Ludovico é um gato de pelagem alaranjada de pouco mais de um ano que vive em um apartamento de um bairro nobre da cidade de Joinville – Santa Catarina. Da varanda, que fica ao lado da pequena sala do lugar, ele consegue ter um vislumbre do que acontece no mundo lá fora.
A varanda é uma dessas feitas de tijolo vasado, o que lhe dá a oportunidade de ver as pessoas e as coisas através dos pequenos buracos dela. Por ser um gato muito curioso, isso é uma grande vantagem.
Seus humanos eram, até pouco tempo atrás, um casal de jovens advogados. Milena, uma mulher de 28 anos, que adorava pegar Ludovico no colo e coçar atrás de suas orelhas. Ricardo, de 27, que era quem trazia os petiscos que o gato tanto gostava. Talvez por isso fosse o seu favorito dos dois. Não que os carinhos de Milena fossem pouco importantes para ele, mas comida é comida.
Ludovico sempre deu muita importância para comida. Não era atoa que vivia sempre um pouco acima do peso, ostentando dobrinhas aqui e ali e bochechas cada vez mais cheias.
Antes de ir morar com o casal naquele pequeno apartamento, Ludovico era só um gato sem nome, como tantos outros por aí. Apenas mais um em uma ninhada de sete pequeninas bolas de pelo alaranjadas. Não era mais feio ou mais bonito do que os irmãos e irmãs, nem mesmo o mais brincalhão ou o mais preguiçoso. Não tinha nada que o destacasse. Mas de alguma forma, quando aquela senhora chegara para escolher qual filhote levar, ele foi o escolhido.
O nome da senhora era Joaquina. Era meio baixinha e gostava muito de falar. Para o futuro Ludovico, aninhado em uma pequena caixa acomodada no banco traseiro do carro, ao lado dela, a fala da mulher vinha em ondas atravessando os buracos de respiração, lhe deixando inquieto e irritadiço.
O pequeno animal não entendia muito bem o que estava acontecendo. Há pouco tempo atrás estava disputando com os irmãozinhos a atenção e o leite da mãe e agora estava ali, confinado num espaço pequeno, frio e bastante escuro. E ainda tinha aqueles barulhos todos que vinham do ambiente ao redor.
Ele sentiu medo e desconforto e tentou deixar isso claro através dos miados mais altos que conseguia evocar.
Para o bem da sanidade do pobre gato, ele não estava destinado a viver com Joaquina. Ele era um presente desta para a filha, Milena, que estava passando por um momento difícil.
Se ele não estivesse tão assustado com aquele novo ambiente, e depois curioso para explorar todos os vãos do lugar, talvez tivesse percebido que o clima inicial não era muito amistoso por ali. Mas ele era um pequeno gato que mal tivera contato com algum humano até então. Ele tinha outras prioridades.
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Rabiskos
RandomTentativas de trabalhar a escrita, através de temas variados, textos curtos, sem grandes compromissos, sem prazos ou metas, apenas aproveitando qualquer inspiração que surgir. Também posso revisitar algumas histórias ou poemas meus, publicadas em ou...