VINTE E QUATRO

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Capítulo Vinte e Quatro

Pouco tempo depois, Atena rolava na cama, numa falha tentativa de dormir. Não que não estivesse com sono, mas a cama de casal enorme parecia estranhamente vazia e fria demais naquela noite.

Mas claro que ela não estava sentindo falta de Poseidon. Não podia estar. Havia dormido sozinha por milênios e dividido a cama com ele por apenas uma semana; não era possível que sentisse falta dele ali.

Um ronco particularmente alto vindo de seu estômago foi a deixa perfeita para Atena se levantar e sair do quarto. Os corredores estavam apagados, à exceção de algumas luzes fracas a cada aproximadamente dois metros, e o caminho até a cozinha era ainda mais difícil de encontrar, mas de alguma forma, Atena chegou lá. Era até bom, de certa forma, que ela tivesse uma atividade como se perder no palácio para preencher o seu tempo.

Uma vez na cozinha, foi fácil achar um petisco leve: os armários estavam repletos de comida, principalmente das porcarias que Poseidon adorava comer o dia inteiro. E por falar nele... Atena olhou para o lanche que havia feito no balcão, lembrando-se de que o deus não havia jantado com ela e Helena e provavelmente também não havia saído do escritório a tarde inteira. Um ímpeto de compaixão se acendeu nela, e assim que terminou de comer, a deusa preparou dois lanches e pegou alguns salgadinhos dos que o deus tinha mostrado para ela na noite anterior e colocou tudo em uma bandeja prateada. Não era do seu feitio fazer qualquer gentileza para ele, mas mesmo seu coração de pedra se amoleceu diante da perspectiva do deus trabalhando em imensas pilhas de papel sem sequer parar para comer - isso porque ela sabia muito bem como era, e adoraria que tivesse alguém no Olimpo que levasse um lanche para ela de madrugada como ela fazia agora.

A deusa subiu as escadarias equilibrando a bandeja nos dois braços, e só no meio do caminho foi que parou para pensar que, embora tivesse ouvido o barulho de uma cadeira arrastando ao passar por certo corredor, não fazia ideia de onde fosse o escritório de Poseidon. Nem mesmo sabia se a cadeira era dele - poderia ser qualquer outra pessoa em qualquer outra sala. Assim, por sua ingenuidade, teve que bater em todas as portas daquele corredor, sem receber resposta em nenhuma delas, exceto na última, onde a voz tão familiar veio abafada através da madeira:

- Entre.

Atena empurrou a porta com dificuldade, tentando equilibrar a bandeja em um braço só, e a fechou atrás de si com o pé. Poseidon estava de pé no meio do escritório, um aglomerado grosso de papel em suas mãos, e quando ergueu a cabeça para ver quem entrava, havia cansaço em seus olhos - que logo foi substituído por surpresa ao perceber que era Atena, com uma bandeja de comida em mãos.

Ele deitou um olhar deliberadamente longo sobre a deusa quando a viu, e só então ela se deu conta de que vestia uma camisola vulgarmente curta para aparecer na presença de qualquer um, além do decote que revelava mais do que deveria. Ela havia teleportado suas malas da ilha Dauphine para o palácio usando sua magia, e quando viu aquele pijama confortável entre suas roupas, não pôde ignorar a chance de usá-los. Afinal, ela não teve coragem de dormir com roupas tão curtas enquanto dividia a cama com Poseidon na ilha. Sua primeira oportunidade surgiu ali, onde tinha seu próprio quarto, por assim dizer. Ela não esperou aparecer na presença de ninguém vestida daquele jeito, muito menos de Poseidon. O deus, no entanto, conseguiu se recompor antes que o momento ficasse estranho e pigarreou antes de falar.

- Atena? - ele perguntou, como se não fosse óbvio. - Pensei que já estivesse dormindo.

Atena odiou o quão autoconsciente se sentia naquele momento, mas decidiu carregar o assunto.

- Não consigo dormir - ela deu de ombros. - Desci para comer alguma coisa e lembrei que você não desceu para jantar, então pensei que pudesse estar com fome.

Três Desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora