TRINTA E UM

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Capítulo Trinta e Um

Atena mal enxergou o caminho que fez até a porta do quarto de Poseidon, e então até a porta do seu quarto, logo à frente no corredor. A deusa não sentiu o choro vindo, mas se surpreendeu ao perceber que suas bochechas estavam molhadas. Merda, ela não tinha motivos para estar chorando! Maldito lado divino que não conseguia esconder emoções.

Fechando a porta de seu próprio quarto, Atena se arrastou até a beirada da cama e se sentou. Ela soltou uma respiração funda e, mal acreditando que estava mesmo chorando por algo tão besta, limpou as pequenas lágrimas que manchavam seu rosto. Ela fungou, engolindo o choro, e controlou a respiração.

Já havia tido outras brigas com Poseidon - brigas piores, a depender do ponto de vista. Por vezes já havia o expulsado de seu palácio aos gritos, mas parecia que nenhuma briga se comparava àquela discussão baixa, entre murmúrios, que haviam acabado de ter. Era diferente. O teor, o peso, o assunto, o clima. Era uma discussão que ela jamais imaginara ter com ele. Pela primeira vez, falaram como se aquilo que havia entre eles fosse de fato um relacionamento, e isso deixava Atena mais confusa do que nunca.

Algo mudou no quarto. Uma brisa gelada soprou, e Atena sentiu sua presença antes mesmo de vê-lo vagamente, iluminado apenas pela luz do lado de fora. E então, a próxima coisa que sabia era que haviam mãos por sobre as suas, enquanto Poseidon, abaixado à sua frente, a encarava com os olhos mais verdes do mundo. Ele não disse nada no primeiro momento, e tampouco Atena quebrou o silêncio. O deus subiu as mãos pelos braços dela até chegar em seu rosto, onde acariciou suas bochechas com o polegar. Atena fechou os olhos, xingando.

Droga. Era tarde demais para esconder que...

- Você estava chorando? - ele perguntou, e seu tom era de pura incredulidade.

Atena não quis verbalizar nada, sabendo que sua voz embargada a trairia, mas o aceno negativo que fez com a cabeça não convenceu ao deus dos mares, que se ergueu até a altura do rosto dela e selou seus lábios - e o jeito como sua boca pressionava tão gentilmente a de Atena, de modo que era mais um pedido de desculpas do que um gesto de desejo... Atena sentiu aquilo. Ela sentiu que havia tanto carinho em um único selinho que ela não sabia como lidar. Ela não devia ser capaz de sentir tudo aquilo apenas com um toque físico.

Poseidon não demorou a se afastar, ocupando então o lugar ao lado de Atena na cama. A deusa cruzou as pernas em posição de borboleta e se virou para ele, feliz que o escuro do quarto escondesse a vermelhidão de seus olhos.

- Odeio quando você diz essas coisas sobre si mesma. Sempre odiei. - ele respirou fundo, acariciando a cabeça da deusa, e apenas a sua voz já era muito mais do que um calmante para ela. - Nada do que você disse é verdade, Atena. Nem uma palavra. Primeiramente, você mais do que ninguém sabe o que é dedicar sua vida a outra pessoa.

- O que você quer dizer? - Atena olhou para baixo, temendo que seus olhos estivessem se avermelhando de novo.

- As coisas que fazem com você no Olimpo? - a voz de Poseidon estava carregada de uma raiva que ela só havia visto uma vez, na última vez em que tocaram nesse assunto. - O tempo que eu passei com você foi suficiente para perceber. Você mal come. Você não dorme direito. Você passa o dia trabalhando, e sempre que qualquer coisa dá errado, você acha que é sua culpa. Os olimpianos jogam tudo em cima de você, e você carrega as responsabilidades de todos nas costas e nem recebe um agradecimento por isso. Se isso não é dedicar a vida a outra pessoa, então eu não sei o que é.

Atena engoliu em seco, ouvindo atentamente a tudo o que ele dizia mas sem saber o que dizer.

- E sobre os sentimentos - Poseidon colocou uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha. - É claro que você entende. Você se viu no meio dessa situação toda e sentiu o que qualquer pessoa sentiria. Você estava chorando por algo que nem é culpa sua. Eu tenho certeza de que você entende tanto quanto qualquer um.

Três Desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora