VINTE E OITO

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Capítulo Vinte e Oito

Já começava a escurecer do lado de fora quando as pilhas de papel foram finalmente eliminadas. Poseidon e Atena estavam exaustos; ambos haviam passado praticamente o dia inteiro plantados naquele escritório, carimbando ou assinando folhas e eventualmente fazendo piadas sem graça - isso da parte do deus dos mares, é claro. Eventualmente, ainda eram interrompidos por batidas na porta de todo tipo de pessoas: soldados, oficiais, o general Dolfim ou criados com algum aviso para Poseidon. E ele parava pacientemente seu trabalho para atender cada um deles. Atena só conseguia pensar em como havia subestimado sua paciência.

Ela mesma estava acostumada a trabalhar por horas seguidas no Olimpo, não era nenhuma novidade; no entanto, não havia uma criatura corajosa o suficiente para entrar em seu palácio e interrompê-la. Pelo menos aquela tarefa ficava a cargo de Zeus, quando algum aviso precisava ser dado. Poseidon ficava com todas as partes do trabalho, e Atena o admirou ainda mais por aquilo.

O estômago de Atena roncou quando ela olhou pela janela do escritório e reparou nas luzes da cidade, que começavam a acender. Poseidon continuava de cabeça baixa, lendo a última folha de papel. A deusa se levantou, estalando todos os seus ossos ao se espreguiçar.

- Estou morta de fome. Vou descer para jantar - anunciou. - Você vem?

Poseidon balançou a cabeça.

- Ainda preciso ter uma reunião com Dolfim hoje. - ele explicou. - Mas fique à vontade para pedir que façam a janta só para você.

Atena assentiu e deixou a sala. Era uma sorte que sua memória divina fosse boa, e ela decorou o caminho de volta ao cômodo que mais acessara durante a sua estadia ali: a cozinha. Abriu a geladeira, pegando qualquer coisa comestível que visse pela frente, e dispôs tudo sobre o balcão, selecionando um certo grupo de alimentos para comer. A deusa não via necessidade de convocar toda uma equipe de criados só para preparar a janta dela, não quando a geladeira de Poseidon era tão cheia de comidas acessíveis.

- Então é você - disse uma voz feminina desconhecida à sua frente. - A mulher pela qual o rei me trocou.

Atena ergueu os olhos, curiosa, e se deparou com uma náiade morena, de estatura um tanto quanto baixa e muito cheia de pompa para quem encarava uma deusa em pleno uso de seus poderes. A deusa se perguntou o que ela estava fazendo ali, e então se lembrou do que Helena havia dito sobre náiades que entravam no palácio sem permissão.

- E você é...? - perguntou Atena.

- Meu nome é Natalie - respondeu a náiade, cheia de pose. Atena teve que admirar sua coragem.

Talvez Natalie simplesmente não soubesse quem ela era. E que história era aquela de ser trocada pelo rei?

- Natalie - Atena esfregou as mãos, eliminando os vestígios de sujeira que havia ali. - Você sabe quem eu sou?

- Ah, os outros criados me contaram sobre você. - disse Natalie. - A deusa que chegou aqui há dois dias e agora não sai do lado do rei.

- Meu nome é Atena. - disse a deusa, ignorando a fala de Natalie. - E eu sou a última pessoa que você quer ter como inimiga nessa vida. Eu vou te dar uma chance de sair daqui agora ilesa, mas não prometo muito tempo.

- Não me importa quem você é. Só vim te dar um aviso. - disse a náiade. - Você é nova aqui e ainda não sabe como as coisas funcionam, mas eu - ela deu um passo mais para perto - muito em breve serei a rainha de Atlântida. Todos os que me conhecem já sabem disso. E quando eu for, essa bagunça vai acabar. Eu não gosto muito de dividir. E o próprio senhor Poseidon prometeu que...

Três Desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora