VINTE E NOVE

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Capítulo Vinte e Nove

Ela o seguiu para dentro do quarto e se sentou na cama, curvando os ombros. Se sentia tão cansada pelo trabalho do dia inteiro que poderia dormir ali mesmo, como estava.

- Você vai tomar banho primeiro ou eu vou? - ela perguntou.

- Pode ir primeiro - Poseidon cedeu. - Ou podemos ir juntos, se você quiser.

Atena torceu o nariz em uma careta de desgosto e se levantou.

- Se você entrar nesse banheiro, eu arranco seus olhos fora.

Poseidon levantou as mãos como quem se rende e se afastou. Atena fechou a porta e se despiu, olhando-se em seguida no espelho da bancada próxima. Pelo dia exaustivo de trabalho e pelo estresse que passava nos últimos dias, esperava estar com uma aparência horrível, mas se deparou exatamente com o contrário: tinha as bochechas rosadas, os olhos brilhantes e algo diferente em seu rosto. E sabia exatamente a que se devia isso. Deveria se castigar por tal coisa; estava transgredindo seu próprio juramento na cara dura, sem pensar nas consequências ao deixar que Poseidon a tratasse daquele modo e se rendendo tão gratuitamente.

Céus, quando alguém poderia dizer que Atena, a toda poderosa Atena, deixaria de pensar?

A deusa entrou debaixo do chuveiro, deixando que a água quente eliminasse todas as suas preocupações por pelo menos alguns minutos. Eram raras as ocasiões em que Atena relaxava, mas o banho era uma delas. Ela não sabia quanto tempo tinha passado quando ouviu batidas na porta.

- Atena! - era a voz de Poseidon. - Ande logo, eu estou com sono.

- Espere um pouco - respondeu Atena. - Ou vai dizer que está preocupado com a conta de água?

- Muito engraçado mesmo - retrucou Poseidon. - Vai demorar muito?

- E se eu for? - ela desafiou.

- Eu invado o banheiro.

- Você não...

- Duvida? Eu vou contar até três.

- Mas eu ainda não...

- Um.

Atena desligou o chuveiro e correu até o roupão pendurado sobre um suporte do lado de fora do box, quase tropeçando no caminho.

- Dois.

- Espere só um...

- Três. Pronto?

Atena abriu a porta do banheiro, ofegante. Poseidon estava realmente encostado na parede ao lado, mas a julgar pela tranquilidade que exibia, não parecia ter intenção alguma de adentrar no banheiro.

- Você é um infeliz, Poseidon.

O deus percorreu um olhar pelo corpo de Atena, coberto apenas por uma toalha, antes de voltar a focar em seus olhos.

- Eu sei - Poseidon piscou, sorrindo. - Mas sou um infeliz que vai tomar banho antes de amanhecer.

Ele entrou no banheiro, abandonando no quarto uma Atena com a cara fechada.

Minutos depois, Atena estava apoiada sobre o guarda-corpo da sacada, admirando a beleza da capital Atlântida enquanto desembaraçava o cabelo. Nunca havia visto a cidade de perto, mas do alto do palácio de Poseidon, se parecia muito com Nova York: tinha os mesmos milhares de luzes durante a noite, as mesmas ruas repletas de pessoas passeando; a única diferença era a aparência antiquada, herança da arquitetura grega das edificações. Atena adorava observar aquele tipo de coisa, e mal reparou no tempo que passou ali, até que sentisse uma mão em sua cintura.

Três Desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora