33 | She's gone

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       Tudo acontece rápido demais. O aparelho ligado a minha mãe apita, sinalizando que o seu coração parou e dentro de instantes uma equipe médica entra na sala me obrigando a sair.
        Fico tão tensa que não consigo derramar uma lágrima. Sento na cadeira, ainda tentando absorver cada palavra dita. Maia surge pelo corredor, sua expressão cansada apesar de todas as horas de sono. Ela corre na minha direção e quando me dou conta, estou envolvida em seus braços.
       — O que ta acontecendo?
       Tento engolir o nó na minha garganta mas ela está fechada.
       — Ela se foi, Maia. — minha voz soa como um sussurro. — Ela se foi.
        Quando me dou conta do que realmente está acontecendo, desabo nos ombros de Maia.
      — Eu sinto muito. — ela me envolve com um dos braços e posiciona o outro de modo que sua mão fica sobre a minha cabeça — Sinto muito. —  ela repete as mesmas palavras sem parar, transparecendo o medo de dizer qualquer outra coisa.
       Ao longe, escuto os médicos conversarem entre sim.
       — Horário da morte? — um deles pergunta.
       — 6:38. — o outro responde.
       Não ouço mais nada, apenas desabo nos ombros de Maia, sentindo seu coração cada vez mais rápido. Ela se foi. Pra sempre. Ela nunca sentirá a emoção de me ver se formando na faculdade ou as lágrimas de quando eu me mudar, ou o meu pai dizendo que sente muito, sente muito por nunca ter perguntado como foi o seu dia ou simplesmente a abraçado sem motivo.
        A vida dele não seria a mesma. Muito menos a minha. Eu havia perdido meu porto seguro e talvez nunca mais o reencontrasse.

       Maia me levou até a recepção logo depois dos médicos confirmarem. Já havia parado de chorar e um soluço tomava conta de mim. Maia provavelmente já havia reclamado se não fosse tais circunstâncias.
        Dr. Duke, o médico que atendera minha mãe insistiu tanto para Maia me levar para casa que uma hora depois já estava deitada na cama ainda pensando nas últimas palavras da minha mãe. Tentando assimila-las ao momento atual. Sem sucesso. Tudo o que conseguia pensar era em seu físico. Como ela parecia cansada, frágil, e como eu não tinha me despedido. Fiquei tão concentrada em cada palavra que não me importei em dizer adeus.
       

       Sento na cama. Maia está deitada ao meu lado, sem falar uma palavra. Passamos o resto da tarde e o começo da noite assim.
       Ouço um barulho no andar debaixo e lembro que meu pai não estava em casa quando chegamos. Quando olho para Maia, ela ja esta me encarando. Provavelmente se perguntando o mesmo que eu: Ele sabe?
        Levanto e desço as escadas sem fazer barulho, paro no último degrau e meu pai me encara, surpreso.
        — Não sabia que você estava em casa.
        Não falo nada e nem preciso. Meus olhos se enchem de lágrimas e meu pai não se mexe.
       — Ela se foi, pai.
       Ele fica na mesma posição por um bom tempo, tentando absorver aquelas três palavras. Fico esperando ele falar alguma coisa mas tudo o que ele faz é sair da sala.
       

        — Cam — ouço os passos apressados de Maia atrás de mim — Você pode parar? Cam!
       Já estava na esquina da rua quando virei e encarei Maia.
       — Não. — ela para e me interrompe  — Não fala nada. Você passou os últimos três meses sofrendo e não quis ajuda de ninguém. Prometi que sempre vou estar aqui, e eu vou. Mas o ano está acabando e a maioria vai para a faculdade. E eu sei que o seu estágio só começa dentro de uns meses mas eu não posso te deixar continuar assim. — ela suspira — Eu te amo, Cam. Quero o melhor para você.
       A encaro por um tempo.
      — Não fala nada. — ela continua — Você vai a um lugar comigo.
     

       — O que estamos fazendo aqui? — olho pelo vidro embaçado enquanto Maia para na frente da casa de Justin.
     — Companhia.
      Ergo uma sobrancelha e saio do carro. Maia bate na porta e na terceira batida a porta se abre.
       — Oi, namorado. — ela sorri e joga os braços em torno do seu pescoço, ele a abraça e eu dou um passo para trás.
       Maia entra na casa e me puxa pelo braço, dou um sorriso rápido como comprimento.
      — Você me chamou pra ser vela ou algo do tipo? — sussurro.
      — Cala boca. — ela responde assim que ele entra na sala.
       Olho no celular para disfarçar. Logo depois algo me vem em mente.
      — Maia. — meu tom soa alto e os dois me encaram — Acabei de receber uma mensagem, vou ter que ir pra casa da minha tia em San Diego. Pode vir comigo?
      — Ah Cam. — ela pega uma maça e se joga no sofá  — Estou exausta. Justin pode ir no meu lugar?
      Arregalo os olhos em sua direção  mas ela está concentrada demais na maça.
      — Tudo bem por mim. — Justin exclama.
      Quero matá-lo.
      — Tudo bem pra você? — agora ela me encara.
      — É o seu namorado. Você tem certeza? — me sinto inútil por ter perguntado.
      — Tudo bem por mim. — ela dá de ombros e morde a maça — Não é como se vocês fossem se agarrar ou algo do tipo.
      A encaro e sinto Justin ri. Quero matá-lo mais do que nunca.
      — Estou brincando. — ela continua.
      Por um momento de esperança acho que ela se refere a Justin ir comigo.
      — Afinal, seria super perigoso nós duas na estrada agora a noite. É uma longa viagem. Então, finja que ele é o seu guarda-costas ou motorista. 
       Lá se vai a esperança. 
       Ela encara a maça depois volta o olhar para mim:
        — Ou apenas um amigo te fazendo um favor.
        Olho de relance para Justin.
       — Tudo bem. Apenas um amigo. — sussurro para mim mesmo. O encaro. — A gente pode ir?
      Ele sorri.
      Filho da mãe.
   

The Second ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora