Capítulo 46

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  Hoje regressei às aulas na faculdade, andei por todos os corredores tentando-me afastar do meu guarda-costas, mas sem nunca conseguir despistá-lo.  

"Estou bem, não precisa de ficar à minha espera à porta durante o decurso da aula."

"Regras do seu pai, Menina." Ele respondeu-me, automatizado para aquela resposta. 

Acenei com a cabeça e limitei-me a entrar, aquela era uma batalha que não valia a pena lutar. 


Durante toda a duração da aula sentia-me observada pelos outros alunos, como se eles soubessem que eu andava com uma guarda-costas atrás. A paranóia estava finalmente a mostrar-se e eu sentia-me nua à frente de todas aquelas pessoas.

"Sabes, eles são como as baratas, têm mais medo de ti do que tu deles." A voz do Richard preenche-me os ouvidos e sinto paz interior. Esboço-lhe um sorriso de agradecimento.


Quando abandono a aula o Nathan está encostado à parede oposta da porta, e o guarda-costas aproximadamente a 5 metros. 

"Aula divertida?" 

Reviro os olhos e continuo a andar para a saída do edifício. 

"Não me podes evitar para sempre."

"Não, mas posso tentar."

"Então não vamos falar sobre o que aconteceu?"

"Não há nada para conversar ou que te diga respeito."

"Tu dizes-me respeito, já se passaram imensos meses e eu continuou à espera de uma explicação."

"Bem, talvez nunca a terás, e eu não te pedi para ficares, não preciso de mais vigilância, estou segura, como podes ter notado não há sitio para eu fugir."

"Não é propriamente verdade, podes sempre fugir comigo. E não era preciso pedires para eu ficar, só agradecia uma explicação para a súbita necessidade de guarda-costas, câmaras de vigilância, equipa de segurança privada, entre outras coisas à FBI."

"Não te diz respeito Nathan, e agradecia que não pressionasses por respostas que não vais ter."

"Ouve Anna, eu sei que as coisas entre nós estão complicadas, isso não significa que te deixei de amar ou querer te proteger."

"Nós não resultamos Nate, já vimos o que deu a nossa relação, a única coisa que alcançamos foi magoarmos-nos um ao outro."

O Nathan continua a andar ao meu lado, mas vejo que se esforça para manter o ritmo, desde o seu acidente de carro que ele teve que fazer fisioterapia pois lesionou-se gravemente numa das pernas e ainda coxeia. Ele acaba por fraquejar na perna afetada indo cair em direção ao chão, eu noto e agarro-lhe um braço para o equilibrar, mesmo sabendo que vamos cair os dois, e assim foi. 

"Se soubesse que para chamar a tua atenção e ver se te preocupavas comigo era só preciso cair, já o teria feito antes." Um sorriso irritante aparece nos seus lábios, como se tivesse conquistado uma pequena vitória. 

"Não era preciso caíres para saberes que me continuo a preocupar contigo, isso não muda o que aconteceu entre nós Nathan, tu sabes disso." Ajudou-o a levantar-se e continuou caminho para o meu dormitório. 


Quando cheguei ao dormitório comecei por fazer os trabalhos designados e estudar matérias que tinha em atraso. O meu telemóvel apitou e eu fui verificar.

"Tem uma carta Menina." Era do guarda-costas, tinha de lhe perguntar o nome. 

Levantei-me e saí do quarto. 

"Obrigada.. Hmm?"

"Larry, Menina." Ele respondeu-me.

"Obrigada Larry."


Fui até ao porteiro e levantei a carta que tinha. O envelope era de papel amarelado com relevo e tinha o meu nome escrito em caligrafia. Abri e era apenas uma folha branca e no centro, no mesmo tipo de letra, estava escrito: "Anna Banana, podes esconder-te mas não podes fugir. Encontrei-te, cucu." 


O meu coração saltou uma batida e comecei a hiperventilar. Quando me consegui controlar fui até ao Larry muito calmamente e vi que o Cameron estava a trocar de turno com ele. Dirige-me aos dois e entreguei a carta ao Cameron. 

"O teu trabalho é péssimo." Ele observou a folha e as suas sobrancelhas juntaram-se, ele tinha ficado em choque, engoliu em seco e cerro o maxilar. 

"Leva-me isto à equipa de análise Larry, a Menina Gray foi contatada pelo perseguidor."


Dirigi-me para o quarto outra vez e liguei o computador para ver algo, qualquer coisa que me distraisse da carta. Ele estava aqui, ele tinha-me encontrado. Mudei de cidades imensas vezes antes de vir para Toronto, para tentar fugir, despistá-lo, mas não resultou, ele tinha encontrado o meu rasto. Pensava que tinha sido cuidadosa, afastei-me das redes sociais, mudei de número, mudei tudo mas mesmo assim não foi o suficiente. Estava aterrorizada com a ideia de ser encontrada por ele, estava aterrorizada por ele. 

"Anna?" O Cameron bateu à porta e entrou, ele tinha uma chave tal como o Larry, adeus privacidade. 

"Podia estar nua, normalmente bate-se e espera-se que a pessoa responda."

"Podias estar desmaiada ou a fazer algo perigoso, nunca se sabe."

"Sim, eu tenho muitas opções de perigo neste mini dormitório." Bufei. 

"Ouve, eu sei que estás assustada-"

"Não estou assustada."

"Okay... não estás assustada mas tens direito a estar, estás a ser perseguida, é aterrador pensar que alguém está-nos a observar e nós não sabemos de onde e como e quando. Eu sei que sabes quem é, o teu pai também, mas é difícil proteger-te de alguém que eu não sei quem é."

"Não te vou contar quem é Cameron, presume que seja toda a gente."

"Até o Nathan?" Ele arquejou a sobrancelha. 

"Por mim." Revirei os olhos. "Gostava de estar sozinha durante uns minutos."

"Está bem, estarei por perto."

Ele fechou a porta e saiu, quando finalmente me encontrei sozinha pude, finalmente, desmoronar-me em lágrimas até adormecer. 


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