Maldito sangue

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“Sabia que você sobreviveria, afinal você é um Ferrandini!” Meu pai me disse sorrindo enquanto abria a porta.

Vi a Meirieli completamente debilitada deitada naquela cama e todo ódio que eu senti dela havia passado. Passei a mão na testa dela e vi o quanto ela estava quente.

“Pai, retirou a bala? Ela está medicada?” Estava preocupado.

“Claro, meu filho! Esqueceu que fui eu que te dei essas aulas?” Eu sorri ao me recordar.

Flashes percorrem a minha cabeça, mas são cortados pela voz moribunda da Meirieli.

“Filho, você está aqui! Eu sabia que conseguiria fugir!” Meirieli sorria enquanto me estendia a mão. Demorei um pouco, mas acabei segurando.

“Maldito sangue! Maldito sangue que fez com que você não matasse o Gennaro! Te criei sem amor para que? Eu sabia que sequestrá-la não seria boa ideia, eu te dei o castigo para ver se a falta de amor no seu coração fosse prevalecer e deveria porque o amor estraga tudo! Mas o sangue venceu, o amor venceu! Maldito sangue!” Meirieli disse enquanto apertava com muita força a minha mão.

“Pai, o que ela está falando? Eu não estou entendendo nada.”

“Ela está delirando, filho!”

“Delirando? O nosso filho acabou de fazer a maior merda da vida dele, eu posso morrer e você vai continuar mentindo? Ele tem o direito de saber a verdade!” Meirieli disse com a voz fraca.

“Eu vou dizer tudo, tente guardar as suas forças.” Giuseppe disse para a Meirieli que assentiu com a cabeça.

“ Para que você fosse mafioso, não bastava te dar o treinamento, Meirieli achava que você não poderia receber amor. Sem saber o que é ter amor, você seria incapaz de dar amor e seria capaz de fazer atrocidades sem pensar que tal atitude era errada, sem se sentir mal por isso. Achei o pensamento dela radical, mas era coerente e apenas te ensinamos a proteger a nossa “família” para que você não fosse mal ao ponto de nos matar. Eu não consegui executar o plano com maestria do mesmo modo que a Meirieli e ela sempre me culpa por te dar um pouco de amor e por causa deste amor que você recebeu de mim, você tinha bons sentimentos e a pessoa que você mais demonstrava isso era o Salvatore. Meirieli quis que eu o apagasse por diversas vezes para despertar o pior em você, mas eu a fiz perceber que esse ato poderia fazer com que você se voltasse contra nós e provavelmente, faria com que você nos matasse. Ela desistiu dessa ideia absurda! Acredite filho: ela te ama e tudo que ela fez foi por amor a você. Ela negou te dar amor por amor a você, pensando no seu bem e esse é o motivo dela ter te maltratado a vida toda.”

Meu pai sorriu e deu um beijo na testa da Meirieli que estava chorando. Eu nunca tinha visto minha mãe chorar e nunca imaginei que ela tivesse algum tipo de sentimento dentro dela.

“Agora vamos para a parte difícil que vai fazer com que você entenda porque era tão importante que você matasse o Gennaro: nós não contamos toda a história com relação ao seu nascimento. Eu te entreguei para a Meirieli e ela ficou extremamente feliz, no dia seguinte eu fui fazer o serviço na casa do homem que me contratou, ele tinha me dado a cópia da chave e eu entrei. A mulher estava de camisola, ajoelhada, rezando e chorando muito, eu olhei dentro dois olhos dela e eu percebi que de alguma forma ela já sabia que ia morrer. Você tem os olhos dela: cinza e que se escurece sempre quando você fica desse jeito que está agora. Eu andei pela casa toda a procura da criança que eu deveria matar, mas o berço estava vazio e no porta retrato tinha a foto de um menininho lindo que eu aprendi a amar. Sim, o menino era você. Eu não queria matar a sua mãe, mas se eu não fizesse isso ele me mataria. Ele era importante na política, tinha muito dinheiro e eu sei que ele não mediria esforços, além disso, como eu devolveria você para a mãe? A Meirieli perderia outro filho. Sem pensar muito eu a matei. Me desculpa?”

O SequestradorOnde histórias criam vida. Descubra agora