CAP-57

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Uma semana e meia se passou, desde o dia da neve. Chegou o dia da viajem de Pablo.

Pablo: Papai vai morrer de saudade. - Disse, antes de dar um beijinho estralado na filha, colocando-a sentada no berço em seguida. Alay estava parada no meio do quarto, com os braços cruzados. - Tchau. - Disse, sem jeito, olhando a mulher. Alay assentiu, quieta.

Ela viu ele se afastar, mas a dor foi forte demais. Era a única vez que ela o veria. Era ver o amor da sua vida sair pela porta, pra nunca mais.

Alay: Pablo! - Chamou, sem se conter, e ele se virou pra ela.

Pablo viu Alay avançar pra ele, o mais rápido que o gesso permitia. Ela se lançou em seu pescoço e o beijou sedentamente, com uma saudade precoce. Pablo segurou ela pela cintura e retribuiu seu beijo, apaixonadamente. Isso durou por minutos, até que a necessidade por ar falou mais alto.

Pablo: Então, até logo. - Disse, controlando a respiração, e acariciando os cabelos dela. O olhar de Alay sofria.

Alay: Adeus. - Murmurou, encarando-o. Pablo pensou que fosse pela viajem dele. Mal sabia que era pela dela. Ele a beijou novamente, e partiu.

Dias se passaram, e as malas de Alay estavam prontas. Pra si, levou só o necessário. Já de Dulce, levou quase tudo. Escrevera uma carta pra Pablo e deixou no berço da menina, que era onde ele logo a encontraria.

Guilherme: Está pronta? - Perguntou, encarando-a, na saída.

Alay: Sim. - Assentiu, quieta. Era noite, e não se despediram de ninguém. Todos dormiam. Dulce dormia quieta no braço da mãe. Guilherme ajudou Alay a descer a escadaria. Antes de entrar na carruagem, ela se virou pra noite, e olhou a mansão Deville por uma ultima vez. Passara tantas tristezas ali, mas também alegrias inúmeras, lembranças das quais levaria pra vida inteira. Ela respirou fundo e entrou da carruagem, dando as costas a seu passado, e foi embora.
-
Lorena: O que? - Perguntou, incrédula, a noite, no hotel luxuoso onde eles estavam, em Londres. - Você está me deixando?

Pablo: Estou. - Disse, sentado na ponta da cama. Não lhe agradava fazer isso, mas era absurdamente necessário.

Lorena: Por quê? - Perguntou, atônita.

Pablo: Lorena, eu amo a Alay. - Disse, sério, e viu a compreensão invadir o rosto da morena - Eu precisei de todo esse tempo pra descobrir que sentia falta dela. Não é justo pra nenhuma das duas eu continuar contigo, se é ela que eu quero. - Explicou, sério.

Lorena: Foi pra isso, essa viajem. Foi pra me tirar de lá. - Murmurou, entendendo.

Pablo: Foi pra que você não fosse atrás dela. Ela não tem nada a ver com isso. Ela não me pediu pra deixar você em nenhum momento. Foi uma decisão minha.

Lorena: Porque está fazendo isso? Você me amava. - Constatou, olhando pra frente.

Pablo: Porque é o único jeito de se fazer. "Adeus, eu não te amo mais." - Ele respirou fundo - É a única maneira. Quando se ama não se diz adeus.

Lorena: Eu não acredito que você está fazendo isso.

Pablo: Mas eu estou. Eu perdi tempo demais revivendo o passado, revivendo algo morto, eu quase perdi a minha mulher. - Continuou, e seu rosto continuava sério - Eu vou voltar pra casa. Vou deixar tudo pago, pra que você possa ficar aqui o tempo que precisar. Me perdoe. - Ela não conseguiu falar nada. Ele lhe deu um beijo na testa, e saiu.

Pablo chegou em casa na tarde seguinte. Chovia, haviam raios, trovões. Mas ele estava feliz. Estava voltando pra Alay. Os problemas haviam acabado. Ele entrou na mansão pingando água, mas não se importou. Foi direto procurar a mulher. Mas ao chegar no quarto do casal, não havia ninguém, só o frio.

Estranho. Alay costumava deixar Dulce na cama, quando fazia frio desse jeito. Ele resolveu se secar, e depois ir atrás dela. Ele abriu o enorme guarda-roupas, em busca de uma toalha seca. Pegou ela, e secou o rosto. Quando ia fechar a porta, olhou pro vazio onde ficavam as coisas de Dulce. Não havia nada ali.

Pablo não sabia porque, mas seu peito deu um salto doloroso ao ver que as roupas da menina não estavam ali. Ele abriu as gavetas da filha, mas não havia nada. Nem uma fralda, nem um vestido, nada.
As mãos dele estavam meio trêmulas quando ele abriu a porta onde ficavam as roupas de Alay. Lá tinha só um pouco mais da metade.

Pablo se afastou do guarda-roupas, com o rosto em choque. Ele ia atrás de Benjamin, quando olhou o berço da filha. Havia um envelope branco lá.

Pablo: Lay, não. - Murmurou, ao pegar o envelope, e ver seu nome com a escrita de Alay nele. Já sabia o que era. Seu coração sabia.

Pablo, começava a carta.

Estou deixando você livre. Nós dois sabemos que nosso casamento não tem mais futuro, não dava pra continuar do jeito que estava. Eu estou indo embora, agora. Fiz o que pude, mas não deu certo. Eu tentei segurar isso, mas dói demais. Tentei perdoar, mas não foi o suficiente pra deixar as coisas bem. Por favor, por favor, por tudo o que nós já vivemos, não venha atrás de mim. Não prolongue mais isso. Agora você pode assumir a Lorena, podem ser felizes, sem o empecilho que eu me tornei.

A dor de Pablo era tão grande, que chegava a sufocá-lo. Seus olhos ardiam. Até a hora que algo liquido escorreu de lá. Ele fez uma careta, e tocou o rosto, olhando a mão em seguida. Estava chorando.

Pablo: Lay. - Chamou, de novo, criando coragem pra ler o final da carta.

Me perdoe por Dulce Maria. É cruel tirar ela de você, eu sei que é. Mas deixá-la ai e fugir, estava fora de cogitação. Eu sei que você vai ter outros filhos, e então ela não fará mais tanta falta. Me perdoe por ser covarde, por não aguentar. Vou sentir sua falta, mas é melhor assim. Me perdoe por tudo.
Eu amo você.

Alay.

A letra de Alay ficou trêmula a partir da hora em que ela escreveu que sentiria a falta dele. Pablo baixou a carta, olhando pra frente, com o rosto distorcido de dor, enquanto suas lágrimas caiam livremente. Ela foi embora, era o que uma voz fazia questão de lhe dizer, a cada segundo. "Parabéns, você a perdeu." O olhar de Pablo ficou parado na ultima frase dela. Eu amo você. Minutos depois ele olhou pro papel, e abaixo havia uma frase.

P.S.: Não culpe Larra, ou Benjamin. Eu disse a eles que ia passar uns dias na casa de meu pai, enquanto você estava fora. Rafael não sabe de nada. Ele saberia que era mentira.

Pablo foi até o berço da filha, e o observou por um instante. Depois pegou o cobertorzinho dela e aspirou o cheiro, aquele perfume leve, inocente. As lágrimas vazavam dele involuntariamente. Era a segunda vez que isso acontecia. De manhã, ele tinha a mulher de sua vida, e seu filho. A noite, ele não tinha nada. Mas dessa vez ele não ia se curvar em bola e chorar por ela.

Original SinOnde histórias criam vida. Descubra agora