A proposta

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José e Silvana recém sentavam - se à mesa para engolir o parco café da manhã - que consistia em um líquido melado e fumegante e dois pães franceses amanhecidos para ele e um para ela - quando ouviram o som das palmas

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José e Silvana recém sentavam - se à mesa para engolir o parco café da manhã - que consistia em um líquido melado e fumegante e dois pães franceses amanhecidos para ele e um para ela - quando ouviram o som das palmas.

A princípio não deram atenção, devia ser no vizinho.

O som se repetiu, mais firme dessa vez.

Entreolharam - se.  A dúvida - entremeada de descrença - estampada no rosto de ambos. 

Fazia tempo desde a última vez que alguém viera bater a porta do casebre mal acabado em que viviam. Eles fingiam entre si e para si que era melhor assim. Muito bom que nenhum vendedor viesse encher o saco ou que alguma testemunha de Jeová se atrevesse a vir tentar lhes salvar a alma. Mas a verdade é que a cada vez que alguém pulava sua residência para bater na dos vizinhos era como que uma pá de cal a mais sobre a dignidade de ambos.

As palmas continuaram por mais um tempo e então a curiosidade foi maior que tudo.

- Vá lá ver o que é, mulher. - disse o homem fingindo impaciência.

- Não há de ser nada - ela respondeu, já apertando o passo. Finalmente o marido dera - lhe permissão.

Mas ao chegar ao portão a velha decepção.

Não havia ninguém.

Antes que entrasse em casa, porém, pôde ouvir o barulho de um carro que saía ali de perto e novamente a dúvida acendeu.

"Será? "

Ao voltar com um ar pensativo à pequena cozinha o marido indagou:

-O que foi, mulher?

-Não tinha ninguém, de certo era na casa do lado.

- Eu bem que imaginei. Bem, melhor assim. Pelo menos posso ir para a lida sossegado ao invés de perder tempo com algum vendedor mentiroso.

Levantou - se e saiu.

Silvana nem mesmo voltou a sentar. Na mesa o resto do pão meio seco e o café que já começava a esfriar. Engoliu tudo com pressa. Não suportava desperdício e assim tbém não dava tempo de se incomodar com o gosto.

O restante do dia passou da maneira usual. O marido na fábrica e ela em casa. Muito trabalho para os dois.
A noite um prato de arroz e feijão e cama. Estava frio, então ela tirou o cobertor extra do maleiro.  Era velho e cheirava a mofo, mas era quentinho e tornou a noite mais agradável.

De manhã ela começava a passar o café enquanto ouvia os roncos do marido - que aproveitava seus últimos minutinhos de sono - no quarto ao lado.

Então ouviu o som das palmas. Era o mesmo do dia anterior. Ela sabia, de alguma forma.

Antes que a dúvida lhe atordoasse os passos ela foi célere até a porta.

Havia alguém no portão.

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