SESSENTA

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Capítulo Sessenta

Atena só se permitiu respirar direito quando, por fim, ela e Poseidon chegaram aos jardins externos, longe de Zeus e de todas as possíveis batalhas. Ela soltou o ar, aliviada, e Poseidon passou o braço sobre seus ombros.

— Não foi tão ruim assim, não é, amor? – ele perguntou, tentando soar inocente, mas Atena enxergou nas entrelinhas de sua pergunta.

Ela lhe estendeu um olhar acusador.

— Você provocou ele – disse a deusa.

Poseidon abriu um sorriso culpado, mas não negou.

— Desculpe, eu não consegui evitar.

— Humpf – Atena bufou. – Sorte a de vocês que eu tenha conseguido evitar a batalha que estava prestes a acontecer ali. Toda santa vez é a mesma coisa.

Mas Poseidon, longe de se sentir afetado, apenas gargalhou, como se aquele fosse exatamente seu objetivo.

— Ele faz por merecer.

Atena somente revirou os olhos, sem oferecer a dignidade de uma resposta àquela disputa infantil por poder.

— Imagine só – Poseidon continuou, enquanto procuravam um local isolado para transcrever a missão. – A cara que ele vai fazer quando chegarmos juntos à festa. Já planejei toda uma entrada para que ele queira explodir esse lugar inteiro.

Atena já não tinha mais olhos para revirar ao fim dessa constatação, ao que ela apenas continuou caminhando na direção de um banco de pedra mais à frente.

— Parece que você me conquistou só para irritar meu pai – ela disse.

— Claro que não – negou Poseidon, depositando um beijo em seu ombro assim que Atena parou. – Você sabe que eu te amo. Poder irritar seu pai é só um bônus muito gratificante que vem junto.

— Sei – resmungou Atena.

A deusa se sentou no banco, convenientemente localizado ao lado de um lago e bem escondido dentro dos jardins, já conjurando um grande bloco de papel e uma caneta.

— Por que você escolheu esse lugar tão escondido no bosque? – Poseidon perguntou, um sorriso malicioso em seus lábios. – Por acaso está pensando em fazer alguma coisa... indecorosa aqui?

Aquela era a gota d'água para Atena, e ela por fim ergueu o rosto para Poseidon, seus olhos flamejantes.

- Se você me provocar mais uma vez... - ela deu alguns passos para perto dele. - Eu provavelmente vou abandonar essa transcrição e ceder. Colabore comigo só dessa vez.

Poseidon abriu um sorriso convencido.

— Só porque você pediu com jeitinho.

— Obrigada. E por sinal, não estamos nada sozinhos aqui. Há pelo menos vinte ninfas nos assistindo, então comporte-se.

Poseidon se aproximou, mas, ao invés de se sentar ao seu lado, ele deitou no banco, apoiando a cabeça nas pernas da deusa. Atena achou o ato fofo demais para repreendê-lo, então simplesmente fez o bloco e a caneta flutuarem e se colocou a acariciar os cabelos de Poseidon. Seus dedos já percorriam o local com tanta familiaridade que era como respirar, e ela abriu um pequeno sorriso.

— Tudo bem, precisamos ditar os acontecimentos para que a caneta vá anotando – ela explicou. – Então muito cuidado com o que você vai dizer, ou vou ter que mandá-la riscar a frase, e Zeus vai desconfiar. Entendido?

— Entendido – confirmou Poseidon.

Mas minutos depois, Atena estava convencida de que ele não havia entendido nada. Ele mandava a caneta escrever coisas que não deveriam estar no relatório pelo simples prazer de imaginar Zeus tentando enxergar debaixo dos riscos, e por vezes demais Atena precisou riscar melhor alguma besteira que ele disse. E só por causa da implicância do deus dos mares, os dois passaram quase três horas naquela posição, descrevendo seus procedimentos.

Três Desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora