CINQUENTA E SEIS

459 27 2
                                    

Capítulo Cinquenta e Seis

Atena desviou o olhar do rosto sem vida de Jac assim que seu peito desceu pela última vez. Ele havia traçado a própria redenção. Ainda era um traidor, e ainda era o responsável por levar os deuses até ali sem qualquer plano montado de ataque, mas havia feito um último ato de coragem. Talvez acabasse nos Campos Asfódelos.

- Bem, isso foi mais dramático do que o necessário. - Eurínome suspirou. - Acho que devemos encerrar as formalidades por aqui. Já estou entediada e não temos a noite toda, não é mesmo?

Atena concordou, mas sentiu o corpo gelar. Estava diante da que provavelmente seria a batalha mais difícil de toda a sua vida. Não só porque além de proteger a si mesma ela queria proteger Poseidon; ela havia lidado com uma situação parecida na Guerra de Tróia - onde todos pensavam que os dois estavam em lados opostos quando na verdade Atena o estava mantendo vivo, e ela precisava fingir que queria matá-lo quando na verdade tentava protegê-lo; mas porque, pela primeira vez, não sabia como derrotar o adversário.

Os adversários, no caso.

Eurínome fez surgir, a partir do nada, dezenas de criaturas que lembravam zumbis. Tinham a pele descamada, com seus órgãos vitais à vista, e se arrastavam como mortos ao andar. Criaturas porcamente criadas.

Atena não teve tempo sequer de discutir um plano com Poseidon antes de começar a ser atacada. Ela apanhou sua espada do chão, pronta para começar a lutar, mas quando voltou a levantar, a lâmina de dois gumes cortou um dos "zumbis" a sua frente, e quando ela impulsionou o braço para trás, planejando eliminar uma outra criatura que se aproximava, acabou matando outra que se espremia atrás dela. E então a luta, que deveria ser trágica, se tornou cômica. A verdade era que, em meio a fúria, Eurínome criou tantos monstros que nem Atena e Poseidon conseguiam empunhar suas armas, e nem os mortos-vivos conseguiam usar qualquer que fosse seu ataque.

Então, presa àquela posição, Atena passou a simplesmente impulsionar a espada para frente, dissolvendo os zumbis em matéria escura. Com a ajuda de Poseidon, que espetava os monstros que atacavam do lado oposto com seu Tridente, o cômodo não demorou muito a ter um espaço minimamente decente para a luta.

E a luta não havia acabado por ali. Quanto mais monstros eram eliminados, mais Eurínome criava, e não eram todos como os primeiros. Alguns era feitos da matéria prima que se podia encontrar ao redor, como madeira, musgo (esses eram realmente fáceis de matar) e até de plantas. Levava menos de um segundo para acabar com as criaturas, mas com tantas delas ao redor, aquilo começava a ficar realmente cansativo. E isso quem pensava era Atena, que não se cansava facilmente.

Com um plano já formado para encerrar tudo aquilo, Atena deu um passo para trás cuidadosamente, procurando ficar próxima do ouvido de Poseidon, ainda que não conseguisse chegar tão perto quanto gostaria por causa de sua altura.

- Será que você poderia fazer alguma coisa para acabar com um monte deles de uma vez usando seus super poderes de peixe? - ela murmurou.

Depois de espetar um monstro de madeira com seu Tridente e transformá-lo em poeira, Poseidon virou apenas a cabeça para respondê-la:

- Os mesmos poderes de peixe que você também tem e pode usar se quiser?

- Preciso chegar até Eurínome - Atena apontou. - Não posso fazer as duas coisas.

- Certo - Poseidon enrolou os dedos em torno do cabo de seu Tridente com mais força, deixando os nós dos dedos brancos. - Se segure.

Atena se preparou para o que quer que estivesse prestes a acontecer, a espada em mãos e os pés bem firmados no chão. Mas o que Poseidon fez, afinal, foi trazer uma onda gigante desde a costa até a casa, usando a água em alta velocidade - como Atena havia feito na ilha Dauphine num dia que parecia estar a séculos de distância - para derrubar todos os monstros dentro da cabana.

Três Desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora