A prisão

3.8K 406 921
                                    

Cheguei no cativeiro. Olhei no relógio e eram 17:30. Perderei a minha liberdade por 38 dias. Ficarei sem foder e sem o meu carro por 38 dias. Ficarei 38 dias com uma mulher que me faz me sentir diferente. Prefiro entrar numa guerra e matar por 38 dias do que ficar aqui isolado!

Mas eu sei que a culpa é minha por ter pensado com a cabeça de baixo, eu devia ter olhado para o rosto dela pelo menos por um instante porque se eu tivesse feito isso, eu não estaria aqui hoje. Porém, como eu iria ser tão forte assim? Os peitos dela me chamavam de uma forma tão irresistível!

Saí do carro. Estava na hora de encarar a realidade.

Todos nós colocamos as meias. Eu sei que ela já me viu sem a meia, mas foram por alguns minutos e se eu ficar sem durante estes 38 dias, provavelmente ela vai saber até quantas pintas eu tenho no rosto e em que posição, milimetricamente falando, elas se encontram.

Se isso ocorresse, antes  de eu matar o cara do retrato falado da delegacia, eu pegaria o meu desenho porque eu sou muito lindo.

Abri o porta-malas. Salvatore cobriu os olhos instintivamente ao ver o sol e a Dayane permanecia desmaiada.

Ela estava deitada em cima dele, o rosto dela estava no peito dele. Não era essa posição que eles estavam quando ele deitou lá.

O meu sangue ferveu ao me deparar com a cena, eu estava sentido como se ela me pertencesse, como se ela fosse minha e ele a estivesse tirado de mim e eu quero ela só para mim, ninguém pode sequer sonhar em encostar nela. Por que eu estou sentindo isso?

“Salvatore, você pode me explicar o que aconteceu lá dentro?” Estava com sangue nos olhos.

“Nada, cara! Ela acordou duas vezes e eu a coloquei para dormir, como me pediu.” Ele arregalou os olhos completamente assustado com a minha reação.

“Quanto tempo ela está assim?” Perguntei.

“Não sei, não olhei no celular. 15 minutos ou talvez 20 minutos. Ela já deve estar acordando.” Ele respondeu bem mais tranquilo.

“Coloca a sua meia e me ajuda a colocá-la lá dentro.”

A peguei no colo. Gosto da sensação de ter o corpo dela junto ao meu. Salvatore abriu a porta e eu a coloquei deitada no chão do cativeiro com sutileza, para não dizer carinho.

“ De novo? Joga ela que nem macho, Christian!” Ricardo disse.

Revirei os olhos em protesto, mas preferi não dizer nada porque nem eu mesmo estava me entendo.

Sequestrar é ficar tão preso quanto a vítima, é ver choro e ouvir lamúrias o tempo todo, é não poder conversar, é comer mal, é não foder (a não ser que eu esteja sendo pago para estuprar também) é tomar banho frio no frio e não dormir porque  se deve vigiar a vítima o tempo todo.

Eu devia estar com ódio dela! Pela primeira vez não teremos rodízio em um sequestro e nunca sequestramos ninguém por tanto tempo assim. Eu não sei porque eu estou agindo como um banana.

“ Você me chamou de que? A partir de agora na frente dela, me chamem de chefe!” Gritei.

“Desculpa, cara.” Riccardo respondeu.

O cativeiro é da minha família há muito tempo. A polícia nunca soube a respeito.

A única falha do cativeiro é que, muito embora ele esteja afastado da civilização, o sequestrado, caso tenha sorte de conseguir sair da casa com vida, pode se embrenhar pela mata para tentar fugir.

Não pensamos em construir outro cativeiro em outro  lugar porque para fugir só de carro e até hoje ninguém conseguiu essa façanha.

A casa não é um cubículo como um cativeiro comum, é uma casa simples, mas completamente desconfortável.

Tem uma cozinha de porte médio, onde se tem apenas uma pia. Tem um banheiro pequeno com um vaso sanitário e um chuveiro com uma água fria que castiga no inverno, estação que infelizmente me encontro.

O último cômodo é um espaço grande, onde tem algumas cadeiras de ferro desconfortáveis e um pau de metal grosso, em que usamos para amarrar a vítima e, na grande maioria das vezes, torturar. Na janela foi colocado uma cortina de blackout. Em todos o cômodos tem janela com grade e tomadas.

Os meus parceiros sentaram- se na cadeira, esperando ela acordar. Eles se deliciam em ver as reações de alguém no momento em que se percebe que se está preso. Eu não gosto, me dá nos nervos. Ou eu saio de perto ou eu bato até a pessoa perder a vida, desmaiar ou calar a boca.

Olhar para ela naquele estado me aliviava porque eu sabia que assim que ela acordasse ia começar tudo de novo.

Os meus comparsas não estavam comigo à toa, eu tinha que pedir para que eles fizessem algumas coisas depois que ela acordasse.

Fui na cozinha e peguei um copo de água, voltei para o cômodo e lá estava ela inerte.

O meu coração apertou porque ela estava demorando muito para acordar, comecei a temer pela vida dela.

Parei na frente dela com o copo na mão e fiquei a encarando.

“ Christian, tem um balde no banheiro, dá um banho frio nessa gostosa!” Lorenzo disse.

Sorri malicioso porque imaginei a cena, mas estávamos no inverno e a temperatura cai bruscamente á noite e eu não quero que ela fique doente.

“ Adoraria, mas não quero que ela me deixe doente.” Respondi. Lorenzo apenas sorriu em resposta.

Contemplei aquela bealdade desacordada no chão, amordaçada, vendada e amarrada.

Joguei a água fria no rosto dela e torci mentalmente para que ela acordasse.
................................................

Acorda, Sheri!!

O homem está louco por você!!!! 💜

Dedicado á

ciganaSheri

O SequestradorOnde histórias criam vida. Descubra agora