QUATRO

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Capítulo Quatro

Poseidon vasculhava os armários em busca de algo que só ele sabia o que era, e Atena permanecia sentada ali em silêncio, sem sequer saber por que é que estava ali, fazendo companhia para ele, quando poderia estar em outro cômodo bem longe. Ela só sentia que era o certo a fazer, já que ele estava cozinhando para os dois. O deus colocou alguns ingredientes sobre a ilha e, achando uma faca em uma gaveta, se colocou a cortá-los. Atena observava tudo aquilo em silêncio, absorta em pensamentos.

Como Poseidon sabia cozinhar? O deus não parecia o tipo que usava seu tempo para ler livros de receitas ou assistir programas de culinária. Mas pelo modo como suas mãos seguravam a faca, cortando com precisão e firmeza cada um dos temperos, era possível observar que ele sabia o que estava fazendo e não era inexperiente naquilo. Atena franziu o cenho, e sua expressão devia estar muito óbvia, porque Poseidon ergueu os olhos para ela, curioso.

- No que você está pensando? - ele indagou.

- Estou me perguntando como você sabe cozinhar - Atena admitiu antes mesmo que parasse para pensar no quão peculiar era a pergunta de Poseidon.

O deus abriu um sorriso de lado.

- Uau, que dúvida torturante. Que pena que você não pode me perguntar, não é mesmo?

Atena rolou os olhos, irritada porém não surpresa com o deboche em sua voz.

- Como você sabe cozinhar?

- Eu tenho bastante tempo livre às vezes - ele respondeu. - É algo que eu gosto de fazer e também é relativamente fácil. O que me surpreende mesmo é que a enciclopédia ambulante do Olimpo não saiba cozinhar.

- Eu não sou uma enciclopédia ambulante - Atena rebateu, distraída. - E bem... Eu raramente tenho tempo livre. Não desde que... Hum, de toda forma, estou sempre tão cheia de trabalho que dificilmente eu conseguiria separar algum tempo para aprender isso.

- Que tipo de trabalho poderia tomar tanto tempo assim? - Poseidon indagou, parecendo curioso.

- Eu faço todo tipo de coisa - Atena respondeu, endireitando a postura. - Supervisiono a reforma do Olimpo, resolvo alguns problemas com deuses menores, atendo situações do mundo dos mortais, organizo festas... Entre outras coisas.

Poseidon ergueu a cabeça, dessa vez nitidamente interessado.

- Pensei que tudo isso fosse o trabalho de Zeus.

- Algumas dessas coisas são - Atena respondeu, encolhendo os ombros. - Mas ao decorrer dos anos meu pai tem ficado... irresponsável. Ele não se preocupa com mais nada além das amantes dele, e se eu não intervir, as coisas se tornam um caos. E eu não posso deixar o Olimpo desmoronar só porque ele não se importa o suficiente.

- Mas isso não é justo com você - Poseidon protestou, e agora parecia indignado. - Você ao menos recebe ajuda de outros deuses?

- Eles estão tão desinteressados quanto Zeus - Atena disse simplesmente.

Poseidon franziu o cenho de um modo muito preocupante, e Atena desejou saber o que se passava em sua cabeça naquele exato momento.

- O que foi? - ela indagou, sem se conter.

Poseidon balançou a cabeça negativamente.

- Nada.

- Não parece que não é nada - Atena insistiu.

Poseidon a encarou, os olhos estreitos.

- Você levaria a minha opinião em consideração?

- Levaria - talvez Atena tivesse respondido rápido demais, mas era a verdade.

Três Desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora