Capítulo 53

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Quando recupero a minha consciência sinto o meu corpo esmagado contra um chão duro e frio. Penso em gritar, mas nada sai, uma parte de mim sabe que não vale a pena. Obrigo-me a abrir os olhos, mas não consigo ver nada, estou num buraco escuro e frio. Oiço passos e um ranger de porto, seguindo de uma claridade que me cega. 

"Estás acordada." A voz dos meus pesadelos ganha forma e eu vejo a cara dele. Ele sorri à minha expressão e todo o meu corpo estremece. "Anna, pensaste que ia ser tão fácil fugir de mim? Devias ter continuado a fugir e não ter parado. Eu disse que te encontrava." Ele coloca a mão na minha cara e eu aproveito o gesto e mordo-lhe com tanta força quanto possível. 

"Cabra!" Ele grita e dá-me um estalo com tanta força que sinto o sangue na minha bochecha. "Debate-te o quanto quiseres, desta vez não cometerei o mesmo erro de te deixar viva para fugires." Ele abandona o buraco e o meu corpo contorce-se contra o chão. Estou a caminho da minha morte e não posso fazer nada para o impedir. 

Pergunto-me se o Nathan, o Cameron ou o meu pai deram pela minha falta, se pensam que eu fugi ou se algo me tenha acontecido. Nathan, espero que ele não se sinta culpado pelo que me aconteceu quando descobrir que eu morri, espero que me perdoe por o ter abandonado, espero que saiba que o amei tanto. 

Nathan

Quando acordo de manhã, a Anna não está na cama. Chamo-a e visto uma t-shirt, mas não há sinal dela pela casa. Encontro o bilhete que ela deixou, e olho para o relógio na parede. Já é quase hora de almoço, ela já devia ter voltado se saiu para ir buscar o pequeno-almoço. Procuro se ela veio ao apartamento e saio outra vez, mas não encontro nada que ela pudesse ter deixado para pequeno-almoço. Coço o pescoço e ligo-lhe. Toca seis vezes, mas vai parar ao voicemail. Ligo ao outra vez mas não tenho resposta. Por fim decido ligar ao Cameron a perguntar se ele sabe da Anna, este responde-me que não, pensava que ela estava comigo, e está, ou estava.

Passado quatro horas desde que liguei ao Cameron, ainda não havia notícias da Anna, e foi ai que comecei a sentir o pânico a instalar-se e fui procurá-la pelo bairro. Numa das padarias perto do apartamento uma das empregadas disse-me ter visto a Anna pela foto que lhe mostrei, que tinha estado lá de manhã bem cedo, isso confirma que de facto ela foi ao pequeno-almoço como tinha escrito no bilhete. Ao anoitecer eu ainda andava à procura dela no bairro, mas sem sucesso, fazendo-me contactar o Cameron novamente. Desta vez ele ativou a equipa de segurança, que encontraram o telemóvel da Anna num beco, abandonado e com o ecrã rachado, mas não havia sinal dela. Foi nesse momento que eu sabia, e o Cameron também, que algo lhe tinha acontecido. A equipa fez várias rotas de fuga a partir daquele beco, mas não havia pistas, não havia marcas de pneus, nada, foi como se ela se tivesse evaporado no ar. 

Quando o pai dela soube da notícia não reagiu bem, como seria de esperar. Gritou com os seguranças e repreendeu todos de a terem perdido de vista, até comigo gritou, por a ter deixado sair do apartamento sozinha. Inicialmente respondi-lhe, não a podia prender, mas passado várias horas, a culpa instalou-se, se eu a tivesse ouvido a sair do apartamento eu não a teria deixado sair sozinha, ela não teria desaparecido. As autoridades foram contactadas, e o caso estava a ser tratado como um desaparecimento. A cada momento que passava temia que a Anna pudesse já não estar viva, e as coisas nojentas que aquele psicopata poderia-lhe estar a fazer. Se ele lhe tocasse eu próprio iria acabar com a sua vida miserável. 

Tinha passado um dia e continuava a não haver pistas. Eu estava um caco, mas não podia ir abaixo, tinha que a encontrar. O Cameron juntou-se a mim e fomos procurar outra vez pelas ruas, porque é que ela se foi enviar num beco? Voltámos a esse beco onde encontramos o seu telemóvel, e depois de dar a volta ao quarteirão apercebi-me que tinha uma livraria em segunda mão. Tornou-se claro o que ela estava lá a fazer, onde houvesse livros, estava lá a Anna, como é que eu não me apercebi antes. Entrei na livraria com o Cameron, que estava quase a fechar. O senhor que estava ao balcão era um homem de idade, com cabelos grisalhos, óculos pequenos na ponta do nariz, cara achatada e várias rugas a comprovar o seu tempo de vida neste mundo. Questionámo-lo sobre a Anna e ele reconheceu-a automaticamente, disse que ela tinha sido muito simpática e comprado uma cópia de um romance antigo que já tinha a capa gasta. Ele disse ter visto uma carrinha a sair do beco, quando estava a fechar a loja e a sair pelas traseiras, e, como por sorte do destino, tinha visto a matrícula parcialmente, e sabia o modelo da carrinha, e a cor. Essa informação deu-nos esperança e também nos permitiu despistar vários carros que a equipa de segurança começara a procurar com base na matrícula. Descobriram que a carrinha tinha sido alugada com uma identidade falsa, mas a foto era dele, do monstro, Ethan.

Anna

Pela escuridão que pude ver quando ele abriu a porta do buraco onde estava, eu percebi que era de noite, a segunda noite que eu estava aqui. Por esta altura o Nathan já teria dado pelo meu desaparecimento e já devia estar à minha procura, pelo menos era no que queria acreditar, que alguém andava à minha procura, que havia uma chance de eu não morrer.

O Ethan aproxima-se de mim com um sorriso malicioso e levanta-me pelos braços, encostando à parede. 

"Desta vez não vai haver erros, Anna." Ele sorri com os seus olhos de serpente e eu tento debater-me, mas estou tão fraca que todas as minhas tentativas assemelham-se a uma birra de uma criança. Numa tentativa de desespero mordo-lhe a mão com toda a força que consigo, e sinto o sabor a ferro na minha boca. Ele grita e quando consegue retirar a mão os meus dentes estão marcados a sangue na sua pele.

"Cabra!" Ele dá-me um estalo e abandona o buraco.

Sozinha no escuro, debato-me com o pensamento que talvez ninguém me vai encontrar viva, apenas o meu corpo.

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