CINQUENTA E NOVE

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Capítulo Cinquenta e Nove

Algum tempo depois, Atena e Poseidon estavam de pé diante do palácio principal do Olimpo, as mãos entrelaçadas, como que em apoio mútuo. Seus sentimentos eram muito divergentes sobre aquele lugar. Atena, apesar de todo o trabalho que tinha, das brigas, das fofocas e das reuniões às três da manhã com Zeus, tinha o Olimpo como o lar em sua mente. Era onde havia passado toda a sua vida, e querendo ou não, o Olimpo sempre estivera ali para ela. Ela sempre tivera um local para retornar depois de uma batalha, um palácio para chamar de seu, uma lareira em torno da qual se reunia com sua conturbada família.

Já Poseidon tinha uma ideia bem diferente. O Olimpo foi, uma vez e por pouco tempo, seu lar. Após a derrota de Cronos, ele e seus irmãos viveram no novo Monte dos Deuses por aproximadamente dois anos, antes que fosse feita a partilha oficial da Terra. O deus não havia sido nominalmente expulso dali depois de receber o domínio dos oceanos, mas ficara claro, ainda que subentendido, para todos que ele não deveria mais estar naquele lugar. Assim, sem escolhas, ele se mudou para Atlântida, onde começou toda uma nova vida e fundou seu reinado.

O Olimpo talvez trouxesse uma certa nostalgia para o deus - o Monte era, afinal, onde todas as reuniões com sua família aconteciam, assim como todas as batalhas, e o único lugar no planeta onde os inimigos dos deuses não conseguiam entrar. Era, para todos os efeitos, um porto seguro. Mas Poseidon não conseguia, de forma alguma, chamar o Olimpo de lar. Não, lar não era uma casa. Lar era para onde ele voltava todos os dias; lar era aonde ele tinha um povo para proteger; lar era onde ele passava noites sem fim tentando vencer uma guerra, era onde dormia por pura exaustão. Lar era Atlântida.

Ele não esperava que conseguisse convencer Atena a pensar assim. Sabia que a deusa tinha um apego ao Olimpo e aos olimpianos, e entenderia completamente se ela decidisse continuar a vida como era antes da missão, morando no Olimpo e trabalhando de lá. No entanto, não podia deixar de desejar, do fundo de seu coração, que ela quisesse morar com ele.

Mesmo que Atlântida fosse sua casa, Poseidon percebeu que os poucos dias que Atena passou ali iluminaram o lugar de um modo sem igual. Nem um dia sequer havia sido tedioso enquanto ela estava lá, e tudo parecia ter mais vida. Ele só conseguia imaginar o quão feliz seria se ela aceitasse morar em Atlântida. Seus dias com certeza não seriam mais os mesmos.

Os deuses respiraram fundo quase que simultaneamente. Estavam prestes a encarar Zeus e reportar toda uma missão para ele, e essa tarefa não era encorajadora nem para Atena, que já estava acostumada a seguir esses protocolos com seu pai.

- Pronto? - ela perguntou para Poseidon.

Era uma pergunta retórica, é claro. Pronto ou não, Poseidon teria que entrar ali e cumprir seu dever. Mas ainda assim, o deus assentiu corajosamente e tomou a iniciativa, dando o primeiro passo para a frente.

As portas duplas do salão dos tronos se abriram sozinhas, revelando um cômodo absolutamente vazio. Bem, os deuses tinham mais o que fazer além de ficarem sentados em cadeiras de ouro olhando para o nada em um domingo ensolarado de inverno. Era de se esperar - e inclusive era melhor - que não estivessem ali.

Poseidon e Atena cruzaram o cômodo a passos lentos, nenhum dos dois ansioso para se encontram com o deus dos céus. Mas por fim, chegaram ao inadiável: estavam diante da porta do escritório de Zeus. Atena avançou corajosamente e deu duas batidas leves na porta. Alguns segundos depois, a voz arrastada atravessou a porta e chegou até eles:

- Entre.

A própria Atena abriu a porta e se adiantou para dentro do escritório. Poseidon vinha logo atrás, mas sua postura já mostrava que aquela conversa seria liderada por Atena e ele não falaria uma sílaba além do estritamente necessário com Zeus.

Três Desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora