31 | Day after day

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         — Acorda, macaquinha. — abro um olho e fecho em seguida.
         — Você acabou de me chamar de macaquinha?
         — Sim. — Maia vira a cabeça pensativa — Eu acho.
         — Como anda seu namorado?
         Ela me encara confusa.
        — Oh — ela desvia o olhar. — Ele não é meu namorado...
        — Sinto que tem um por quê.
        — Porque eu preciso ter certeza que... você sabe...
       — Maia Gatina — levanto e me apoio sobre os cotovelos a encarando — Você está me pedindo permissão?
       Faço uma expressão divertida e ela deita a cabeça de lado.
        — Tudo bem. — sorrio.
       Ela me abraça e eu gemo.
       — Desculpa. — ela faz careta. — Como ta a sua mãe?
      — Melhor que as minhas costas. — ela ri. 
      — Três dias numa cadeira não é pra pouco. Você devia pegar leve.
     — É a minha mãe, Maia.
     — Eu sei, eu sei. Não to falando pra você parar de dormir lá ou parar de visita-lá. Só estou dizendo que se você continuar assim, é você quem vai estar na próxima maca. — a encaro — E eu não pretendo dormir naquela cadeira tão cedo.
      Rio. Ela levanta e bate na minha perna.
      — Levanta, macaquinha. Temos uma mãe pra visitar.
    

      Chegamos no hospital por cerca das nove horas, está mais vazio do que o normal.
       — Desculpa, mas o horário de visita hoje começa às 10.
       — Ela é família! — Maia exclama indignada.
       — Desculpa, senhora.
       Maia abre a boca e vejo que o que vai sair não vai ser agradável.
       — Maia. — a puxo pro lado — Tudo bem. A gente pode esperar.
       — Por quê você é tão calma?
       — Por quê você é tão impaciente?
       Ela revira os olhos e eu rio. Cinco minutos pois ela começa a balançar a perna impaciente.
      — Você ta me deixando louca.
      — É um tique.
      — Você é um tique, Gatina. — a encaro — Minha mãe ta em coma e é você que precisa de ajuda. 
      — Desculpa. — ela para e me encara.
     Olho pelo corredor enquanto o elevador abre, duas figuras saem dele, um garoto moreno com mais ou menos 15 anos, e a outra, conheço muito bem.
      — O que ele ta fazendo aqui? — Maia vira e o encara.
      — Eu liguei pra ele, se não tiver problema... — a encaro por um tempo.
      — Tudo bem. —  dou um sorriso fraco e levanto quando ele se aproxima. 
       — Ei. — ele para com as mãos no bolso e Maia pula em seus braços, dou um passo pra trás. Ela o solta e para ao seu lado.
       — Camryn. — ele me encara e eu o comprimento com a cabeça. Olho para Maia.
       — Eu vou lá em cima um pouco.
       — Ok. — ela sorri e eu retribuo.

      Apoio no muro e respiro fundo. A vista de cima do hospital é parecida com a do prédio abandonado, porém com mais prédios e a praia não é tão perto.
       A porta abre e eu viro.
      — Ei. — Justin para e coloca as mãos no bolso.
      — Ei.
      — Você ta bem? — viro a cabeça e rio.
      — Você não pode simplesmente vir aqui e me perguntar uma coisa dessa.
      — Camryn...
      — Quando foi a última vez que a gente teve uma conversa sobre algo real?
      — Aonde você quer chegar com isso? — o encaro e minha expressão responde por mim — Eu fiz de tudo pela gente, você sabe disso. Um dia você estava me beijando e no outro me queimando. O que você queria que eu fizesse?
      — Depois de todas as coisas que "nós" passamos, onde a minha cabeça e o meu coração estavam, eu não iria simplesmente dormir com qualquer uma. Quero dizer, minha melhor amiga.
      — Então é isso? "Nós" não somos amigos? Eu pensei que você precisasse de um.
      — É, eu precisava, mas você não se encaixa mais. Porque um verdadeiro amigo saberia de toda a merda que venho passado ultimamente.
      — Como o quê?
      — Vai embora, por favor.
      — Não sou como você.
      Como você.
     Ando em direção a porta mas ele segura meu braço, me forçando a encara-lo.
    — O que quer que você pense, se eu sou ou não o bom cara, se eu presto ou não, eu me importo com você.
    Puxo o braço e empurro a porta com tudo, desço as escadas e dou de cara com Maia subindo.
     — Cam.
     — Ei. — sorrio.
     — Touxe café. — ela ergue uma das mãos e eu pego o copo.
     — Obrigada. — sorrio de novo.
     — Ta tudo bem? — ela levanta a sobrancelha, a encaro confusa — Você tá fazendo aquele coisa de sorrir toda hora.
     — Só preocupada com a minha mãe. — pressiono os lábios. — Vou dar uma olhada lá embaixo.
      — Vai ficar tudo bem. — ela da um sorriso fraco e sobe mais um degrau, beijando minha bochecha em seguida. Retribuo o sorriso e desço.

     Paro na recepção e tomo um gole do café, viro e vejo uma garota andando na minha direção que conheço de cara.
     — Mia.
     — Cam. — ela sorri e seus olhos se enchem de lágrimas, a abraço.
     — O que você ta fazendo aqui?
     — Eu ouvi sobre a sua mãe, eu sinto muito.
     — Ela vai ficar bem. — sorrio.
     — O que aconteceu com a gente, Cam?
     — Você fugiu. — rio de leve.
     — Eu senti sua falta. — dou um sorriso fraco.
     Ando até uma das cadeiras e sento, Mia faz o mesmo. Olho no relógio, 9:55, mais cinco minutos. Olho pra Mia.
      — Você ta bem? Você parece tensa. — ela vira pra me encarar. 
      — Sim, tudo bem. — ela sorri.
      — Mia, a gente pode não passar tanto tempo juntas mais, mas eu te conheço.
      — Eu fui aceita na Universidade de Verona.
      — O que? — arregalo os olhos e sorrio — Isso é ótimo! Por que não ta feliz?
      — Eu estou. Mas eu vou me mudar, Cam — ela me encara por um tempo — para a Italia.
       A encaro por um tempo, processando. Não tenho passado muito tempo com Mia nos últimos dois meses mas isso não significa que eu quero que ela se mude para o outro lado do mundo.
      — Fala alguma coisa.
      — Eu vou sentir sua falta.
      — Eu também. — ela sorri. — Mas a gente ainda pode se falar e passar as férias juntas.
      Concordo com a cabeça e a abraço.
      — Camryn Davis. — viro para a recepcionista que faz um sinal com a cabeça, vou até ela.
     — Sim?
     — Você pode subir agora. — ela me passa um adesivo escrito visitante, colo no canto da blusa.
     — Obrigada. — sorrio e espero Mia pegar o seu.
     Subimos até o 12ª andar, eles vivem trocando minha mãe de quarto. Ando pelo corredor até achar o quarto 1224, fico impaciente quando ando metade do corredor e não acho, vou até o último quarto, olho para a porta. 1224. Abro devagar e dou de cara com o meu pai dormindo na cadeira com uma jaqueta preta por cima, vou até ele.
      — Ei. — ele abre os olhos e senta. — Tudo bem, sou eu, pai.
      — Ei. — ele sorri e olha para a porta surpreso. — Mia.
      — Oi. — ela sorri.
      Ele pega a jaqueta e bota de lado, viro e ando até a maca. 
      — Vou pegar um café. — concordo com a cabeça e meu pai sai do quarto.
      — Vou te dar um momento. — Mia sorri e sai do quarto.
      Puxo uma cadeira e sento ao lado da maca, meus olhos se enchem de lágrimas de modo que a minha visão fica embasada. A encaro, ela parece tão frágil. Passo uma das mãos nos seus cabelos e depois pego sua mão.
      — Ei, mãe. Sou eu, sua garotinha. — engulo o choro e dou um sorriso fraco — Faz um tempo que você não me chama assim. Você está com a aparência ótima, na verdade. Seu cabelo está forte, sua pele está ótima. — dou uma pausa — O papai está bem, ainda abalado mas bem, ele é uma pedra dura. — rio de leve e fecho os olhos, uma lágrima cai — Me desculpa. Eu só queria falar que eu te amo e que a gente precisa de você. Eu preciso que você. Mas tudo bem, eu vou entender se você não acordar, aqui fora ta uma bagunça. — levanto e beijo sua testa — Eu te amo.
       Saio do quarto e encontro meu pai e Mia sentados, eles levantam quando me vêm. Vou até meu pai e ele me abraça, choro em seu ombro.
        — Vai ficar tudo bem.
        — Ei. — Maia aparece ao meu lado, sua expressão está séria.
         Mia entra no quarto e depois de uns cinco minutos sai com lágrimas nos olhos.
       — Eu vou ter que ir. Mas eu volto. — ela me abraça. — Te amo. — ela vira para o meu pai e Maia e sorri. — Tchau.
      

       — Você já parou para pensar que o Natal é hoje? — Maia está enrolando o mesmo fio a um bom tempo, ela solta e me encara.
       — Sim, mas eu não to me importando muito com isso. Não acho que deveria.
       — Acho que devia. Sua mãe não ia querer que você ficasse presa aqui.
       — Ela não ta aqui pra falar, certo? — me sinto culpada — Desculpa.
       — Tudo bem. — ela volta a enrolar o cabelo — Se você não sair, eu também não vou.
       — Maia...
       — Cala a boca. — ela estende o braço sobre a mesa e coloca sua mão sobre a minha  — Estou com você nessa.
       Seguro um obrigada e dou um sorriso no lugar.

The Second ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora