CAP-43

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No escritório, Benjamin encerrava a discussão com Pablo. Estava possesso de raiva.

Benjamin: Pelo visto, você voltou a ser a criatura insuportável que era a anos atrás. Pena, eu pensei que havia mudado. - Pablo revirou os olhos - Não vou me meter. Mas pense em Alay.

Pablo: Alay nada tem a ver com isso.

Benjamin: Já disse, não vou me meter. Entretanto, tire-a daqui. - Pablo ergueu a sobrancelha - Faça isso, a não ser que queira que eu mesmo faça. Ter Lorena aqui dentro é uma ofensa não só a Alay, mas a mim, a minha mulher, ao meu filho. Tire-a daqui, ou eu vou tirar. - Concluiu, e saiu.

Enquanto isso, na sala principal, Alay se cansou de ficar encarando aquela mulher. Desceu as escadas tranquilamente, ia pedir a Rose que lhe fizesse um chá. Então Ster e Théo apareceram, com um Diego engatinhando a sua frente. O menino usava um macacãozinho de algodão azul bebê. Tinha os cabelos de Benjamin. O bebê ria, acompanhado dos primos.

Lorena: Que gracinha. - Sorriu, irritada, ao re-ver o bebê, e se abaixou pra carrega-lo.

Mas de alguma forma Alay estava lá antes que ela o alcançasse. Segurou seu braço, mantendo-o no ar. A mão de Alay estava fria como gelo. Lorena de empertigou e puxou o braço violentamente.

Alay: Toque em um deles, e eu mando você de volta pro inferno pessoalmente. - Avisou, e Lorena não teve coragem de ir pro menino de novo.

Uma briga feia ia se iniciar ali. Nessa hora Benjamin entrou na sala, e percebendo o clima, interferiu.

Benjamin: Calma, senhoras. - Disse sem encarar Lorena tirando Alay de perto dela. Ele se abaixou e apanhou o filho, carregando-o.

Pablo: Vamos, Lorena. - Chamou, saindo de casa. A morena sorriu vitoriosa pra Alay e acompanhou Pablo.
Pablo não voltou. A dor sufocava Alay a cada segundo que passava. Ele não ia voltar. Ela não jantou. Tomou um banho demorado, e quando saiu, a chuva açoitava o telhado. A madrugada caiu, dura e impiedosa. Ele não veio. Ela se ajoelhou nos pés da cama e chorou. Chorou até não conseguir mais. Seu coração estava comprimido em sua dor. Como era possível, você ter uma vida feliz, sadia, e tudo isso desmoronar de um minuto pro outro? Quando a dor foi cedendo, outro sentimento se apossou dela. Ódio. Um ódio talvez mais forte que o amor que ela sentia por Pablo. Ela sorriu, irônica. Sabia que aparência teria quando se olhasse no espelho. Estaria parecendo uma morta. Mas ela estava morta, não é? Estava tudo perdido. O motivo, a razão, a vida, o sentido tudo estava perdido. Então ela não conseguia mais chorar. Não por falta de vontade, mas seus olhos se negavam. Ela já havia chorado demais. Passou a noite toda ali. De manhã, ainda estava ali, quando alguém lhe tocou. Não era Pablo, ela teria sentido se fosse ele. Mas quando se virou, até se esqueceu de sua dor.

Alay: Rafael. - Murmurou, se levantando rapidamente. Ele sorriu com a animação dela - Ah, Rafael! - Ela se atirou no pescoço dele, que a abraçou fervorosamente.

Rafael: Está tudo bem, eu estou aqui. - Ele deu um beijo de leve no rosto dela

Alay sorriu. Rafael era a promessa de oxigênio quando se estava prestes a morrer afogado. Mas ele estava ali. Ela não morreria. Pablo voltou em casa no fim da tarde, apenas pra trocar de roupa. Alay o ignorou. Não precisava perguntar. Seu Pablo se fora, e ali estava o demônio, mais uma vez. Desse jeito, os dias foram se passando. Todos sabiam da volta de Lorena, e do caso de Pablo com ela. Ele quase não vinha em casa, e tecnicamente não via Alay. Como já foi dito anteriormente, Alay nunca recuperou sua cor normal, mas o preto de seus olhos tinha se derretido enquanto estava bem com Pablo. Mas agora estavam empedrados de novo. Dois pedaços de carvão. Sua pele estava mais pálida que nunca, e agora fria. Só uma coisa mudou. Alay passou a vestir preto. Sempre preto.

Larra: Por quê? - Perguntou, certa tarde - Está de luto?

Alay: Estou. - Disse erguendo o rosto pra irmã. Luto é uma boa palavra.

Larra: Por quem?

Alay: Pelo meu coração. Está morto. - Larra, se tocando do que era, não pressionou - Tem uma pedra de carvão no lugar. Rafael me mantém viva, caso contrário já teria morrido.

Larra: E aquela história de não lamentar por um sonho? - Perguntou, tentando descontrair o ambiente.

Alay: Não foi um sonho. Era real. Se deve lamentar quando uma realidade declina. - Disse, simples, e seu olhar pousou em sua aliança e no receptor dela.

Alay subiu pra se trocar pro jantar. Jantar com Rafael, Larra e Benjamim era agradável. Tinha terminado de se vestir, quando Pablo entrou no quarto.

Pablo: Não vai perguntar onde eu estava? - Perguntou, debochado

Alay: Porque deveria? - Rebateu, fria, enquanto terminava de pentear o cabelo

Pablo: É minha mulher. É isso que as mulheres fazem. - Ridicularizou

Alay: Eu sou? - Perguntou, com um sorriso irônico, enquanto prendia os cabelos em um coque apertado. - Então, me perdoe. Não tenho interesse pelo que você faz. - Ela verificou o cabelo no espelho da penteadeira. Não havia nenhum fio solto.

Pablo: Estava com ela. - Disse, malévolo - Não que te importe, é claro. Mas creio que deva satisfações. - Alay riu

Alay: Meu querido, Seattle inteira sabe que você está com ela, não é segredo pra ninguém. - Disse sorrindo, enquanto se levantava - Agora, se não se importa, Rafael está me esperando pra jantar. - Ela se pôs a sair

Pablo: E se eu não der licença? - Perguntou, puxando-a bruscamente pelo braço. Odiava o pouco caso que ela fazia dele.

Alay: Por favor, eu não quero ter que tomar outro banho agora. - Disse, fria, referindo-se a mão dele que segurava seu braço

Pablo: Sente nojo de mim, Alay? - Perguntou, observando-a

Alay: Você não faz ideia do quanto. - Respondeu, despreocupada - Cada pedaço de você me enoja. Seu rosto, sua voz, sua pele. Me dá náuseas.

Pablo: Você não aceita porque ela é melhor. - Alay ergueu a sobrancelha - É, é isso sim. - Ele sorriu, frio - Ela é melhor que você. Melhor amiga, melhor companheira, melhor cúmplice, melhor amante. Melhor.

Alay: É por isso que você me amava? - Perguntou, debochada

Pablo: Eu nunca amei você. Eu já havia te dito, eu via ela quando olhava nos seus olhos. Eu estava procurando ela, cada vez que fui até você. Era nela que eu estava pensando em cada vez que te levei pra cama. - Sorriu, frio

Pra Alay foi o final. Ela se soltou dele com um puxão, e desceu a mão no rosto do mesmo, em um tapa que fez barulho. O rosto pálido de Pablo rapidamente ganhou uma tonalidade vermelha, que tinha o formato da mão dela.

Alay: Agora eu vou jantar, Pablo. Tenha uma boa noite. - Ela se virou e saiu, deixando ele lá, possuído pelo ódio e com uma bruta ardência no rosto.
Depois disso, Alay e Pablo não conversaram mais. Quando se falavam, era só pra discutir. Em compensação, Alay e Rafael estavam mais apaixonados que nunca. O pequeno Diogo crescia saudável.

Original SinOnde histórias criam vida. Descubra agora