CINQUENTA E OITO

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Capítulo Cinquenta e Oito

Atena acordou antes de Poseidon. Tal fato já era suficientemente raro para fazer o Universo entrar em colapso, mas a despeito da inversão de horários, o dia começara absolutamente normal - a diferença era que, dessa vez, Atena era grata por isso. Se tudo estava absolutamente normal, era porque um certo grupo de titãs, liderado por uma certa deusa primordial megalomaníaca e com sérios distúrbios em relações sociais havia sido impedida de destruir o planeta. E isso significava que a missão havia dado certo, e tudo finalmente estava acabado.

Mal havia se passado um mês, mas parecera durar uma eternidade. Um mês sem comunicação com o Olimpo, um mês sem ver os deuses com os quais convivia todos os dias, um mês presa ao homem pelo qual nutria um ódio mortal que na verdade não passava de amor reprimido (tensão sexual, Afrodite costumava dizer, ao que Atena olhava furiosamente para a deusa do amor); um mês, e Atena já não se parecia em nada com a deusa que aparecera na frente da casa de praia da ilha Dauphine carregando uma pilha de malas e desejando que Poseidon estivesse longe. Agora tudo estava acabado. E ela podia finalmente escolher o que fazer.

Atena se remexeu dentro do abraço de Poseidon, mas não tinha intenção alguma de se levantar. Sabia que fora daquele quarto não havia qualquer lugar melhor do que aquele onde estava no presente momento. E Poseidon estava num sono tão profundo que não demonstrou sequer um vestígio de consciência quando Atena se moveu perto dele. Bom, ela não o culpava. Não tinha experiência no assunto, mas imaginava que morrer e voltar à vida podia ser realmente desgastante.

Ela sorriu quando a mão áspera do deus dos mares roçou a pele desnuda de suas costas quando ele começou a acordar, e um arrepio percorreu seu corpo. Talvez ela nunca se acostumasse com Poseidon. Talvez ele viesse a ser um elemento surpresa constante, sempre com um lado oculto para mostrar, sempre causando uma reação diferente nela. Era isso que ela amava sobre ele. Ele não era uma pessoa quadrada. Nunca se podia esperar uma determinada atitude dele, porque Poseidon tinha um espírito independente e imprevisível, como o mar ao qual governava.

Atena não soube ao certo quanto tempo passou ali, apreciando em silêncio cada precioso segundo nos braços da pessoa que mais amava em todo o Universo, percorrendo com os olhos a extensão de seu rosto, os milimétricos traços belos que formavam o todo. Uma mecha negra de cabelo caindo sobre a testa, as sobrancelhas ligeiramente franzidas, os cílios fechados sombreando as bochechas e os lábios rosados, tudo criava um só elemento tão absolutamente lindo que chegava a ser injusto. Tudo aquilo era superficial e quase irrelevante quando comparado à beleza interior que ele carregava, mas certamente ajudava em algo.

A temperatura do quarto começou a cair ligeiramente, e Atena percebeu que Poseidon estava acordando antes mesmo que ele apertasse os olhos e os esfregasse com a mão livre antes de abri-los, e pareceu surpreso ao encontrar Atena já acordada olhando para ele.

- Você acordou cedo - ele observou, a voz rouca e falha.

Atena riu.

- Você sabe que horas são?

- Hum, não precisamente - Poseidon respondeu. - Mas eu sempre acordo antes de você, então suponho que seja cedo, não?

Atena apoiou o antebraço na parte superior do peito dele, tomando o cuidado de não se aproximar da cicatriz no abdômen, e beijou rapidamente seus lábios.

- Nem um pouco - ela murmurou com o rosto próximo ao dele. - Já passa de uma da tarde.

- Hum - Poseidon impulsionou a cabeça para frente, selando seus lábios mais uma vez. - Sendo que já é tão tarde, poderíamos aproveitar e passar o resto do dia aqui.

Três Desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora