VINTE E SEIS

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Capítulo Vinte e Seis

Atena acordou sozinha na cama, como já esperava. Uma luz fraca atravessava as cortinas do quarto e banhava seu rosto. A essas horas, Poseidon já devia estar tomando café no andar de baixo, esperando por ela para trabalharem.

A deusa se sentou, esfregando os olhos, mas antes que pudesse fazer qualquer outra coisa, um som chamou sua atenção: o barulho de água caindo. Oh, isso mudava muita coisa. Porque estava no fundo do mar, e Atena tinha a estranha certeza de que no fundo do mar não chovia.

Então Poseidon não estava no andar de baixo; estava logo ali do lado, tomando banho. Só podia ser ele, certo? E pior do que ouvir o chuveiro ligado, foi ouvi-lo sendo desligado. Atena mais que depressa se deitou de novo e fechou os olhos, sem tempo de virar o rosto para o lado oposto ao banheiro.

Tão logo ela fechou os olhos, ouviu o tique da tranca da porta do banheiro sendo aberta, e em seguida o rangido da madeira se movendo. Talvez fosse a adrenalina, ou talvez Atena não estivesse em seu juízo perfeito, mas uma curiosidade súbita e infundamentada que se acendeu fez com que ela abrisse uma fresta dos olhos.

Poseidon estava parado de costas para ela, e por sua vez de frente para um enorme guarda roupa, coberto somente por uma toalha amarrada na cintura, e talvez Atena tivesse prendido a respiração pelo que viu. Não era como se ela nunca tivesse visto Poseidon sem camisa antes - ele fazia questão de desfilar pela casa com o mínimo de roupas possível -, mas nunca tinha, de fato, parado para observar sua forma com atenção. Suas costas eram musculosas e revestidas pelo bronzeado do qual ele não cansava de se gabar, e os músculos do trapézio se contraíam quando ele se abaixava para colocar a roupa. A água pingando dos cabelos negros e escorrendo por suas costas proporcionava uma cena digna de filmes românticos clichês; não que Atena assistisse muitos deles, mas conhecia o conceito de um galã, e Poseidon certamente seria um. Nem todo o ressentimento que a deusa da sabedoria nutria contra ele podia fazê-la negar que ele era atraente. Havia um motivo pelo qual as deusas e também as mortais se ajoelhavam para ele em questão de segundos. Durante séculos, Atena esteve no pequeno grupo de pessoas que não haviam se rendido ao charme dele, mas ficava frustrada de pensar que talvez já não estivesse mais.

Atena não sabia como lidar com aquele coquetel de emoções. Tinha conseguido evitá-las por tanto tempo; nenhum outro homem havia conseguido fazê-la sentir aquilo sem se controlar, aquele frio em seu baixo ventre que fazia com que ela quisesse ir até Poseidon e tocar o corpo dele, como se um imã a puxasse. Céus, como ele conseguia fazer aquilo?

Por um instante a deusa ficou imaginando o que ele fazia para conseguir aquele corpo; provavelmente os combates de milênios ajudavam muito, mas não podia ser só isso. Um físico daqueles exigia manutenção. Talvez levantamento de peso ou algum tipo de arte marcial? Ou talvez ele só usasse seu poder divino de ter a aparência que quisesse? A mente de Atena já começava a castigá-la por seu comportamento quando, num movimento para colocar uma camiseta de botões, Poseidon se virou de lado, deixando visível um corte na lateral de suas costelas. Não era tão grande nem tão fundo como o que Atena tinha nas costas, mas suficiente para causar um arrepio na deusa.

- Você está machucado - ela soltou, antes que percebesse.

Poseidon aparentou surpresa por um momento, fitando a deusa, que corou, mas em seguida deu um sorriso contido.

- Sim, eu reparei.

- Por que não me contou?

Poseidon deu de ombros.

- Não achei que fosse necessário - disse simplesmente. - Não foi um corte feio. Só um arranhão.

- Não é o que parece - Atena se levantou para analisar, e foi quase naturalmente que se viu tocando timidamente com a ponta dos dedos o corte rude que rasgava a pele do deus dos mares.

Três Desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora