Com a saída da Rebecca do quarto acabo por ficar sozinha, altura ideal para meter o meu estudo em dia.
Depois de ler e reler os meus apontamentos de literatura clássica russa apercebo-me que não tenho notícias do Nathan há imenso tempo. Provavelmente deve estar no hospital com a Nicole. Uma vibração vinda da minha cama desanuvia-me os maus pensamentos.
"Hey Anna, que andas a fazer?"
"Olá stalker Cameron, a preparar-me para ir trabalhar." Sorrio enquanto digito as palavras.
"Stalker?! Sou apenas uma pessoa honestamente preocupada com o teu bem estar. Não sabia que trabalhavas, onde é que é?" Este rapaz é um cusco.
"Numa livraria perto do café a que fomos."
"Hum está bem baby girl, espero que tenhas um bom dia de trabalho ;)" Baby girl?! Por muito que goste do termo carinhoso apenas gosto quando vem do Nathan, que por acaso nem me mandou mensagem hoje..
"Não sejas parva Anna, não têm que falar a toda a hora." O meu subconsciente, uma vez na vida, chama-me para a razão.
Acabo de me arranjar e pego numa mala com o meu telemóvel, auscultadores, tablet, carteira e a minha agenda. Sou uma freak com a organização por isso tenho que andar sempre com a minha agenda para todo o lado. E sim, eu sei que podia simplesmente usar o telemóvel ou o tablet mas eu gosto mais de sentir o papel, poder escrever com tinta preta numa página e nunca precisar de wi-fi ou bateria para puder ir verificar as minhas tarefas. Eu disse que era estranha.
Ando uns 10 minutos a pé pelo campus e finalmente chego à livraria, mesmo a horas para começar o meu turno. Cumprimento o senhor responsável, e meu patrão, e ele ensina-me a fazer as coisas básicas à maneira que ele gosta. Pelo menos agora sei que não sou a única freak quando se trata de organização. O meu patrão avisa-me que se vai embora e que a rapariga da noite vem cinco minutos antes do meu turno acabar, sendo que é ela que fecha a livraria.
Estava descontraída a ler uma passagem de um livro que me tinha caído no pé, quando entra uma cara familiar.
"Sempre enfiada em livros?" Oh não..
"Sempre a perseguir-me?" Franzo a sobrancelha.
"Vá lá baby girl, vim-te só fazer companhia."
"Não me chames isso Cameron..."
"Porquê? O teu pseudo-sem-rótulos-namorado não gosta?"
"Eu não gosto." Respondo arrogantemente.
"Pronto não fiques assim princesa. Então há quanto tempo estás aqui?"
"Comecei hoje." Afirmo friamente. Este chato nunca mais se vai embora..
"Então basicamente hoje foi o melhor dia da tua vida?" Eu franzo a testa. "Conheceste-me e começaste a trabalhar no sítio indicado para ti, uma livraria." Ele esclarece-me.
Eu reviro os olhos enquanto mando discretamente uma mensagem ao Nate.
"Salva-me." Eu clico no botão de enviar enquanto o Cameron continua a observar a livraria e a pôr-me questões.
"Que se passa baby girl? Onde estás?" O Nathan responde-me.
"Na livraria "Old Stories" no campus." Respondo-lhe e meto o telemóvel no meu bolso de trás das calças.
O Cameron continua-me a rondar de perguntas e eu em vez de responder viro o jogo começando a ser eu a fazer perguntas e ele a responder. Trinta minutos depois a porta abre-se e ouve-se o barulho do sininho acima da porta que dá sinal sempre que alguém entra ou sai. Finalmente, Nathan.
O Nathan aproxima-se de mim e do Cameron com um ar de confuso.
"Hey baby girl." Ele dá-me um beijo na lateral da minha cabeça. "Quem é este?"
"Cameron." Ele adianta-se. "Sou amigo da Anna, temos aula de literatura inglesa juntos. Presumo que sejas o pseudo-namorado." O Cameron tem um olhar de troça e um sorriso esboçado.
Eu não acredito que ele acabou de dizer aquilo... Eu definitivamente odeio-o.
"Adeus Cameron." O Nathan avisa-o para se ir embora. Sinto-me como se fosse um tapete e eles tivessem a marcar território ao urinar para lá.
"Depois mando-te mensagem babe." O Cameron sorri e vai-se embora da livraria e eu apenas fico em choque.
"Quem raio é aquele atrasado?!" O Nathan passa-se comigo.
"É da minha aula de literatura inglesa, meio que me deu stalk o dia inteiro."
"Porque é que ele estava aqui? Porque é que tu estás aqui?" O Nathan ainda não sabe que eu trabalho aqui.
"Trabalho aqui no turno da tarde, inscrevi-me hoje e fiquei com a vaga. O Cameron apareceu aqui depois."
O Nathan apenas observa a minha face enquanto eu lhe conto a notícia, não reage, mas eu consigo ver uma ponta de ciúme na sua expressão. Continuamos em silêncio enquanto eu organizo os livros. Ele observa-me atentamente até que se vai embora de repente sem me dizer nada. Eu fico apenas a olhar para a porta mas ele não vai voltar. O que é que se passou agora?!
Após uma hora ao Nathan se ter ido embora, a rapariga que vai fazer o turno da noite aparece antes das 20h, a hora que eu saio. Eu informo-a sobre o que já fiz e o que tinha ficado para fazer e ela começar a trabalhar. Quando chega às 20h eu aviso-a que me vou embora e despeço-me.
...
Passaram-se três horas desde que o Nathan desapareceu da livraria. Já lhe mandei umas duas mensagens e ele não respondeu a nenhuma. O telemóvel vibra e quando vou ver é uma mensagem da Rebecca.
"Vai ao apartamento do Nate, o William disse que ele estava bêbado." Eu não acredito no que estou a ler.
Chamo um táxi e vou o mais rapidamente para o apartamento do Nathan. Puxo o elevador e vou directamente para a porta. Bato com força. Quando olho para o Nate observo que à volta dos seus olhos azuis cor-de-mar, esta uma vermelhidão familiar.
"O que é que estás aqui a fazer Anna?" Pergunta-me com arrogância, tal como nos "velhos" tempos.
Eu empurro-o para trás e entro no apartamento enquanto o Nate fecha a porta. Há várias garrafas de vodka pelo apartamento, conto pelo menos três no chão ainda com bebida lá dentro.
"O que é que se passa Nathan?" Eu viro a cara para o observar nos olhos.
"Estou-me a divertir não vês?! Daqui a pouco deve estar a chegar uma "amiga" minha talvez seja melhor ires andando." Uma pontada de dor trespassa-me o coração. Sinto lágrimas a formarem-se nos meus olhos mas não vou dar a parte fraca.
"Então é assim? " Eu pergunto-lhe com arrogância.
"Se não fosses tão slut talvez teria sido de outra forma."
Dou-lhe uma chapada e deixo a minha mão marcada no seu rosto. Nesse exacto momento a campainha toca. O Nathan vai abrir e está lá outra rapariga. Eu olho-lhe nos olhos e saio do apartamento indo a correr para as escadas até finalmente sair do edifício. Apanho outro táxi e vou directamente para o meu dormitório. Quando chego agradeço a Deus pela Rebecca não estar lá, assim não tenho de dar explicações a ninguém. Mal fecho a porta encosto-me a ela e escorrego com as minhas costas até ao chão. Escondo a minha cara nas minhas mãos e começo a chorar. Nem todas as lágrimas derramas por mim naquele momento eram capazes de aliviar a dor que tinha no peito.
...
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Madness
Novela JuvenilQuando Anna chega a Toronto, com o objectivo de começar uma vida nova, depara-se com Nathaniel, um rapaz desprezível e sombrio, que logo ganha interesse em Anna e no seu desprezo ao toque humano, encurralando-a com perguntas e tentando desvendar as...