Atenção: não recomendado ao leitor esse tipo de vivência. Certas buscas são infrutíferas.
Lancelot olhou pela janela aberta a paisagem cinzenta que se descortinava diante de seus olhos. A vista do 5 andar poderia ser interessante, mesmo com as gordas nuvens escuras e a chuva fina que tomavam conta de tudo fazendo subir um cheiro meio ácido de asfalto molhado até suas narinas. Mas ele não estava prestando atenção.
Enquanto acendia mais um cigarro, o quinto desde que havia acordado, poucas horas antes, ele se permitia pensar em nada. Aqueles poucos momentos de calma enquanto a mente permanecia vazia era o que o mantinha são.
Pelo menos por enquanto.
Incapaz de manter a mente vagando por muito tempo, Lancelot sentiu seu olhar ser novamente seduzido para o homem na cama.
Arthur.
O moreno de corpo forte e cabelos fartos e revoltos que dormindo era como um rei majestoso, mas que acordado poderia ser o mais cruel dos soberanos.
Não havia nada de novelesco e fantástico nisso. Apenas a velha história da humanidade se repetindo uma vez mais.
Como se sentindo o olhar do outro sobre si, Arthur se moveu languidamente pelos lençóis, fazendo com que eles revelassem de uma vez toda a glória da sua nudez. Os olhos castanhos aos poucos foram se abrindo por entre as cortinas de seus cílios impossivelmente longos. Um sorriso se desenhou aos poucos nos lábios escuros, inchados e machucados da aventura da noite anterior.
Lábios maculados.
Arthur voltou-se novamente para a janela, tentando absorver um último resquício de paz das gotas que caíam cada vez mais animadas e barulhentas.
A pele gelada se arrepiou instantaneamente ao toque das mãos quentes sobre si. O corpo grande o envolveu por trás em seu calor e ele sentiu-se derreter. Tão previsível, pensou com amargor.
Em apenas dois segundos a toalha, que envolvia sua cintura desde o banho que tomou ao acordar, caía ao chão sem alarde. Não muitos segundos mais foram necessários para que outra parte ainda mais quente do outro homem lhe penetrasse de maneira bruta, mas nem um pouco inesperada.
Tudo ocorreu em poucos minutos, mas durou o suficiente para lhe tirar o fôlego, que já não era lá essas coisas com o vício do cigarro que só aumentava. Não o único que ele precisava abandonar, sentia ele enquanto massageava o pescoço dolorido do apertão que acompanhara o momento anterior. O culpado a essa altura já seguia para o banheiro onde banharia sem culpa o corpo saciado.
Antes que o homem gritasse sua vontade por entre o som da água do chuveiro, Lancelot já preparava o café forte desejado. Também uma xícara de chá para si mesmo, com uma dose extra de açúcar para diminuir mais um pouco seu tempo na terra. Que seja curto, mas que seja doce.
Mas era amargo.
Tão amargo quanto olhar Arthur sair pela porta após deixar em seus lábios doces um beijo vago e sem intenção.
Suspirando e ainda inteiramente nú, lavou a pouca louça do café e foi até a janela acender mais um cigarro. A chuva agora estava novamente tímida dando um ar de melancolia para aquela manhã de Agosto. O mês mais longo do ano. O mês que durava uma eternidade.
Sentado no batente antigo e espaçoso, enquanto o corpo arrepiava com o ar gelado do exterior, Lancelot deixou os olhos vagarem em direção ao prédio ali da frente.
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Rabiskos
RandomTentativas de trabalhar a escrita, através de temas variados, textos curtos, sem grandes compromissos, sem prazos ou metas, apenas aproveitando qualquer inspiração que surgir. Também posso revisitar algumas histórias ou poemas meus, publicadas em ou...