VINTE E CINCO

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Capítulo Vinte e Cinco

A aventura estava nas pequenas humilhações da vida.

Já havia se passado mais de duas horas e Atena tinha rolado o suficiente na cama para conseguir se encasular com o lençol, mas não conseguira dormir. Não foi por falta de tentativa: tentou meditar de olhos fechados, como Afrodite ensinou, contou carneirinhos e cogitou até mesmo bater a cabeça com força na pia do banheiro para apagar de vez, mas nada deu certo (ela preferiu não tentar a última opção). E tudo o que conseguia pensar era no café da manhã do dia seguinte, quando apareceria com os olhos inchados e Poseidon iria sorrir e dizer um "eu te avisei" cheio de gosto; e a última coisa que ela queria era dar a ele esse gosto.

Mas por outro lado, quantas opções tinha? Não conseguiria dormir ali, isso era evidente. Talvez devesse fazer uma longa caminhada pelo castelo, mas além de correr o risco de se perder e ir parar na tal ala proibida, teria olheiras tão profundas quanto se passasse a noite em claro. E havia também a outra opção, mas... Não, ela não podia. O que ia parecer? Que era uma garotinha fraca, desaprendida de dormir sozinha por passar uma semana ao lado de seu inimigo?

Afinal, ele ainda era seu inimigo depois de tudo? Toda aquela história ainda era muito confusa em sua mente. A gentileza, o jantar, o beijo... O que isso o tornava? Um parceiro? Um amigo colorido, talvez?

Atena se sentou na cama. Talvez, se fosse muito silenciosa e fizesse um esforço para acordar mais cedo que Poseidon no dia seguinte, tudo desse certo e ele nem notasse sua presença. Mas quais as chances reais daquele plano funcionar? Não precisava nem ser a deusa da estratégia para saber.

- Estou enlouquecendo - Atena disse para si mesma. - Olhe as ideias que você está tendo, Atena. Está até falando sozinha e querendo dormir com ele.

Atlântida era, realmente, mais fria do que Atena esperava, quase tão fria quanto o submundo. Ela deveria saber, contando que a luz do sol não chegava ali. No entanto, nada mudava o fato de que seu corpo não tinha conseguido se acostumar ainda com aquele clima. E Poseidon parecia sempre tão quentinho. Com certeza se dormisse do lado dele, sentiria menos frio. Mas era loucura. Atena ficou sentada na beira da cama por uns bons minutos antes que dissesse para ninguém em especial:

- Dane-se.

Levantou-se e abriu a porta. Não havia movimentação alguma no palácio àquela hora, nem mesmo o guarda que estava em sua porta na noite anterior, o que rendia pelo menos uma vantagem àquele plano ridículo. Atena atravessou o corredor e entrou na porta logo a frente da sua, onde era o quarto de Poseidon, e suspirou em alívio ao ver que a porta estava destrancada (se Poseidon não havia feito isso de propósito só porque sabia que ela viria, ela não sabia de nada). Se esgueirou pela menor brecha que conseguiu abrir, tentando ao máximo não fazer barulho algum ao empurrar a porta, e adentrou o quarto na ponta dos pés, mal acreditando no que fazia. Poseidon estava estirado sobre a cama de casal, com dois edredons aparentando ser muito quentes embolados ao seu redor. Atena praticamente flutuou sobre os próprios pés até a beirada da cama, onde se sentou, colocando o menor peso possível sobre a cama. Sabia que Poseidon tinha um sono incrivelmente leve. Ela o encarou por um minuto, mordendo os lábios, pensando em quão terrível era aquela ideia. E subitamente a voz de Poseidon encheu o quarto num murmúrio:

- Vai ficar sentada aí me olhando?

Atena deu um pulo, colocando as mãos sobre o coração, que batia acelerado.

- Que susto, Poseidon. - ela murmurou e respirou fundo. - Só estava considerando minhas opções.

- Quais eram elas? - Poseidon abriu os olhos, fixando-os na deusa com diversão.

Três Desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora