Tentativas de trabalhar a escrita, através de temas variados, textos curtos, sem grandes compromissos, sem prazos ou metas, apenas aproveitando qualquer inspiração que surgir.
Também posso revisitar algumas histórias ou poemas meus, publicadas em ou...
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Olho para os destroços que restou da sala – e de nós – e sinto a cabeça pesar. Os olhos mal ardem mais e já faz tempo que as lágrimas pararam de cair. Você está encolhida perto da janela e a luz que entra ilumina seu rosto vermelho e inchado. A sua veia dramática sempre foi mais grossa que a minha. Está quieta olhando para as mãos machucadas e eu não sei se te ofereço ajuda ou se grito com você.
Estou chocada, apesar de tudo. Não foi a primeira vez que você usou os objetos presentes para provar um ponto, mas caramba, você destruiu a nossa sala. Só de pensar no quanto demoramos em montá-la, quanto tempo perdido decidindo cada detalhe, e você acaba com tudo em apenas um ataque de fúria.
Talvez ache que é uma forma de me fazer pagar por destruir nossa relação. Afinal, a culpa é minha, não é mesmo? Pra você está tudo muito claro. Preto no branco. Você é a vítima e eu sou o monstro. Mas quem passou a última meia hora temendo pela própria vida foi eu e não você. Pela primeira vez acreditei que você, em sua fúria cega, poderia realmente me ferir fisicamente. Seria esse o limite final, já que me feristes de todas as outras formas possíveis?
Ainda carrego aqui dentro todas as marcas que você deixou e te digo, elas são mais sofríveis do que essa sua cara inchada.
Recolho uma das cadeiras do chão, milagrosamente intacta, e me sento para acender um cigarro. Enquanto tento acendê-lo me dou conta de que estou tremendo. Meu corpo todo treme e não sei o que fazer. Você olha para mim com esses grandes azuis hipnotizadores e eu não consigo mais desviar o olhar, o cigarro apagado inútil em minha boca seca.
Você levanta, predadora, chega até mim e toma o isqueiro de minha mão. Rouba meu cigarro, acende e traga profundamente. Bandida. As mãos já não sangram mais e quase consigo visualizar as casquinhas que se formarão em seus dedos delicados. Você me devolve o cigarro e senta-se ao meu lado, aos meus pés. Fumo em silêncio sem contar os cigarros enquanto a sua cabeça descansa em minhas pernas desnudas, o cabelo curto fazendo cócegas em minha pele.
O movimento é automático. Deixo os dedos deslizarem pelas mechas negras cobertas com pequenas penas e resto de estopa, que até hoje cedo eram recheio das minhas almofadas preferidas. O tempo passa sem que nos damos conta e já não é dia. Você me vê jogar a última bituca de cigarro em meio aos destroços daquilo que um dia chamamos de mesa de centro - ainda não acredito que conseguiu destruí-la dessa forma, era a porra de uma lembrança de família! -.
Minha ação é entendida como um código para você. Vira-se e se move insinuante em minha direção. Em seus olhos agora não há raiva, apenas malícia. Por entre as minhas pernas se coloca e aproxima sua boca do meu rosto.
Antes que sua boca encoste na minha, eu viro o rosto. O movimento te causa estranheza, mas a mim me parece o certo.
Você não se deixa abalar e vai direto ao meu ponto fraco, bem abaixo da orelha, acima daquela pinta pequeninha e rosada que você adora. Estremeço e você sorri. Convencida. Suas mãos passeiam pelo meu corpo num caminho conhecido, apertando todos os botões que me acendem. Desliza os dedos pelas minhas costas por debaixo da blusa, e por cima dela, morde meus seios de leve. Eu deixo e observo seu jeito.
Tão meiga agora, são sedutora, uma serpente em seu ritual de conquista, e me pergunto quando virá o bote. Você não percebe meus olhos cínicos e agora desce os lábios pelo meu abdómen, em direção ao seu destino favorito. Segura firme em minhas pernas e vai descendo, agora faminta e apressada. Sente o cheiro doce da vitória bem no meio das minhas pernas, em frente ao seu rosto.
Não há mais necessidade de conquista, eu sou a presa vencida e entregue. E eu deixo que você me dispa e se banqueteie em meu corpo e me entrego às sensações que me oferece de forma tão criativa.
Ainda mais faminta e desejosa, você levanta a sua blusa e tira a bermuda velha, que por acaso é minha. Seu corpo bonito e nú agora está disposta à minha frente tal qual fruta madura, basta levantar o braço e toma-la para mim.
Eu olho para você e vejo o seu sorriso, você mal consegue conter a expectativa. Eu sei que você quer que eu te jogue em meio ao sofá manchado e macio e te foda do meu jeito, firme e forte, até que você se sinta perdoada. Mas eu só faço seguir em direção ao quarto, felizmente inteiro, tomar um banho, vestir uma roupa limpa e seguir em direção à saída.
Quando passo por você para chegar à porta, sinto vontade de rir da sua cara. Consigo ver a veia de seu pescoço latejando e com certeza mais uma tempestade está prestes a se formar. Mas dessa vez eu estou carregando um guarda - chuvas e não vou me afetar. Seus olhos furiosos e acusadores não me iludem mais. Não serei o monstro da sua história, Estela, eu prefiro ser o herói da minha.
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