SESSENTA E UM

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Capítulo Sessenta e Um

Quando os dois saíram do banho, já passava das sete, o que significava que a festa já havia começado e os deuses sequer estavam trocados.

Bem, valeu a pena, Atena pensou, com as pernas ainda meio bambas, enquanto sofria para fechar o vestido que havia costurado.

— Pode me ajudar com isso? - ela pediu para Poseidon, que também enfrentava problemas com sua gravata.

— Claro - respondeu o deus, abandonando a gravata em seu pescoço de um modo que o pano praticamente o enforcava.

Em segundos, o zíper do vestido de baile de Atena estava fechado. A deusa tinha um orgulho particular daquela costura, que era inspirada em uma roupa que ela havia visto com Afrodite quando foram juntas à New York Fashion Week. O tecido fazia um dégradé de azul quase negro em cima para um azul quase branco em baixo, pontilhado de brilhos que se assemelhavam à estrelas. Era a roupa mais linda que Atena já havia visto, e certamente a mais linda que já havia costurado também.

— Você está linda, amor - disse Poseidon, atrás dela, enquanto ela se olhava no espelho.

A deusa sorriu para ele pelo reflexo.

— Obrigada, amor.

O sorriso de Poseidon se alargou. Só então Atena percebeu que, apesar de estar acostumada ao apelido, antes irritante e agora carinhoso com o qual o deus a chamava, ela nunca o havia chamado do mesmo modo. Aquela era a primeira vez, e definitivamente era uma sensação boa ouvir a palavra deixando seus lábios.

— Pode me ajudar com isso aqui? - pediu Poseidon em retorno, apontando para a gravata.

— Claro - respondeu Atena, se dirigindo até ele.

A deusa passou os braços ao redor de seu pescoço, ajustando a gravata, e rapidamente fez o nó com o tecido. Poseidon soltou um suspiro de derrota.

— Acho que eu nunca vou me acostumar com essas forquilhas - ele confessou. - Como você sabe dar um nó de gravata, afinal?

Atena deu de ombros.

— Eu sei de tudo.

E disso Poseidon não tinha como discordar. Uma vez prontos, os deuses deram as mãos e se teleportaram outra vez para a frente do palácio principal. Dessa vez, a construção nem parecia a mesma de quando eles estiveram ali horas atrás. Os arredores e o próprio palácio estavam cobertos de luzes, flores e enfeites primaveris, que só sobreviviam no inverno olimpiano graças à magia de Perséfone e das outras deusas da natureza.

Pequenas luzes foram enroladas ao redor das árvores e colunas, e dispostas em forma de cascata na entrada do palácio, acompanhadas pelas flores, e só de bater o olho, Atena tinha certeza que aquela decoração era fruto da imaginação de Afrodite. Nenhum outro deus teria a ideia de colocar cupidos pendurados em todos os pisca-piscas.

Uma música alta vinha do lado de dentro, acompanhada pelo som estridente de muitas vozes falando ao mesmo tempo, e embora tudo isso devesse tranquilizar Atena, ela estava um pouco receosa.

Uma hora ou outra sua família descobriria sobre ela e Poseidon - talvez fosse naquela noite, talvez não. De toda forma, a deusa temia o modo como alguns deles reagiriam, especialmente seu pai. Assim como Poseidon, Zeus não era nenhum mestre em controlar a própria raiva.

— Pronto para enfrentar nossa família? - perguntou Atena.

— Não - respondeu Poseidon, com um sorriso.

O deus segurou uma mão de Atena e depositou ali um beijo antes de soltá-la.

— Provavelmente seria melhor não entrarmos de mãos dadas - ele deduziu.

Três Desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora