DEZOITO

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Capítulo Dezoito

A mulher, de traços belíssimos e austeros, parecia ter em torno de quarenta anos, embora fosse difícil dizer, e tinha um olhar duro em seu rosto (que era, por sinal, idêntico ao da garotinha). Atena reconheceu a sabedoria e a experiência por trás das rugas em torno de seus olhos - como deusa da sabedoria, seu primeiro instinto era encontrar aqueles que refletissem suas habilidades - e entendeu, em menos de um minuto, que aquela mulher era a mãe da menina, a líder do vilarejo.

Apesar da expressão grave, a mulher abriu um sorriso sereno ao curvar a cabeça para Poseidon e Atena em sinal de respeito. Ela havia sido a única, até agora, a fazer aquilo - talvez porque seu gesto falasse por todo o povo.

- Jaliah, não deve fazer esse tipo de perguntas aos nossos convidados - a mulher repreendeu, mas não havia raiva em sua voz. Jaliah se calou imediatamente. - Não se lembra de quem eles são?

- Está tudo bem - Atena se adiantou a dizer. - Jaliah e eu somos amigas, certo? - ela piscou para a garotinha, que abriu um sorriso empolgado. - Ela pode me perguntar qualquer coisa.

A mais velha manteve o sorriso no rosto, mas observou a deusa com atenção.

- É muita gentileza sua, senhorita. - ela estendeu a mão para Atena, que a apertou. - Qualquer amiga de Poseidon é bem vinda entre nós.

Todos eles chamavam Poseidon pelo nome, Atena reparou, mesmo com a reverência que a mulher havia prestado a ele. Nada de senhor ou qualquer título formal.

- Agradeço sua hospitalidade - Atena retribuiu.

- Sempre estaremos de portas abertas para vocês aqui - a mulher assentiu, e Atena entendeu que com "vocês", ela se referia aos deuses, como ela certamente já havia percebido que Atena era.

Qualquer um que soubesse da existência dos deuses era capaz de identificar um. Apesar da aparência geral de uma divindade se assemelhar a dos humanos, havia aquele brilho em sua pele, aquela harmonia em seus corpos, a expressão etérea inconfundível em seus rostos, que era impossível de se esconder. E como Poseidon havia afirmado que a maior parte do povo do vilarejo sabia que ele era um deus, eles saberiam identificar uma deusa, fosse pelo fato de que ela havia aparecido junto com Poseidon ou porque ela, também, tinha aquelas características típicas de uma deidade.

- Malkia, já faz tanto tempo - Poseidon se dirigiu à mulher. - Vocês têm passado bem, eu espero.

- Muito bem - a mulher assentiu com vigor. - Mas sentimos falta das suas visitas.

Poseidon deu de ombros.

- Sinto falta de visitar vocês também, mas eu tenho estado cheio de trabalho nos últimos anos. Espero poder voltar a visitar o vilarejo mais vezes logo.

- Esperaremos ansiosamente - a mulher sorriu, e Atena se perguntou qual seria a relação dela com Poseidon.

Ao olhar, ela não parecia mais próxima do deus dos mares do que qualquer outra mulher que havia falado com ele na festa, mas ele comparecia à festa de aniversário da filha dela todos anos. Será que por ela? Ou pela garota? Ou pelo vilarejo? Poseidon se tornava mais difícil de entender a cada nova faceta que Atena descobria sobre ele, mas ela certamente não descartava a hipótese de que algo já tivesse acontecido entre Poseidon e Malkia.

A deusa balançou a cabeça. O que raios estava pensando? Se qualquer coisa havia acontecido na vida de Poseidon, não era da sua conta. Ela não deveria dedicar um segundo sequer de seu tempo pensando nisso, quem dirá um minuto inteiro.

Jaliah puxou as vestes da mãe timidamente.

- Mamãe, eu já posso ir brincar com meus amigos?

Malkia sorriu educadamente para a filha.

Três Desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora