VINTE E SETE

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Capítulo Vinte e Sete

Nunca fora tão difícil para uma deusa abrir uma porta como era para Atena empurrar a porta da sala de jantar naquele momento. Sabia que encontraria Poseidon do outro lado, com um sorriso sacana no rosto e respostas sarcásticas na ponta da língua para o que quer que ela dissesse. Ainda assim, respirou fundo e entrou no aposento.

A mesa enorme, com espaço para pelo menos 30 pessoas, estava disposta com os mais variados tipos de comida, como no dia anterior, mas todos os seus assentos luxuosos estavam vazios, com exceção de três na ponta, dessa vez ocupados por Poseidon, Helena e uma terceira figura que Atena não conhecia.

Conforme a deusa se aproximou, percebeu o cheiro do homem desconhecido sentado à mesa. Ele tinha um aroma forte e inconfundível que Atena reconheceria a milhas de distância: era um deus menor. E a julgar pelo que Helena tinha explicado no dia anterior, Atena tinha quase certeza de quem se tratava.

O homem não se levantou para cumprimentá-la, como Helena e Dolfim tinham feito, mas ele acompanhou com um olhar avaliativo conforme ela se aproximou da mesa. Ele tinha uma aparência peculiar: apesar de ser imortal, havia pequenas rugas no canto de seus olhos e alguns fios de cabelo branco em sua cabeça. Ele parecia estar no final de seus trinta anos humanos - ou trinta mil, já que era um deus. Fiel à descrição de Helena, o homem parecia muito sério, mas seu rosto não aparentava antipatia; apenas um tipo muito antigo de seriedade, a calma de um deus que avaliava cada indivíduo que se aproximava dele.

- Então você é a famosa Atena - disse ele quando ela finalmente alcançou a ponta da mesa. - Estou curioso para finalmente conhecê-la.

Atena não desviou o olhar dele quando continuou caminhando até a cadeira vazia ao lado de Helena. Poseidon e a garota observavam com curiosidade a interação dos dois deuses, em silêncio.

- Aparentemente eu sou a famosa Atena por aqui. - ela abriu um sorriso sagaz, apenas para avaliar a reação do homem. Os lábios dele se repuxaram pouquíssimo para cima. - E você seria?

- Meu nome é Proteu. Não tão famoso quanto você, com certeza - e para sua surpresa, ele estendeu a mão para ela.

Atena estendeu o braço através da mesa e apertou a mão de Proteu, os olhos ainda o analisando. Era difícil ver qualquer coisa nele. Ele tinha um semblante neutro e imperturbável - provavelmente era exatamente o que ele queria. A deusa teria que decifrá-lo na conversa.

- Não é todo dia que se vê uma olimpiana em Atlântida - Proteu sorriu. - Na verdade, essa é a primeira vez. Mas você não é qualquer olimpiana, é claro.

Atena inclinou a cabeça com curiosidade.

- Qual é a diferença?

Proteu olhou para Poseidon antes de responder. O deus dos mares parecia tão curioso quanto Atena para descobrir aonde aquela conversa chegaria.

- A deusa da sabedoria certamente sabe a diferença.

E Atena sabia. Só queria descobrir se Proteu teria a audácia de dizer em voz alta. Mas a audácia dele foi maior ainda, respondendo de uma forma que não o incriminava de confessar qualquer coisa, mas deixava a resposta explícita a qualquer um que entendesse a situação. Isso incluía todas as pessoas daquela mesa.

Atena se pegou aprovando Proteu silenciosamente. Ele era audacioso e parecia medir suas palavras. Parecia o tipo de pessoa que se daria bem com ela - e por acaso, parecia ser o melhor amigo de Poseidon. E por falar em Poseidon...

- Suponho que eu não precise apresentar vocês - disse o deus dos mares.

Atena corou ao olhar para ele; não por causa do que ele disse, mas porque lembrou do que estavam fazendo no quarto poucos minutos antes. Poseidon reparou no rubor em seu rosto e abriu um pequeno sorriso. Procurando qualquer outra coisa para olhar que não fosse ele, Atena lembrou que ainda não tinha falado com Helena, que observava os três deuses com curiosidade. Ela se virou para a menina.

Três Desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora