QUARENTA E TRÊS

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Capítulo Quarenta e Três

Poseidon não a viu inicialmente, parada no canto ao lado do armário como se fosse uma horrorizada vítima de Medusa. Ele entrou no quarto distraído, segurando uma prancheta em uma das mãos e uma caneca na outra. Só quando parou para deixar a caneca em cima de uma mesa no canto foi que ele olhou ao redor e se deu conta da presença dela ali.

Mil sentimentos passaram por seus olhos quando ele encarou Atena: mágoa, raiva, confusão, e mais alguma coisa que ela era incapaz de entender. Ela se encolheu ligeiramente, não com medo, mas incomodada por ter que explicar aquela situação.

- O que você está fazendo? - Poseidon indagou, as sobrancelhas unidas.

Atena formulou uma dezena de discursos perfeitos em sua cabeça para dizer apenas o necessário e dar o fora dali, mas estar frente a frente com Poseidon sempre bagunçava um pouco seu cérebro. Quando conseguiu falar, sua voz estava baixa e incerta.

- Ontem, quando você ordenou que seus soldados soltassem o Jac, eles te desobedeceram. - ela explicou. - Deram uma surra no garoto e o jogaram no calabouço. Ele morreria em pouco tempo se eu o tivesse deixado lá. Eu curei os ferimentos dele e o trouxe aqui para cima, mas as roupas dele estavam encharcadas de sangue, então eu precisava arranjar outras. - as últimas palavras saíram atropeladas.

- Então decidiu vir escondida e pegar as minhas - a voz de Poseidon era fria e só havia acusação em seu tom.

Atena não acreditou que ele sequer tivesse perguntando sobre Jac. Logo ele, que era tão curioso. Não se importou em se indignar com os soldados desobedientes, não estranhou o estado de Jac. Só fez uma constatação óbvia que acusava Atena.

- Não quis te incomodar por causa disso. - respondeu Atena, secando as mãos suadas pelo nervoso em sua camisa. Poseidon não parecia realmente se importar com a resposta dela; ele deu as costas e caminhou até a porta. - Posso arrumar roupas em outro lugar, se não quiser que eu pegue as suas.

O deus abriu a porta e segurou aberta, parado ao lado da saída.

- Não ligo. Leve.

Era uma permissão e também uma ordem clara para que ela saísse dali. Atena atravessou o quarto em passos rápidos, olhando para qualquer coisa que não fosse Poseidon. Só quando já estava bem na frente dele, prestes a cruzar a porta, foi que teve coragem de olhar em seus olhos.

Poseidon era bom em usar uma máscara, mas seus olhos o denunciavam, porque Atena o conhecia bem demais. Ali nas orbes verdes ela viu o tanto de coisas que ele queria falar mas engoliu, uma por uma, e cobriu com um semblante indiferente.

Ele estava quieto desde a noite passada, e aquilo era perturbador. Atena se preparou para ouvir gritos e talvez coisas se quebrando, mas não se preparou para aquele silêncio mórbido, aquela calma mortal com a qual ele a estava tratando desde então. Aquele não era o Poseidon que ela conhecia. Ele nunca perdia uma oportunidade de brigar com ela.

Atena parou na frente dele, e precisou de toda a coragem que tinha para perguntar, cautelosamente:

- Você está com raiva de mim?

O olhar de Poseidon passou de indiferente para surpreso pela pergunta.

- Eu não sei se raiva é a palavra - sua voz estava hesitante, grossa, transparecendo um resquício de sentimento pela primeira vez naquele dia. - Mas enquanto não encontro outra... Sim, raiva vai servir.

- Então me fale isso - Atena pediu. - Diga por quê está com raiva, grite comigo, me expulse do seu quarto, me expulse do seu palácio, mas fale alguma coisa. Eu sei lidar com isso, mas não sei o que fazer sobre o seu silêncio. Não consigo saber o que você está pensando e sentindo.

Três Desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora