Nossa, só de pensar que nessa noite a verei, meu coração chega a palpitar. Espero não ter um infarto antes de poder vê-la. Pensar em tocar nela não ajudaria nada agora. Respirar. Preciso respirar. Mas como posso, se essa garota me tira o ar?
Ai caramba. Preciso trocar essa droga de espelho, ele não me valoriza em nada. Duas horas me arrumando pra ele me mostrar essa bosta de imagem. Espero que os olhos dela sejam um pouco mais lisonjeiros. Talvez se os óculos embaçarem um pouquinho eu tenha mais chance. Não custa sonhar.
Pelos deuses, deveria ser proibido dirigir assim nesse estado de nervos. Sei que deveria ter chamado um táxi, mas acho que dirigindo o meu possante terei mais poder de impressionar. Sinceramente, se eu conseguir chegar até o salão de festas sem bater essa joça eu mesma é que vou ficar impressionada.
Viva! Estou viva! Sou uma sobrevivente. Pelo menos dessa próxima etapa. Agora dá licença que vou lá em busca do meu prêmio final e...opa. Eu não estava pre-pa-ra-da! Vai ser bonita assim lá no inferno, ou melhor, na minha casa, nos meus braços, na minha vida.
-Oi Camila. Você veio mesmo! – Ah esse sorriso...
-Vim. Eu vim, claro que vim. Tô aqui né. – Pelo amor da deusa alguém me pare!!!!
-Tô vendo. Tá bonita nesse vestido ein.
-Ah, essa coisa velha... - Só de lembrar o quanto eu gastei nessa coisa me dá vontade de chorar. Mas ela gostou, então está tudo bem.
-Veio sozinha? E o Nicholas?
-Ana, você sabe que o Nick e eu somos só amigos né?
-Ah, sei lá, vocês sempre pareceram tão próximos.
-A gente é. Mas como amigos. AMIGOS. Ele é meu gêmeo de outra mãe, ou algo assim. Ele não tava a fim de vir, então o trabalho de me aguentar essa noite ficou todo pra ti.
-Que bom que eu trouxe reforços então né?
-Reforços? – Hã?
Quem é esse tipinho que surgiu do nada bem no bom da conversa achando que bebida gratuita vai comprar uma garota como a Ana. Opa. Péra. Parece que funcionou. E como funcionou! Esse cara tá tentando ganhar algum tipo de competição do beijo mais melado de todos?! Fala sério. Eu faria muito melhor. Deveria ter gastado meu dinheiro comprando bebidas a ela ao invés de gastar nesse vestido ridículo que não para de pinicar. Nunca mais deixo Nick me convencer a nada.
-Camila?
-Ah, oi?
-Esse é o Victor. Não sei se você lembra, mas eu já devo ter falado dele.
-Ah, oi Victor. Na verdade não, não me lembro do seu nome ser citado. – Não adianta me olhar assim Ana, não lembro mesmo, minha memória é seletiva e só guarda coisas importantes, como por exemplo, seu livro favorito, o cheiro do seu perfume, qual o seu grau de miopia (que deve ter aumentado muito se você tá achando que esse ridículo aí vale algum minuto da sua atenção) e mais mil e um detalhes relacionados a você.
-Oi. Camila né? Prazer em te conhecer. A Ana fala muito de você. – Ora, ora, informação relevante a ser arquivada. –Ana, gatinha, pedi pra banda tocar aquela música pra gente e.... olha só, bem em tempo. Vamos?
Essa é boa. A Ana O-D-E-I-A dançar. Duvido que ela vá...
-Nossa, eu AMO essa música. Desculpa te abandonar amiga, mas eu PRECISO dançar essa música. É a NOSSA música.
Não tô crendo. Quem é essa pessoa e o que fez com a Ana, a garota nerd, tímida e maravilhosa que é simplesmente o amor da minha vida?! Pode um mero verão longe mudar tanto uma pessoa? Nunca vou querer ir pra Europa se for pra voltar assim.
-Vai lá...quer dizer, já foi né.
Festa ruim do caramba. Nem sei por que vim nessa merda. Ah sim, lembrei. Por causa dela. A garota linda que tá dançando com aquele paspalho na pista lotada de gente suada e ridícula. Só não são mais ridículas do que eu que tô aqui no canto enchendo a cara e começando a chorar por causa de uma menina que nunca vai me ver como mais do que a amiga esquisita que só suporta em nome dos longos anos de amizade e por falta de companhia melhor. Que pelo visto já achou. E eu achando que essa poderia ser a NOSSA noite. Estúpida. Estúpida.
Melhor ir embora, ela não parece que vai voltar tão cedo e não tô a fim de passar a noite de vela, ou pior, tendo que aturar os amiguinhos solteiros que provavelmente o tal do Victor vai querer descolar pra mim só porque a Ana pediu.
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-Camila? Que tu tá fazendo aqui guria? Não devia estar em uma festa agora?
-Vim aqui pra rir desse seu pijama ridículo.
-Ridícula é essa sua tentativa de piada. Entra logo que pela sua cara eu já sei que a coisa não foi boa.
-Tem sorvete?
- Tem. De chocolate.
-Só vou entrar pelo sorvete, viu.
-Tá bom amiga, acredito.
Acho que vou sobreviver. Uma colherada de cada vez.
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Ok. Agora já estão livres da mente da nossa pobre Camila. Mais um texto bobinho e sem pretensões sobre crushs adolescentes e o poder da amizade (ou de um bom sorvete de chocolate). Espero que as passagens temporais não tenham ficado muito confusas. Para mim ficaram um pouco.
obs.: não achei nenhuma música apropriada. mas gostei dessa.
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Rabiskos
RandomTentativas de trabalhar a escrita, através de temas variados, textos curtos, sem grandes compromissos, sem prazos ou metas, apenas aproveitando qualquer inspiração que surgir. Também posso revisitar algumas histórias ou poemas meus, publicadas em ou...