UM

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Capítulo Um

Atena quase exultou as leis do livre-arbítrio quando finalmente se livrou de Apolo. O deus do sol parecia ter tirado aquele dia inteiro para desperdiçar seu tempo com atividades inúteis, como saraus de poesia onde só ele se apresentava, competições de arco e flecha onde definitivamente só ele era capaz de acertar os alvos a cem metros de distância e mesmo um passeio para ver o pôr do sol do Central Park - o que, na opinião de Atena, foi a mais inútil das atividades, já que ela poderia ter ido a qualquer lugar do mundo em um segundo para ver o pôr do sol com menos poluição.

E ainda, para terminar, quando perguntou para Apolo qual era o motivo daquilo tudo, ele se negou a responder e disse que se sentia ofendido em saber que não podia tirar um dia na companhia de sua irmã sem que fosse suspeito. Atena sabia que estava longe de ser verdade. Apolo era bom em muitas coisas, mas mentir não era uma delas. Ele passou todo o dia com os olhos estranhamente opacos; vez ou outra abaixava a cabeça ou se perdia em seus próprios pensamentos, e nenhuma dessas coisas eram típicas de seu comportamento. Mas apesar dos constantes questionamentos de Atena, ele insistiu que não havia nada de errado. No meio da tarde, ela decidiu que não perguntaria mais e se deixou participar de todas as atividades escolhidas pelo deus do sol. Não havia sido de todo ruim. Pelo menos a companhia dele era agradável, e Atena pôde, ao menos por um dia, se desatolar da quantidade de trabalho que tinha no Olimpo.

Apolo se despediu dela quando chegaram à entrada do Empire State, já depois do anoitecer, com a desculpa de que iria procurar o acampamento das Caçadoras para falar com Ártemis. Ele abraçou Atena e agradeceu pelo dia que passaram juntos, e a essa altura ela já estava convencida de que algo estava muito errado, mas antes que pudesse perguntar mais uma vez, Apolo desapareceu em névoa, deixando para trás um rastro de poeira dourada. Atena não teve escolha senão entrar no edifício e pegar o elevador que a levaria até o Olimpo.

Quando avistou seu palácio branco se erguendo majestoso à luz do luar, foi como se o ar lhe voltasse inteiramente aos pulmões. Lar, sua mente registrou - não que Nova York não fosse agradabilíssima lá em baixo, mas nada se comparava à quietude e à paz do seu palácio no Olimpo. Atena abriu as enormes portas de madeira escura que guardavam o lugar, e se deparou com o mesmo ambiente de quando saíra: quieto, calmo e organizado, como ela fazia questão de manter.

Assim que se colocou a subir as escadas para seu quarto, tencionando desfrutar de uma banheira quentinha por menos uma hora, ouviu batidas na porta. Revirando os olhos, caminhou até lá e abriu, encontrando ninguém mais, ninguém menos que Zeus encostado no batente.

- Oi, pai - Atena saudou, não se preocupando em fingir animação. - Em que posso ajudar?

Zeus apertou as têmporas como sempre fazia quando estava nervoso, antes de responder, ignorando qualquer lei que a educação impusesse:

- Preciso falar com você.

Sem dizer mais nada, Atena se afastou para que Zeus pudesse entrar. Ele sentou em uma poltrona da sala de estar, logo depois do hall de entrada, enquanto Atena ocupou o lugar a sua frente. Sua presença ali fazia o ar vibrar com eletricidade.

- Aconteceu alguma coisa? - perguntou Atena.

- Ainda não - Zeus respondeu, batucando os dedos em sua poltrona. - Mas vai acontecer se não tomarmos as providências necessárias. Por isso vim falar com você.

- Oh - Atena fez, mais de cansaço do que de surpresa. - Vá em frente.

Zeus respirou fundo, o que fez jus ao discurso que proclamou a seguir:

- Estivemos mantendo isso em segredo dos outros deuses há algum tempo, mas a guerra contra Gaia e seus aliados não acabou ainda - ele confidenciou. - Como você sabe, alguns dos titãs não se juntaram a ela na luta com os Acampamentos, e agora que estão soltos pelo mundo mortal, estão aproveitando para agir. Hades tem recebido informações dos mortos recém-chegados de atividades que só podem ter vindo de entidades divinas. Estamos tentando encobrir tudo até agora, mas a situação chegou a um nível em que precisamos de ajuda. Precisamos de você.

Três Desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora