40 | Back to normal

8 0 0
                                    

        Chego em casa e me jogo na cama. Foi um dia e tanto. Mas aqui estou, viva e nada louca – pelo menos eu acho.
        Apago as luzes e subo dois degraus quando a campainha toca. Franzo a testa e espero tocar de novo, só pode ser engano. Toca mais duas vezes e eu abro a porta. Fico surpresa quando vejo a mulher que me "salvou" mais cedo.
       — Oi. Você me seguiu? Eu vou te pagar, não se preocupe! — dou meia volta.
       — Não não, tudo bem! — para no meio do caminho e viro para ela — Preciso falar com você. Meu nome é Victoria.
       O que? Bem, talvez eu esteja louca.
      — Ok... — volto e encosto na porta
      — Eu sou... sua mãe.
      As palavras me atingem em todo lugar. Sinto minhas pernas bambearem, isso é uma piada. Rio.
      — Ian te mandou aqui, não foi? Aquele filho da... — tento fechar a porta mas a mulher segura.
      — Clary...
      — A próxima vez pede pra ele te ensinar a falar meu nome.
      — Desculpa, esse foi o nome que eu te dei. Por favor, me escuta, Camryn.
      Isso não está acontecendo. Estou ficando louca, é isso.  
      — Minha mãe morreu um mês atrás.
      — Sua mãe adotiva.
      — Para! — meu tom soa alto — Não consigo ouvir outra palavra! Por favor, saia daqui.
      — Precisamos conversar.
      — Não! Não precisamos! Eu não te conheço! Estou grata pelo que vez hoje mais cedo mas isso não significa que você é minha mãe. — tento fechar a porta e ela segura, de novo.
       — Posso te provar. — a encaro e mordo a bochecha direita interior. Ela mexa na bolsa e tira uma foto, esticando. A foto é uma garota jovem com um bebê no colo — Essa sou eu — ela aponta pra a jovem e depois para o bebê — e essa é você. Tenho certeza que seus pais nunca te mostraram uma foto assim.
       Nunca me mostraram, mas isso não significa que sou adotada!
       — Você não pode vir aqui, me mostrar uma foto assim, e me dizer que as únicas pessoas que eu amei a minha vida toda não são meus pais. — coloco a mão na testa e meu som aumenta novamente — Não te conheço e nem quero!
       — Eu entendo se você não quiser nada comigo, mas eu só queria que você soubesse a verdade, Camryn. Posso não ter sido presente na sua vida mas as condições que eu estava quando engravidei não eram as condições de criar uma criança. Eu era praticamente uma nômade, fazia trabalhos aqui e ali nos bares das estradas e comprava drogas. Quando descobri que estava grávida tive que fazer uma decisão, e escolhi as drogas.
       — Oh, obrigada! — exclamo — Estou bem melhor depois dessa.
      Dou um sorriso falso e fecho a porta.

Justin

      Acordo e não vejo Maia ao meu lado, me apoio e a vejo sentada na ponta da cama.
     — Você está bem?
     Ela provavelmente se assustou quando eu falei, porque vira rápido.
     — Não posso mais fazer isso. — sento na cama e a encaro — Eu gosto de você, mas eu não te amo. E isso não é justo, nem com você nem comigo, ou com a Camryn... Eu não odeio você ou ela. Eu fui uma idiota por fazer tudo isso. Eu pensei que te amava porque você foi o único cara que me tratou bem, e não como se eu fosse uma vadia de uma noite só. E isso me fez sentir uma coisa que eu nunca tinha sentido antes. Mas eu não te amo, Justin, eu amo o sentimento que você me da e isso não é algo que eu ou você mereça. Sinto muito. — ela da um sorriso meigo e rápido, dá meia volta na cama, parando ao meu lado e beijando minha testa. 
     Não falo nada, apenas a observo enquanto ela sai pela porta, e não consigo mais vê-la.
 

      Meu celular toca e eu acordo assustado. Sempre deixo essa merda no silencioso. Pego e vejo um número desconhecido, atendo sem muita vontade.
     — Quem é?
     — Senhor Bieber?
     Senhor? Sério?
     — O próprio.
     — Você é conhecido de Maia Gatina?
     — Sim, somos na... – dou uma pausa e fecho os olhos passando os dedos na testa — amigos.
     — Sinto informar que a senhorita Gatina sofreu um acidente de carro e não aguentou. Você foi o único número que achamos.
      Deixo o celular cair na cama. Isso é uma piada. Eu vou ligar para ela agora e ela vai me atender, ela vai me xingar por ter ligado tão tarde mas ela vai atender, sei que vai.
      — Senhor? — ouço a mulher falar e desligo. Disco o número de Maia com os dedos tremendo.
      Espero quatro, cinco, seis toques até que cai na caixa postal. Ligo mais doze vezes e nada. Ela deixou no silêncio. Claro que deixou. Levanto e coloco uma camiseta, meus olhos ardenso. Ela está bem, não se preocupa, idiota.
      Pego as chaves da moto e vou até sua casa. Toco a campainha, ela vai me matar. As luzes estão acessas. Nada. Toco de novo e de novo. Ouço alguém descendo as escadas, solto a respiração. É ela.
      A porta abre e o pai de mais pula no meu pescoço.
      — Você matou ela!

   

Camryn

       Acordo cedo pelo terceiro dia seguido e vou correr pelos quarteirões vizinhos. Paro na frente da casa de uma antiga amiga da minha mãe... quero dizer... não sei mais.
      Balanço a cabeça e continuo correndo. Arrumo os fones de ouvido e coloco To the Wonder para tocar. Estou morrendo de sede. Corro até o Squeels, bebo um copo de água e peço uma vitamina de maracujá.  Sento em uma das mesas externas até que vejo Victoria sentar de costas à duas mesas de mim. Levanto e vou até ela, sentando na cadeira ao seu lado.
     — Se você acha que pode construir um buraco e depois de 17 anos achar que ele vai estar fechado, você está errada.
     — Seus pais não me deixavam te ver. Mas estou diferente agora.
     — Você só voltou para fazer as pazes com você mesma.  Não vamos ter uma relação de mamãe e filinha. 
     — Eu sei que tomei decisões erradas, e essas decisões sempre vão ser minhas. Não posso mudar isso. Mas como eu disse, estou diferente agora e não vou ser capaz de te mostrar se você não deixar. Não tenho ideia do quanto você passou...
     — Não tem mesmo.
     — ...e não quero saber se você não quiser me contar. Mas se quiser, estou aqui. Costumava a te ver quando era pequena, você gostava de brincar no parque e quando ficou mais velha, começou a gostar de ficar sozinha de baixo da ponte perto da casa dos seus avós. Não sozinha, mas com uma garota um pouco mais velha que você.
     Mia.
    Minha vitamina chega e eu levanto, indo embora.

Justin
   
       Acordo sem fôlego e pego o celular, ligo pra Camryn.
       — Oi, estranho.  
       — Hey, você falou com a Maia?
       — Quer que eu morra?
       — Bem, ela está... morta.  
       Ela fica em silêncio por um instante e depois ri.  
       — Só porque ela não quer mais ver o meu rosto ou o seu, não quer dizer que ela está morta.
       — Eu... eu recebi uma ligação no meio da noite. Uma mulher perguntando se eu a conhecia e eu disse sim, então ela disse que Maia havia sofrido um acidente e havia falecido. Fui até a casa dela e o pai dela... me atacou.
       — Fala devagar! Estou chegando em casa, me encontra lá.  
       — Ok.
       Pulo da cama e troco de roupa rápido, pego a moto e chego na casa de Camryn em menos de dez minutos. Ela abre a porta, está com roupa de ginástica.
       — Não entendi nada que você disse. — ela me encara.
       — Maia está... morta, Camryn. Sinto muito.
       Seus olhos se enchem de lágrimas. A campainha toca. Camryn passa as mãos nos olhos e abre. É Maia. Camryn vira a cabeça mais rápido que um guepardo avistando sua presa e me encara.
       — Eu vou te matar. — ela exclama.

Camryn

       — Meu Deus, Justin!  — ela continua.
       — O que está acontecendo? — Maia franze a testa.
       — Ele disse que você estava morta.
       Ela abre a boca e vai até ela.
       — Estou morta? É o que você acha? Só porque terminamos, você é um...
       Rio.
      — Isso está interessante.
      — Eu pensei que você estava morta, quero dizer... morta morta. Literalmente. — ele exclama.
      Maia vira pra mim.
      — Essa frase é tão confusa quanto eu acho?
      Meneio a cabeça tentando não rir.
      — Eu fui pra sua casa às 5 horas, toquei a campainha, seu pai pulou em mim...
      — Meu pai não estava em casa. — Maia ergue uma sobrancelha.
      — Um sonho... — exclamo.
      — Deus, eu vou te matar! — Maia bate no peito dele.
      — Duas! — exclamo — O que está fazendo aqui, afinal?
      — Ele não te contou?
      — Que você está morta? — franzo a testa.
      — Não, Cam!
      — Isso é uma confusão. Vou embora. — Justin exclama e sai pela porta.
      — Fui uma idiota. — Maia começa e seus olhos se enchem de lágrimas — Eu te amo, Cam. — ela sorri e exclama, jogando a cabeça um pouco pra trás — Deus! Nunca mais me deixe fazer uma besteira dessa!
      Sorrio e a abraço.
      — Não vou! Prometo! — sorrio e ela me aperta mais forte. Senti falta disso.

  
     
     

The Second ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora