Capítulo 6

688 33 9
                                    

Continuo a dirigir-me para a minha cama enquanto sinto os olhos dele focados em mim. 


"Não tens nenhuma aula agora?" Questiono-o para quebrar o gelo.

"Não vou frequentemente a nenhuma." Oh, claro, como é que não pensei logo nisso.. "Tu tens?"

"Sim, Literatura Clássica Russa."

"Tolstói?" 

"Sim, Anna Karenina." Esboço um sorriso meio escondido.

"A mulher que não se contentava com nada."

"Ela queria amor." Refuto a sua opinião.

"Ela queria atenção..." Revira-me os olhos.

"Não é o que queremos todos?" 

"Não." Arrogante frio está de volta.

"Como quiseres..." 

"Não vás à aula. Aposto que já conheces o romance de trás para a frente."

"Porquê?"

"Vem comigo."

"Então de repente já somos amigos que passamos tempo juntos?" Pergunto num tom irónico enquanto franzo a minha sobrancelha direita.

Ele esboça um sorriso com um toque de sarcasmo e aproxima-se de mim.

"Sei que queres fazer-me perguntas."

"Quero?" Quero.

"Queres. Por exemplo o que é que aconteceu para ter sido esfaqueado, porque é que passei a noite contigo sem te saltar em cima, porque é que ainda aqui estou." Quero, quero mesmo muito.

"O que é que tu retiras desse nosso tempo juntos?"

"Logo vemos." Ele lança-me um olhar suspeito e ao mesmo tempo tão familiar.


Depois de me debater comigo própria quanto a faltar ou não à aula para ir passar tempo com ele em vez de estar com o Richard, que parece ser muito melhor companhia, decido arriscar e sair da minha zona de conforto. Afinal tenho as questões que ele referiu e muito mais. Ele intriga-me, tal como o Conde Vronsky intrigava Anna Karenina. É um livro recheado de mistérios mesmo à minha frente, que eu posso talvez começar a folhear.

Nate leva-me até fora dos dormitórios e pede-me para entrar no seu carro, dirigindo-se para fora da universidade. Desde que aqui cheguei nunca tinha ido conhecer Toronto propriamente, não tive tempo ainda, nem tempo para respirar tive. Entre as aulas, o estudo, o Nate a bater-me à porta e o passeio com o Matt, tempo para mim é algo que não tenho. 

Entre os placares com as direções de vejo durante a viagem de carro, consigo perceber que estamos a dirigir-nos para uma área perto da zona do coração da cidade. Quando finalmente ele estaciona o carro consigo ver uma multidão agrupada mesmo à minha frente. Em vez de o questionar decido sair do carro e ir ver por mim própria. É uma pista de gelo. Não me lembro da última vez que vi uma, e muito menos da última vez que estive numa. Quando me viro para trás vejo o Nate a alugar patins à mulher que se encontra dentro da casinha móvel e a vir em minha direção. Ele sorri-me e entrega-me um dos pares de patins que tem nas mãos. 

Quando alcanço a pista consigo entender que não me lembro como se patina e tenho que me agarrar às bordas que limitam a pista. Enquanto pareço uma criança a tentar não cair o Nate está confortavelmente a patinar de costas enquanto se ri da minha desgraça. Aquele desgraçado!


"Então Anna Karenina, não consegues patinar?"

"Não fazia parte dos desportos principais do sítio de onde vim."

MadnessOnde histórias criam vida. Descubra agora