.
- Ótimas panquecas. - ele sorriu e pegou a toalha que havia deixado no canto da bancada, e andou até a porta, quando ia passando por Mia e Ian, Ian esbarrou com o ombro direito em Justin, mas não pareceu afeta-lo. Ele parou e encarou Ian por um tempo, Ian sorriu. Justin saiu porta à fora.
Peguei o prato e coloquei na pia, depois sai.
- O quê foi aquilo? - falei enquanto alcançava Ian.
- Aquilo o quê? - ele me encarou.
- O lance do empurrão.
- Brincadeira de menino. - ele deu um sorriso enorme e depois saiu.
Voltei para o quarto e abri a janela, o dia estava quente, até demais. Deitei e peguei meu livro, logo quando peguei, meu celular vibrou. Revirei os olhos e levantei para pega-lo. Mãe.
- Oi mãe.
- Filha? Oi. Tudo bem?
- Tudo e você?
- Estou com saudades.
- Eu também mãe.
- Só liguei pra perguntar se está tudo e avisar que seu pai só vai chegar no final do mês.
- Hm. - foi tudo o que eu disse.
- Liga pra ele depois. Não gosto de ver vocês assim. Beijos, te amo.
- Também te amo mãe. - desliguei.
Deixei o celular na mesa e sai.
- Camryn! - levei um susto com o grito de Mia, olhei para cima, ela estava apoiada no parapeito da escada . - Vem cá.
Subi, esperando alguma coisa surpreendente mas não, ela só queria ajuda em qual cor de blusa vestir.
- Isso tudo é por causa do Ian? - a encarei. Ela deu de ombros.
- Não. - sentei na cama.
- Você gosta dele.
- Como um amigo. Meus planos são outros.
Lembrei de Ryan, mas não falei nada. Fui até a janela e abri a cortina. Mia resmungou enquanto o sol entrava com tudo. Cerrei os olhos até me acostumar com a claridade.
Mia desceu, desci atrás dela mas logo a perdi pela casa. Ouvi gritos empolgantes lá fora, logo depois que a música mudou. Fui até o jardim. Um aglomerado de pessoas se encontrava perto do lago, formando uma roda e os gritos ficavam cada vez mais empolgantes. Mil coisas vieram à cabeça. Ian e Justin. Maia e Mia. Scott e qualquer um que tenha o irritado. Por sorte, era apenas um braço de ferro entre Ian e Scott.
- Por que essa cara? - não tinha percebido Justin atrás de mim, ele estava com uma das sobrancelhas levantada. Senti uma inveja imediata, sempre quis fazer isso.
- Achei que fosse alguma coisa mais séria.
- Você quer fazer alguma coisa mais séria? - o encarei.
Não respondi - e não precisei - ele andou em direção à casa, o segui. Ele parou na cozinha e pegou uma cesta ao lado da pia. Apoiei no balcão e o encarei.
- Um piquenique?
- Não - ele deu uma pausa - não tinha pensado nisso na verdade.
- O quê você pretende fazer? - ele me encarou e sorriu mas não respondeu.
Ele pegou alguns pães prontos com o patê de Mia da geladeira e colocou na cesta, fez o mesmo com uns biscoitos e umas frutas. Depois, um suco. Ele fechou a cesta e sinalizou com a cabeça. O segui até a entrada e fui até a moto.
- O que você está fazendo? - ele sorriu, entretido. - A gente vai andando.
O segui. Andamos até uma pequena trilha, depois a seguimos por cerca de uns 10 minutos. Depois, havia uma pequena montanha, ainda continuação da trilha, subimos. Quando chegamos, demos de cara com um pequeno penhasco. A vista era maravilhosa. De baixo do penhasco, estava o lago, e lá na frente, um pouco longe mas ainda visível, a casa de lago.
- Uau - não conseguia tirar os olhos da vista - A gente andou tudo isso?
Ele concordou com a cabeça e colocou a cesta no canto, pegando uma toalha - grande demais pra ser uma toalha - e estendeu no chão. Logo depois, tirou alguma coisa do casaco, demorei até perceber o que era: um rádio.
- Das antigas. - brinquei.
- São os melhores, pegam em qualquer lugar. Diferentemente do seu celular - ele me encarou - que aposto que está sem sinal agora.
Peguei o celular, ele estava certo. Totalmente sem sinal. Dei de ombros.
- Então - continuei, guardando o celular - Vamos ter uma discoteca?
- Quase isso. - ele sorriu, ainda tentando sintonizar o rádio. - Vamos fazer um jogo.
- Que tipo de jogo?
- Bem - ele deu de ombros, concentrado no rádio - toda cena de filme tem uma trilha sonora. Então, por que esse momento não pode ter uma?
Ele deu uma pausa.
- Quero dizer - continuou - qualquer música a não ser rap. Vai estragar o clima.
- Que clima? - brinquei, mas meu tom saiu sério. Por sorte, ele pareceu não ligar.
- Disso, agora. - ele apontou com a cabeça para o lago. Aproveitei para olhar a vista. Estávamos cercados de árvores, a única construção por perto era a casa do lado de Mia, o resto, só mato. À não ser, claro, bem longe, as sombras deformadas de umas construções um pouco acabadas.
O som do rádio me distraiu, encarei Justin. Dava para ouvir a música, um pouco "rachada", até que ela foi melhorando e ficando nítida. Não sabia que música era, mas a melodia era suave, e a voz, encantadora.
- Back Again - Justin falou - do Flor.
- O quê?
- A música. - ele sorriu.
- Ah.- foi tudo o que disse.
Ele posicionou o rádio com cuidado em cima da cesta, depois tirou o casaco, vez o mesmo com a camisa. Depois andou até o final da trilha que havíamos chegado. O encarei, minhas perguntas sobre suas cicatrizes cada vez mais nervosas por não saírem.
- O quê você tá fazendo? - o encarei em tom de divertimento. Sabia o que ele tava fazendo.
- Matando o calor, a vontade - ele deu de ombros - um pouco dos dois.
Logo depois, ele correu gritando em direção ao penhasco e pulou. Gritei e depois ri, correndo para a ponta do penhasco. O procurei, não achei. Um tempo depois, ele apareceu e olhou pra cima.
- Sua vez. - gritou, com os olhos cerrados por conta do Sol. Mesmo com o sol forte, o vento era frio.
- Você é louco. - gritei - Eu não vou pular de roupa.
- De roupa não. - ele sorriu. Enfatizando a palavra roupa.
- Justin! - gritei, boquiaberta mas se divertindo. Ele riu.
Fiquei o encarando enquanto ele subia, por uma espécie de "degrau natural" que se encontrava no penhasco, mas parecia mais uma daquelas escaladas em parques de diversões, só que dessa vez, sem nenhuma proteção.
Ele subiu e pegou uma maça do cesto, logo depois deu uma mordida e me encarou.
- Se você não pular, eu te empurro.
- Não! - gritei e corri pra longe do penhasco, ele riu e mordeu a maça outra vez.
Fiquei o encarando, depois de mais duas mordidas ele andou na minha direção.
- Justin! Não! - tentei correr mas ele já havia me pegado e colocado em seu ombro direito, me segurando com um dos braços. Gritei e dei leves tapas na sua coxa.
- Me coloca no chão! - comecei a rir enquanto ele andava em direção ao penhasco. Ele respondeu com um "hum hum" e continuou a andar. - Meu celular! - gritei ao lembrar.
Ele parou. Depois colocou a outra não livre no meu bolso e o tirou de lá. Jogando de modo que ele caiu em cima da toalha. Depois continuou a andar, até que senti ambos caindo, gritei em desespero até que senti o impacto da água, por sorte, não engoli muita.
Voltei à superfície e tossi duas vezes - mais por diversão, admito. Ele riu e colocou o cabelo molhado para trás, alguns fios rebeldes caindo sobre seu rosto. Nadei até a borda da escada natural, e a encarei.
- Com medo?
- Só se for de você tentar fazer alguma coisa.
- Você já ta molhada de qualquer jeito. - virei para encara-lo em tom de divertimento.
- Isso soou vulgar.
- Porque é. - ele sorriu, ri.
Subi a escada, com dificuldade. Era mais difícil do que pensava. Cheguei ao topo sentindo que havia ganhado uma batalha com um penhasco.
Tirei o fino casaco que estava usando e torci a regata. Fiz o mesmo com o cabelo. Quando virei, Justin já estava sentado na toalha, terminando a maça e encarando o lago. Sentei ao seu lado.
Passamos o começo da tarde - até umas três horas - assim, sentados, comendo, conversando besteiras, rindo, como velhos "amigos".
- Eu te declaro a um salto. - levantei e apontei para ele ele. Ele riu e levantou.
- Que tipo de salto?
- Não tinha pensado nisso na verdade... - continuei - De qualquer maneira, um salto.
Ele sorriu e concordou com a cabeça. Depois pegou impulso e pulou, dando uma cambalhota no ar. Fui logo atrás, com um salto normal. A água havia ficado mais gelada, mas já estava acostumada.
Ficamos pouco tempo na água, depois subimos, e pulamos de novo e de novo, três vezes no total. Até que eu cansei de subir e deitei na toalha. Agora tocava uma música agitada, meio blues. Também não conhecia.
Já estava no final da tarde, o Sol já estava se pondo, o vento foi ficando mais frio, comecei a tremer.
- Toma. - Justin estendeu seu casaco - provavelmente a única coisa que estava seca. Peguei e o coloquei em volta dos meus braços, mas mesmo assim, minhas pernas ainda estavam nuas e meus shorts, ensopado. Meus dentes bateram.
Ele estendeu a mão, a segurei para levantar. O encarei, nossos rostos estavam perto, perto demais, conseguia sentir sua respiração gelada sobre meu rosto, mesmo sua mão estando quente.
- É melhor a gente ir - ele falou, quebrando o silêncio e se afastando um pouco - antes que você tenha uma hipotermia. - seu tom apesar de ser de diversão, também tinha uma pitada de preocupação.
Back Again estava tocando de novo, ele não desligou, apenas pegou o rádio .
Ele colocou a blusa e pegou a cesta, e começou a andar em direção a trilha. Suspirei e andei atrás dele até que parei. Ele deu mais três passos e virou, me encarando. Sem falar nada.
Ele soltou a cesta e andou na minha direção, com passos longos e rápidos. Senti sua mão na minha bochecha e seus lábios se pressionando contra os meus. Soltei a mão que estava usando para segurar o casaco e retribui, colocando a mão nos seus cabelos. Ele me pressionou contra a árvore, senti uma dor aguda nas costas, mas logo passou. Seu braço livre desceu do meu rosto, até minha cintura.
O frio havia passado. Tudo o que sentia era o calor. O calor do seu corpo contra o meu, o calor possuindo todo o meu corpo, a pressão de nossos lábios cada vez maior, cada vez mais profunda. Mostrando o quanto ele precisava de mim, e eu... dele.

The Second ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora