CINQUENTA E SETE

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Capítulo Cinquenta e Sete

- Atena - a moira pronunciou seu nome com perfeita tranquilidade, alheia a tudo o que acontecia ali. - Imagino que esteja pronta para seu último pedido.

- Eu estou - Atena respondeu.

- E qual seria ele?

- Eu quero Poseidon de volta - disse Atena, sem hesitar.

Átropo, no entanto, caiu em silêncio por um instante que parecia se estender eternamente.

- Não podemos trazer pessoas de volta à vida - ela respondeu, por fim. - Nem humanos, nem deuses. Você conhece as Leis Antigas.

- Sim, conheço - Atena concordou. - E por isso sei que pode-se trazer uma pessoa de volta à vida com uma condição.

- Que outra vida igualmente valiosa seja dada em troca, para manter o equilíbrio - Átropo completou. - Você tem uma vida para dar em troca?

Atena deixou que seu olhar recaísse propositalmente sobre Eurínome, que agora parecia prestes a explodir de horror.

- Sim, eu tenho.

Átropo se virou, seguindo o olhar de Atena, e seu rosto foi preenchido de entendimento quando ela viu Eurínome atada com correntes de energia.

- Oh, eu vejo.

Atena deslizou a mão pelo rosto de Poseidon. Ele parecia estar se desmaterializando, sumindo, e isso porque ele realmente estava. Todos sabiam que os deuses iam para o Tártaro ao morrer. Ela nem mesmo entendia porque Poseidon ainda estava ali em carne e osso.

- Então... - Átropo pronunciou a palavra como uma sentença de morte. - Tem certeza de que é o que quer? É o seu último pedido.

- Eu tenho certeza - Atena respondeu, convicta.

- Se é o que deseja...

Átropo caminhou em passos lentos na direção de Eurínome, que começou a se debater dentro de sua prisão de energia, berrando desesperadamente em grego antigo. A moira, no entanto, prosseguiu sem se incomodar com os gritos, até estar face a face com Eurínome. Quando meros centímetros separavam as duas deidades, Átropo desenrolou um pedaço do fio dourado enrolado no carretel em sua mão esquerda. Depois, ergueu a mão direita, com a qual segurava a tesoura, e, dispensando cerimônias, cortou o fio.

No mesmo instante os gritos de Eurínome cessaram, porque a deusa desapareceu em uma nuvem negra de poeira.

Átropo se voltou para Atena, carregando a típica expressão vazia e sem vida de uma moira.

- O último desejo da deusa da sabedoria foi realizado. O Olimpo foi sábio em sua escolha. - ela disse, antes de simplesmente acenar com a cabeça e desaparecer.

E ela só dizia isso quatro mil anos depois.

Atena estendeu um braço para segurá-la, pretendendo avisar que a moira havia se esquecido de Poseidon, mas Átropo já não estava mais ali. E não seria necessária se estivesse, porque no momento em que ela desapareceu, os olhos de Poseidon voltaram a entrar em foco, e o corte em seu peito se fechou rapidamente, sendo substituído por uma enorme cicatriz. Seus olhos varreram o teto quebrado da cabana antes de recaírem sobre Atena, sentada ao seu lado cheia de expectativa.

- Espero que você tenha matado aquela mulher horrorosa ao invés de ficar aqui olhando para a minha cara.

Atena ignorou completamente sua ironia (e também o fato de que ele havia morrido há pouquíssimo tempo) e se jogou sobre ele, abraçando-o como se fosse a primeira vez - e de certa forma, era.

Três Desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora