Capítulo 44

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-Julian

Ao ver Alex passar desesperadamente pela porta do banheiro, atropençando nos próprios pés enquanto colocava sua camisa aquela noite, tive a certeza de que nunca mais o veria novamente. Ele parecia ter medo do que tinha acabado de acontecer entre nós nesse cubículo. Nossas trocas de olhares, minha mão percorrendo seu corpo descoberto, seus movimentos encima do meu colo, os mesmos lábios que tinham acabado de se tocar numa intensidade fora do comum, foram deixados pra trás. Fui até a pia e joguei uma água no rosto pra tirar esse sentimento de culpa, porque não poderia ter o deixado ir embora naquele estado. Mas o garoto me pegou totalmente de surpresa e então correu, correu pra longe de mim. De olhos ainda fechados, abaxei a cabeça e respirei fundo. Minha cabeça estava girando. Ouvi quando uma pessoa entrou no banheiro cantando a música que estava tocando de forma insurdecedora do lado de fora. Levantei a cabeça rápido na esperança de que ele havia voltado, mas me enganei.

-Merda! -praguejei e saí do banheiro apressadamente pra ver se o encontrava. Cheguei no bar e olhei pra todos os lados à sua procura, mas sem sucesso. Cerca de dez minutos após o acontecido, enquanto eu me recuperava na cozinha, dois seguranças apareceram pedindo ajuda pra separar uma briga do lado de fora da boate. John, um dos caras, chegou perto de mim.

-Você vai lá me ajudar ou vai ficar aí sentado? -perguntou.

-Eu não tenho nada a ver com isso -dei uma pausa e bebi um copo de água. -Que se matem! -falei dando de ombros enquanto voltava para o meu trabalho.

Os dias passaram e com eles o estresse apareceu. Respondia todos de forma grosseira e me sentia cada vez pior por dentro, pois a cada festa que ocorria, eu esperava que o garoto aparecesse novamente. Gostaria de vê-lo e me desculpar pelas coisas que eu fiz, porque eu tinha consciência do seu real estado naquele momento. Eu achei ele bonito e acabei me aproveitando da situação e agi por impulso. Depois de algumas semanas, a realidade bateu à minha porta e disse que ele não apareceria. Nunca fui de acreditar em destino, onde duas pessoas estão predestinadas ao amor infinito e a vida se encarrega de juntá-las de qualquer forma. As coisas acontecem atravéz de nossas ações. Existe um momento, e é desse momento único que se extrai os sentimentos verdadeiros, seja ele de amizade - em um grupo de colegas, familiares, etc - ou até mesmo o amor - em um parque, no metro, etc. No meu caso foi na boate a qual eu trabalho há apenas 4 meses. Talvez o que eu sinta não seja nem amor de verdade, e sim, uma atração bem forte.

A boate funciona de quinta a domingo apenas à noite, e pela manhã, os funcionários da limpeza dão uma faxina pra que ela seja entregue em ótimas condições. Como fui contratado há pouco tempo, digamos que sou o "faz tudo" desse lugar. Fico apenas duas horas na parte da manhã e trabalho à noite como barman, por isso o trabalho é em dobro. O pagamento é o suficinte pra quem mora sozinho e disso não tenho do que reclamar.

Aos sábados, tenho o costume de almoçar em um dos pequenos restaurantes que tem por perto, nomeado de Jeffrey's Restaurant.

-Estou morrendo de fome -declarei a Claire, uma das mulheres que trabalha comigo. Ela já tem seus trinta e oito anos e só gosta de trabalhar na boate, porque assim, ela se sente mais jovem, mais alegre, como a mesma diz.

-Vai comer alguma coisa logo, depois você termina de pendurar esse negócio -disse ela se referindo aos enfeites que eu colocara nas paredes.

-Vai querer alguma coisa? -perguntei descendo da escada e seguindo até a porta, mas não antes de ouvir sua resposta, um sonoro não. Saí do local totalmente distraído, até que levantei o rosto.

Havia uma pessoa parada em frente a boate falando ao telefone. Eu conhecia aquela voz. Fiquei tão em choque de poder estar ouvindo-a novamente que nem me dei o trabalho de ir até ele. Alex se virou tão rápido que acabou vindo de encontro com meu ombro. Ele tinha a mesma expressão no olhar no momento em que o joguei dentro da cabine do banheiro. Estava assustado. Eu engoli a seco e me faltou um pouco de ar.

O Emo Apaixonado (Romance Gay) [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora