DEZESSETE

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Capítulo Dezessete

Eram pontualmente seis e meia quando Poseidon chamou Atena do andar de baixo. Além de ser surpreendida por vê-lo sendo pontual uma vez na eternidade, um sentimento estranho que crescia em seu peito também a surpreendia. Algo que queimava, e arranhava, e trazia a sensação de que centenas de borboletas voavam por seu estômago. Não tinha certeza do que fosse, mas parecia... ansiedade. Mas só podia vir de sua imaginação, é claro, porque nunca, nem mesmo em um milhão de anos, se sentiria ansiosa para ver Poseidon.

Passou na frente do espelho do quarto uma última vez, arrumando os menores detalhes de sua roupa, e por fim sorriu para si mesma. A beleza era algo muito subjetivo e com a qual Atena raramente se importava - mas ali, naquele momento, ela precisava admitir que sua aparência a agradava. Não sabia como Poseidon havia adivinhado, mas o caimento do vestido em seu corpo era ideal - não muito curto, não muito comprido. O tecido forte e elaborado ficava em evidência, mas não ofuscava a própria Atena. Tudo isso, combinado aos sapatos simples de salto baixo que ela escolheu, formavam um conjunto sóbrio mas ainda cheio de personalidade. Ela alisou o tecido nervosamente uma última vez antes de sair pela porta e descer as escadas.

Poseidon a aguardava de pé no fim dos degraus, vestindo roupas muito mais simples que o vestido dela - apenas uma calça bege de tecido leve e uma camisa preta de manga comprida cujo tecido realçava os músculos de seu peito e braços -, e ainda assim, ele não pareceria inadequado em lugar algum. As vantagens de ser um deus, Atena pensou. A escolha de roupa dele reforçou ainda mais as suspeitas de Atena sobre qual seria o destino misterioso para o qual ele planejava levá-la, mas a deusa não vocalizou seus pensamentos. Para variar, não queria estragar a surpresa.

Poseidon abriu um sorriso enviesado quando ela pisou nos últimos degraus da escada.

- Eu tenho um ótimo gosto, não tenho?

Atena revirou os olhos, caminhando até estar a poucos passos de distância dele.

- Sua humildade é a cereja do bolo, Poseidon.

O sorriso do deus se ampliou ainda mais.

- Suponho que você já tenha adivinhado para onde vamos?

Atena inclinou a cabeça.

- Eu tenho uma ideia vaga, mas tecnicamente, não sei - ela confessou.

- Ótimo. - disse Poseidon em tom convencido. - Eu consegui enrolar a deusa da sabedoria. Estou ficando bom nisso.

Atena rolou os olhos, mas não pôde evitar abrir um pequeno sorriso. Ela não havia tentado, realmente, acertar qual era o destino para onde Poseidon a levaria, porque sabia que descobriria. Ela queria manter o elemento surpresa por causa dele.

- Estou curiosa para descobrir qual é esse lugar misterioso.

Em resposta a isso, Poseidon estendeu o braço na direção da deusa, e ela o aceitou, enrolando a mão em torno de seu cotovelo - era o mais alto que ela alcançava nele sem se esforçar.

- Pronta?

Atena respirou fundo discretamente antes de acenar positivamente com a cabeça. Poseidon sorriu e se inclinou em sua direção para murmurar:

- A propósito, você está linda.

Antes mesmo que o sangue terminasse de subir às bochechas de Atena, a sensação familiar de se dissolver em névoa revirou seu estômago por um breve segundo. E então seus ouvidos foram inundados pelo som de centenas de vozes juntas. Atena piscou algumas vezes enquanto registrava a paisagem ao seu redor.

Estavam de pé à beira de um amplo terreno, aparentemente baldio - exceto por uma construção retangular de madeira a uma curta distância dali -, onde o chão era de terra e se estendia até o local onde ondas calmas se quebravam. Atena sentiu em suas veias a agitação do mar pela chegada de ambos os deuses ali, e tratou de acalmar as águas.

Três Desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora