ONZE

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Capítulo Onze

Enquanto preparava o almoço, Poseidon observou Atena. Não deixou que ela reparasse, é claro, mas nos breves momentos em que ela se distraía com alguma coisa, seu olhar se demorava sobre ela. Ele estava se lembrando da cena na praia, enquanto a ensinava. Sua mente reproduzia como em um replay a gargalhada da deusa quando conseguiu parar a onda.

Os olhos cinzentos dela assumiram um brilho que faria a lua sentir inveja. O sorriso... há quantos séculos ele não a via sorrindo daquele jeito, tão genuinamente? Talvez ele nunca houvesse visto. Ela estava sorrindo de verdade. E ria de verdade, também. E que belo sorriso Atena tinha. Ele fazia o rosto de Atena parecer mais leve, e por um instante a deusa era apenas... Ela. Nenhuma máquina de planejar guerras e nenhuma estátua de mármore.

Poseidon decidiu que gostava mais da Atena sorridente do que daquela com quem brigava todos os dias. Gostava mais da Atena viva do que da Atena congelada em seriedade. E decidiu que faria o que pudesse para voltar a vê-la abrir aquele sorriso precioso e iluminado.

- Hum... - Poseidon ergueu uma mão enquanto mastigava sua comida, chamando a atenção de Atena, do outro lado da mesa. - O que você planejava fazer agora à tarde?

Atena deu de ombros.

- Apenas estudar o que você registrou sobre a ilha - ela respondeu, baixando os talheres. - Por quê a pergunta?

- Bom, eu acho que devíamos aproveitar que já estávamos treinando hoje cedo - Poseidon começou a sugerir, - e treinar mais um pouco à tarde, mas dessa vez as nossas habilidades em luta.

Atena abriu um sorriso presunçoso.

- Seria meio injusto com você, não? - ela perguntou. - Você deve estar meio atrofiado.

- Atrofiado? - Poseidon perguntou, em tom de desafio. - Por que eu estaria atrofiado?

- Bom, você já está um pouco velho - Atena respondeu, e o deus ergueu uma sobrancelha para ela. - E já não luta há um bom tempo.

- Muito engraçado ouvir uma pessoa de quatro mil cento e vinte e um anos me chamando de velho - ele riu, limpando a boca com um guardanapo - Você é um exemplo de juventude, é claro.

Atena não conseguiu conter seu queixo de cair a tempo.

- Como você sabe a minha idade?

Poseidon apenas deu de ombros, como se não fosse nada, mas para ela aquilo era algo grande. O fato era que a maior parte dos deuses não sabiam nem a própria idade. Depois de alguns séculos de vida, isso já não importava mais. Atena, no entanto, via certa relevância nisso, meramente por ser um detalhe que os deuses nunca sabiam uns sobre os outros, e Poseidon saber a sua idade quando outros deuses já não contavam mais nem as suas próprias... Bem, não dava para ignorar aquilo.

- Eu só sei - ele respondeu. - E também sei que eu ainda luto dez vezes melhor do que você.

Atena ainda estava se recuperando da surpresa que era ele saber exatamente quantos anos ela tinha quando respondeu:

- Ainda? Você nunca lutou melhor do que eu.

- Não é o que eu me lembro - Poseidon retrucou, meramente provocando.

- Tenho como provar - Atena afirmou.

- Isso é um sim? - Poseidon sorriu, maquiavélico.

Atena se levantou de sua cadeira, o prato em mãos e um sorriso diabólico nos lábios.

- É sim.

Poseidon também se levantou, simplesmente fazendo seu prato desaparecer com um estalar de seus dedos.

Três Desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora