Capítulo 16

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...

Passou-se dois dias desde que o Nathan e eu tivemos a discussão que nos "separou". Não sei se ele chegou a tentar mandar-me alguma mensagem ou telefonar-me sendo que o bloqueie de todas as formas possíveis e imaginárias. Não queria ter nenhum tipo de contacto com o Nate por algum tempo, não o queria ver sequer. O que eu senti ao ver aquela rapariga no seu apartamento é indescritível, a dor que eu senti era tão profunda e tão forte que não parecia real. Só de pensar nos olhos dele matava-me lentamente. Então fugi de todas as formas possíveis dos sítios onde ele me podia encontrar, menos do trabalho, que foi um dos sítios que tinha esperança que ele aparecesse mas nunca apareceu, as minhas esperanças desapareceram ao fim desses dois dias.

Tenho recebido várias mensagens do Cameron, e tenho ignorado-as a todas. Ele não fez nada para merecer isso mas eu não tenho vontade de falar com ninguém.

O som do sininho da livraria distraí-me e eu levanto a cabeça para ver que é, Matthew. Mal o vejo começo a chorar desalmadamente. Ele aproxima-se de mim e enrolamento nos seus braços.

"Já soube Anna... lamento imenso." Ele continua a abraçar-me, criando um casulo entre nós e o resto do mundo.

Não falamos por alguns segundos, apenas continuamos abraçados, mas com o Matt isso não me faz sentir desconfortável, nem o facto de ele me tocar.

O Matt ficou a tarde toda comigo na livraria a fazer-me companhia e a ajudar-me a arrumar as coisas. Distraiu-me o tempo inteiro do Nathan e fez-me rir, algo que já não acontecia há alguns dias.

"Queres ir jantar a algum lado quando sairmos daqui?" Ele convida-me.

"Sim, já estou farta de estar isolada da sociedade." Esboço um sorriso falso que apenas esconde a minha tristeza.

"Há uma nova pizzaria perto daqui, podemos ir lá, o que achas?" O Matt parece nervoso, algo que não é comum.

"Sim, pizza parece-me um excelente plano." Desta vez sorrio mesmo com vontade de sorrir.

Quando o relógio atinge as 20h a minha colega já tinha chegado e eu já me preparava para sair. Ao ver o Matthew ela ficou corada e ele deu-lhe um sorriso caloroso. Pensando bem não é estranho ela ficar corada, o Matt é bastante atraente. Despeço-me dela e o Matt leva-me até ao seu carro.

Vinte minutos depois o Matt está a estacionar num parque perto do restaurante com um placard em formato de pizza. Nada explícito do que é que servem no restaurante...

Entramos e somos guiados para uma mesa com vista para uns prédios com todas as luzes ligadas, quase que parece ser algum tipo de decoração.

"Anna" O Matt interrompe-me o pensamento. "Ele já tentou abordar-te desde que...?"

"Não sei. Bloqueie todas as formas de ele contactar-me virtualmente, e pessoalmente não, ele não me tentou abordar. Não sei nada dele desde aquela noite."

"Estavas à espera que ele te tivesse tentado abordar?" Os olhos deles focam nos meus.

"Não sei... Honestamente não quero falar com ele, mas não estava à espera que ele não tentasse falar comigo." Eu suspiro.

"Não o quero defender nem nada, mas pelo que percebi do que o William me contou, o Nate não é propriamente de beber mas ontem estava num estado lastimável, tal não aconteceria sem razão, penso eu." Não estava à espera que o Matt dissesse isto.

"Eu tentei falar com ele, e a primeira coisa que ele me disse foi que uma rapariga qualquer estava a chegar e que eu me devia ir embora. E, para piorar ainda mais ele chamou-me de rameira sem se explicar minimamente." O Matt olha para mim e eu consigo ver a desilusão por trás do seu rosto.

"Lamento imenso Anna, podes contar comigo para tudo, eu nunca te farei tal coisa." Ele coloca a sua mão em cima das minhas que estavam assentadas na mesa e esboça-me um sorriso carinhoso.

Sentir que tenho alguém em que posso contar para desabafar é uma sensação de conforto e segurança inexplicável.

Depois de jantarmos o Matt leva-me até aos dormitórios. Ele convidou-me para ir passear com ele mas já me sentia cansada do dia de hoje e só me apetecia isolar num canto e deprimir. Claro que não lhe disse isso, apenas que estava cansada. Despedi-me do Matt que me informou que se precisasse de alguma coisa bastava ligar que ele estava disponível para mim.

Mal chego ao meu quarto, vazio, que me faz lembrar como terá corrido as coisas entre a Rebecca e o Andrew, sinto o meu telemóvel a vibrar, apenas um toque, mensagem. Cameron.

"Hey Anna, não te vi ultimamente nas aulas, nem respondeste a nenhuma mensagem minha ;( está tudo bem?" Não estava à espera que ele continuasse a insistir em mandar-me mensagem. Eu podia ignorá-lo para sempre mas ele não me fez mal nenhum para merecer isso.

"Não tenho estado muito bem. Desculpa ter ignorado as tuas mensagens." Simples e directa.

"Não faz mal babe, posso fazer algo por ti? ;("

"A não ser que tenhas chocolate e paciência não há muito que possas fazer, mas obrigada."

Atiro o telemóvel para cima da cama e vou tomar um duche para me acalmar. Quando saio do chuveiro oiço um bater à porta. Enrolo-me na toalha e vou abrir a porta.

"Wow."

Vejo o Cameron com os olhos a analisar-me dos pés à cabeça e com um uma barra de chocolate enorme nas mãos.

"Trouxe-te o chocolate e a companhia." Ele sorri para mim.

Eu esboço um sorriso e volto para a casa-de-banho. Visto-me mas deixo o cabelo molhado porque não tenho paciência para o secar agora ou para ouvir o barulho irritante do secador a trabalhar.

"Que estás aqui a fazer?" Ele situa-se sentado na ponta da minha cama.

"Estavas triste e pediste chocolate. Achei que ias gostar de companhia."

"E logo tua?" Franzo a sobrancelha.

"Posso ir embora se quiseres." Ele provoca-me.

"Estava a brincar. Obrigada por teres vindo, e pelo chocolate, claro."

"Queres falar do porquê de estares triste.?"

"Não, nem por isso." Não quero estar constantemente a pensar no Nathan. "Como é que descobriste o meu dormitório afinal?" É a questão que me está a perturbar.

"Abri a gaveta da secretária do suposto guarda que foi a algum sítio e procurei o teu nome no dossier dos residentes." Ele sorri-me maliciosamente e com um uma ponta de orgulho daquilo que fez.

"Então, ilegalmente violaste os registos dos estudantes só para me encontrares?" Eu franzo a sobrancelha e sorri-o.

"Claro." Ele responde-me como se fosse a pergunta mais óbvia do mundo. "Okay, então o que gostarias de fazer?" Ele inclina a cabeça e sorri.

Eu encolho os ombros e sento-me na cabeceira da cama. O Cameron recebe uma mensagem e revira os olhos.

"Vou ter que indo andando baby-- Anna, não te importas?" Ele olha-me realmente preocupado.

"Não faz mal." Eu asseguro-o.

Ele despede-se de mim e a solidão instala-se outra vez. Preciso de preencher o meu tempo com algo, preciso de ouvir música, porque se ler os meus pensamentos vão acabar no Nathan. Abro o youtube e há várias sugestões, opto por uma cativante e anos 80, "Marvin Gaye". Dez músicas depois encontro-me com os olhos inundados de lágrimas e a cabeça a latejar de dores. Fecho os olhos e penso que o Nathan está ao meu lado e que está tudo bem, acabo por adormecer na doce mentira que criei para não me sentir tão só.

...



Nota: Alguns dos momentos da história, principalmente os problemas entre o Nathan e a Anna, são pessoais com um toque de invenção, muito pequeno. Por isso a história é capaz de ter momentos bem duros e tristes, vão ver esses momentos descritos ao pormenor.

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