Traço um percurso desde o dormitório do Cameron até ao meu e percorro-o em total silêncio, com os meus saltos altos da mão e o meu vestido e a minha bolsa pendurados no outro braço. Claro que alguns estudantes olhavam para mim a percorrer a universidade de pijama mas a maioria não parecia ligar a tal look, é um pouco natural por estes arredores.
...
Quando chego à porta do meu dormitório e rodo a chave na fechadura a forma de uma figura faz-me sobressaltar.
"Onde é que tu andaste?!" Uma voz zangada acorda-me do meu estado de inércia.
Não respondo e aproximo-me da minha cama pousando a roupa e os saltos em cima desta.
"Porque é que estás em pijama? De quem é esse pijama sequer?!" As perguntas continuam a rondar em torno de mim.
Finalmente apoio-me nos meus calcanhares e rodo enfrentado um Nathan irritado.
"O que é que estás aqui a fazer? É invasão de propriedade."
"Que se foda a invasão de propriedade. Desapareceste com a Mia sabe-se lá para onde, apareceres bêbada em fotos com ela e nem dormiste no teu próprio dormitório." Ele ataca-me.
"Não te devo explicações Nathan, acabamos, lembras-te?" Franzo o sobrolho e ficamos em silêncio.
"Tivemos uma discussão." Ele argumenta.
"Não, acabamos no momento em que te afastas-te de mim e não quiseste resolver os problemas."
"A única coisa que fizeste foi atacar-me com um erro que eu cometi e arrependo-me. Quantas vezes preciso de dizer que me arrependo de ter beijado a Emma, Anna?"
"Não sei Nathan, não sei se vai haver vezes suficientes para eu não ficar desconfiada para o resto desta relação sempre que ela aparecer ou estiver sequer no mesmo continente que tu!"
"Então o problema é esse? Já não confias em mim?" Ele fita-me com os seus olhos azuis gelo e eu sinto a dor por de trás do seu olhar.
"Sim." Respondo secamente e de uma só vez, com o intuito de doer menos.
"Posso fazer algo para mudar isso ou sempre que olhares para mim vais-te lembrar desse insólito?" Ele aproxima-se de mim.
"Tens sentimentos pela Emma." Cruzo os braços abaixo do meu peito e fixo o meu olhar no chão enquanto ao mesmo tempo mordisco o meu lábio inferior para evitar alguma lágrima indesejada.
Ele suspira e passa as mãos pelo cabelo, despenteando-se e andando em círculos pelo quarto.
Talvez seja assim que o fim da nossa relação, sem respostas, sem soluções e sem volta a dar. Sei que estar longe do Nathan equivale a ter vidros a circular na minha corrente sanguínea mas talvez, apenas talvez, seja mais fácil ter esses vidros dentro de mim a cortar-me do que sempre que olho para ele afastar-me um pouco, criando uma barreira entre nós, até afastá-lo ao ponto que ele tenha que desaparecer da minha vida.
"Disseste que não me querias perder, mas estás-te a ir embora." Ele fixa uma vez mais o seu olhar em mim.
Finto-o e aproximo-me do fim da minha cama, sentando-me enquanto observo a sua face à procura de algo.
"E não quero." Suspiro
"Mas também não me queres perto de ti." Ele afirma num tom frio e severo.
"Não alteres as coisas, a culpa desta situação não é minha, não fui eu que tornei impossível de confiares em mim!" Levanto-me da cama e solto a minha raiva daquele dia.
"Eu estive no hospital dias só para tentar te ver e enquanto eu esperava tu estavas na companhia do outro otário e nem por um segundo, um ínfimo segundo, pensaste sequer em deixar-me explicar ou pedir perdão! Já estavas muito ocupada com outro gajo!" Ele explode, algo que eu sabia que era inevitável. "E é que sou a pessoa nesta relação que não podes confiar?! Fizeste o mesmo Anna, foste a correr para os braços de outro gajo em vez de falares comigo, em vez de, não sei, dar-me uma chapada ou explodir! Não, nada disso! Foste ter com outro!" O Nathan tem a respiração acelerada, a cara arrosada e pequenas lágrimas a formarem-se nos seus olhos azuis impenetráveis.
Fico em silêncio apenas observando-o. Não há mais sentimentos para expressar, mais ressentimentos, mais mágoas, soltamos tudo o que mantínhamos escondido. "There can be no peace for us, only misery and the greatest hapiness." , o Nathan tinha razão, não existe uma área cinzenta entre nós, só preto e branco, miséria ou uma felicidade intensa.
"Eu amo-te, isso não mudou, mas precisamos de um tempo para entendermos o que queremos. Não podemos só ser ou miséria ou uma enorme felicidade, tem de haver algo no centro, não podemos ter apenas extremos." Admito-lhe, sabendo que a nossa relação, desde o minuto que nos conhecemos, só teve extremos, mas tornou-se impossível viver entre extremos.
Os olhos do Nathan focam-se nos meus e eu consigo ver através destes uma pequena parte de si a desaparecer.
...
Os capítulos têm demorado mais a sair porque tenho tido dificuldade a dar continuidade à história :( já não me sinto parte desse mundo. vou reler neste fim-de-semana a história toda e em breve outro, e melhor capítulo, está para vir! xoxo.

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Madness
Fiksi RemajaQuando Anna chega a Toronto, com o objectivo de começar uma vida nova, depara-se com Nathaniel, um rapaz desprezível e sombrio, que logo ganha interesse em Anna e no seu desprezo ao toque humano, encurralando-a com perguntas e tentando desvendar as...