Vazio

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Eu estava em baixo d'água. Sentada no fundo da piscina. Acho que estava chorando. Não tinha como saber, estava tudo molhado. Eu choro demais... Senti o ar faltar em meu peito e dei impulso para cima. O oxigénio invadiu meus pulmões dolorosamente.

Abri o olhos. Ninguém ao redor. Respirei fundo mais uma vez. Então um barulho me assustou. Virei-me rapidamente para ver de onde vinha o som, ou melhor, de quem, pois sabia que duas pessoas haviam acabado de pular na água. Na beira da piscina, do outro lado, Beth acenou para mim sorridente e baixou os olhos para vez suas amigas emergindo.

Elas sorriram uma para as outras e a loira pulou na água. Emergiu e indicou para as outras duas a minha posição. Elas nadaram até mim.

- Chegou cedo, capitã! - Disse a loira. - Você é muito dedicada.

- Sou? - Eu sorri tristonha.

- Beth, não acho que ela esteja aqui para se preparar... - Disse Lila.

- Foram seus amigos, não é mesmo? Magoaram você! - Perguntou Amanda. Concordei com a cabeça. - Não gosto de dizer isso, querida, mas eu avisei.

- Amanda! - Lila repreendeu. - Nós seremos sua amigas. A partir de agora você vai andar conosco.

Senti mais uma vez minha cabeça rodar. Mal pude ouvir as palavras da garota. Agarrei-me a borda da piscina buscando alguma referência da minha posição geográfica. Minha cabeça doeu.

- Você está bem, Nina? - Beth perguntou.

- Estou... - Apertei os olhos e me senti fraquejar. - Estou tonta.

Senti alguém agarrar em meu braços e logo meu corpo estava fora d'agua. A fraqueza abandonou-me instantaneamente assim como a tontura.

- Melhor agora? - Perguntou Beth.

- Estou. Nossa! Já é a segunda vez que isso acontece! - Disse, olhando para Lila.

- É todo o desgaste que você tem passado! Todas as decepções e traições. Eles estão te deixando doente. - Disse Amanda.

- Uma pessoa tão boa como você! - Murmurou Beth, acariciando meus cabelos molhados.

As três me fizeram companhia pelo resto do treino. E, nos dias que se seguiram, passaram a me seguir pela escola, evitando que eu ficasse só ou que fosse perturbada por qualaquer um dos meus "amigos".

Esses por sua vez nem pareceram notar. Era fácil evita-los em casa. Com exceção dos gêmeos, que corriam a cidade procurando encrenca, todos pareciam satisfeitos em ter uma vida absolutamente normal.

Certo dia as meninas me perguntaram sobre Johnny e Brenda. Tínhamos sobrenomes diferentes, então elas não entendiam como morávamos juntos. Contei sobre como Brenda resolveu se mudar conosco. Não falei sobre sermos lobisomens, é claro. Disse que ela teve problemas e eu a ajudei, que seu pai era muito autoritário e que não éramos muito amigas.

Então Amanda me fez perceber que não fazia sentido algum ela ter vindo comigo por estar agradecida. Ela estava querendo se livrar do pai e precisava de alguém para sustenta-la. Era óbvio. Fazia quase um mês que estávamos na cidade e ela ainda dizia estar procurando emprego. Falsa.

Quanto a Johnny não tinha o que dizer. Sempre preferiria a prima. Apesar de todas as divergências eram parentes, haviam crescido juntos. Eram quase irmãos.

E falando em irmãos havia Noah. E seus desaparecimentos repentinos e frequentes dos quais voltava com marcas de mordida e arranhões. Só tinha olhos para Lydia. Olhos, ouvidos, mãos e boca. Nem seu olfato era capaz de perceber qualquer coisa que não fosse a ruiva. Um idiota apaixonado.

- Ele faz isso com você sempre que arruma uma namorada? - Perguntou Amanda. - Te abandona?

Pensei bastante nessa pergunta, mas não respondi. Ele estava com Sarah Jones num dos momentos mais importantes e difíceis da minha vida. Viu que estava me envolvendo em uma briga e ao invés de me defender, correu atrás da namorada. Mas a verdade é que ele não precisa de uma namorada pra me abandonar.

Eu comecei a pensar se o problema não era eu. Afinal se todos me viravam as costas, devia ter algo errado comigo.

- Nina! Deixe de bobagens! - Pediu Beth. - Você é uma garota maravilhosa. Você faz tudo por seus amigos. Você ajudou Johnny quando ele precisou, ajudou Brenda mesmo ela tendo te tratado tão mal...

- Eu não sei... Parece que eu fiz algo errado! - Suspirei.

- Não é que você tenha feito algo errado. É que não importa o que você faça, eles nunca vão te dar o devido valor! - A loira tinha um tom de voz angelical.

Ela provavelmente estava certa. Pelo menos eu não sabia onde havia errado...

"True Alpha" - Just a Fairy Tale.Onde histórias criam vida. Descubra agora