CAP-58

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Pablo: Benjamin! - Chamou, limpando o rosto, e indo atrás do irmão.

Rafael: O que houve? - Perguntou, ao se bater com Pablo.

Pablo: Alay fugiu. Me ajude. - Pediu, derrotado.
Pela primeira vez, Rafael e Pablo foram irmãos. Irmãos unidos por um objetivo. Alay. .

Théo: Ela ainda está na cidade. - Observou, calmo, observando os primos. Benjamin lia a carta de Alay, e Pablo conversava com Rafael.

Pablo: O que?

Théo: Alay. Ela ainda está na cidade.

Rafael: Como você sabe?

Théo: Não sei. Mas eu sei.

E ela estava. Guilherme não conseguiu tira-la da cidade. Ninguém ia ajudar Alay Deville a fugir. Não conhecendo a fúria impiedosa de Pablo. Ele deixou ela em um hotel isolado, longe, onde ninguém poderia acha-la. Um amigo de Guilherme, que era capitão de um cruzeiro, estava perto de Seattle, e concordou em ajuda-lo. Mas pra isso, Alay precisaria esperar um mês, por ai. Dulce pegara um resfriado leve, nada demais. Alay sentia falta do marido como do ar.

Alay: O que há, Dul? - Perguntou, atordoada, com a angustia da filha. Dulce pegou a boneca com a qual Pablo sempre brincara com ela, e mostrou a mãe - Não, Dulce. - A menina insistiu - Não pode. - A menina observou a mãe, e depois ergueu o bracinho, apontando pra pulseira que Pablo lhe dera. - Ele não está aqui, meu amor. - Ela viu os olhinhos da filha se encherem de água. - Não chore. Eu sinto falta dele, também. - Admitiu, carregando a filha.

Pablo mandou revistarem toda a cidade. Nem rastro de Alay, ou Dulce Maria. Ele não tinha comido direito nos últimos dias, nem falava. Chorava as noites, por saudade da Morena. Alay não estava muito diferente.

Guilherme: Ele está revirando Seattle de cabeça pra baixo, procurando por você. - Avisou, sentado na cama, enquanto Alay olhava algo na mala.

Alay: Alguma chance de ele me encontrar aqui? - Perguntou, virando-se pra encarar o irmão.

Guilherme: Muito pouco provável. Quase ninguém vem a este lugar. Entretanto, todo mundo sabe do que Pablo é capaz.

Dulce, que estava sentada no berço olhando sua bonequinha, ergueu o rosto e deu um gritinho animado ao ouvir o nome do pai. Alay suspirou.

Alay: Não, Dulce. - Dulce ficou murchinha de novo.

Guilherme: Tem certeza disso, Lay? - Perguntou, observando-a.

Alay: É o único jeito.

Guilherme: Talvez haja outro, menos doloroso. Pensa que eu não vejo seu sofrimento? Seu olhar vermelho de tanto chorar, toda vez que eu chego? Pensa que eu não sei que passa os dias aqui, chorando com saudade dele? Talvez o adeus não seja o melhor. - Observou.

Alay: Não é um adeus. - Negou, dobrando um vestidinho de Dulce - É só algo necessário. É pra felicidade dele. - Disse, amarga - Quem ama não diz adeus.

Guilherme: Eu amava Ana, e eu lhe disse adeus. - Disse, pensativo.

Alay: É diferente.

Guilherme: É tecnicamente igual. A única diferença é que você tem escolha, e eu não tive. Ela se foi de mim, de uma vez pra sempre.

Alay: Não creio que seja de uma vez pra sempre. O verdadeiro amor sempre volta. - Ela sorriu de canto, pondo o vestidinho na mala.

Guilherme: O seu amor voltou?

Alay: Guilherme, por favor. - Implorou, cansada. Falar de Pablo não lhe fazia bem.

Guilherme: Tudo bem. Mas pense bem, enquanto pode. Olhar pra trás e não poder fazer nada pra mudar é horrível. - Avisou, antes de dar um beijo na testa de Dulce e sair

Os dias passaram, e Pablo não encontrou Alay em lugar nenhum. Revirou cada canto da cidade, levantou cada grão de poeira de Seattle, mas ela não estava lá. A fé dele estava começando a fraquejar. Talvez ela já tivesse saído da cidade. Talvez já estivesse fora do pais. Ele sentia falta da filha. O riso de Dulce lampejava em sua cabeça como um flash, e ele sentia sua falta.

Alay: Dulce, não. - Pediu, atormentada, em uma madrugada chuvosa. Dulce estava sentada na cama, ao lado dela, e puxava a pulseira que o pai lhe deu, mostrando-a a Alay - Dulce, a gente não vai ver mais o papai. - A menina fez careta de choro - Não chore, meu amor. - Mas Dulce já havia caído no choro, e se abraçou a bonequinha com a qual Pablo brincava com ela.

Em um lugar, longe dali, alguém também tinha dificuldade pra dormir.

Pablo: O que... Alay? - Ele apertou os olhos, olhando pra escuridão. Alay estava lá, sentada nos pés da cama. Ele acendeu a luz rapidamente, e voltou a olha-la. Ela estava lá. Sua pele era acinzentada, e seu olhar eram duas pedras de gelo. Ela vestia um vestido negro, que entrava em contraste com a pele quase sem cor, e seu cabelo estava preso, como sempre. - Você... você voltou. - Ele sorriu de lado, sem piscar os olhos, olhando a mulher - Onde está Dulce? Ah, Lay, eu senti tanto sua falta. - Ele avançou pra ela, mas nessa hora ela se levantou, e recuou - Alay?

Alay: É tarde. - Disse, e não havia vida em sua voz. Na verdade, a voz dela era apenas um murmúrio, misturado aos raios que caiam lá fora.

Pablo: Não, não é. - Ele disse, com a voz embargada pela alegria. Ela estava ali. - Nós podemos recomeçar. Tentar, lembra? - Ele sorriu, avançando pela cama até ela. Mas ela recuou mais - Eu deixei ela. Eu voltei pra você.

Alay: Tarde. - Repetiu, olhando-o fixamente.

Pablo: Não é tarde, meu amor. Ainda há muito tempo. - Ele se ajoelhou na beira da cama, e ergueu a mão - Venha.

Alay: Adeus, eu te amo. - Sussurrou, fraca. Pablo cerrou os olhos, mas ela havia sumido.

Pablo: Não vá. - Implorou, sentando-se na cama. Alucinações, agora. Ele passou a mão nos cabelos, atordoado, enquanto sentia os olhos queimarem. Estava cansado de chorar. Não queria mais sofrer. Queria ela de volta. Ela estivera ali, e se fora. É tarde.

Pablo: Alay. - Chamou, e ela abriu os olhos de súbito.

Alay: Pablo? - Perguntou, rouca, se sentando.

Pablo: Porque fugiu, ma petit? - Perguntou, se aproximando da cama. Ela se encolheu.

Alay: Foi melhor assim. - Explicou, se cobrindo. Ela usava sua camisola normal, seda preta, longa até o tornozelo.

Pablo: Não. - Ele segurou a mão dela, impedindo-a de se tapar.

Alay: Por favor. - Implorou, perdendo as forças.

Pablo: Volte pra casa. - Alay negou com o rosto - Alay, pegue a nossa filha, e volte pra mim.

Alay: Não. Como me achou?

Pablo: Não importa. - Disse, com a mesma arrogância que teve desde o inicio. Alay sorriu por dentro. - Volte pra mim, petit.

Alay: Eu não posso. - Negou, sentindo o olhar se inundar.

Pablo: Porque não? - Ele olhou ela, pacientemente.

Alay: Não quero mais me machucar. - Admitiu, abaixando os olhos.

Pablo: Diga que me ama. - Pediu, erguendo o rosto dela com a mão.

Alay: Eu amo você. - Atendeu, olhando-o.

Pablo balançou a cabeça negativamente, e a encarou com aqueles olhos verdes pelos quais ela se perdeu tantas vezes. Ele a encarou por segundos, e ela avançou pra beija-lo. Mas quando seus lábios se tocaram, era só ela. Alay abriu os olhos. Estava sentada no meio da cama, sozinha. Dulce dormia, calma, ao seu lado, com o rostinho molhado pelas lágrimas que derramara antes de adormecer.

"Está enlouquecendo, Alay.", se condenou, enquanto cobria a fria. A noite estava fria. Mas nenhum frio era pior que a solidão. Pablo dormia abraçado ao travesseiro da filha, todas as noites. Rafael, já tendo perdido a fé, começava a planejar grupos de procura, pros estados mais próximos de Seattle. Ele acharia Alay, pro irmão. Nunca se deu bem com Pablo, mas não lhe fazia bem vê-lo ser torturado, pela saudade da filha, da mulher. Só que algo no peito de Pablo lhe dizia que Alay estava perto.

Original SinOnde histórias criam vida. Descubra agora