QUARENTA E NOVE

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Pelos deuses, estava acontecendo tudo de novo. Atena tentou acalmar seu coração, mas era impossível. O sangue rugia como um leão em seus ouvidos, a adrenalina preenchia cada centímetro seu. Estava na mesma situação de quatro milênios atrás. A diferença é que dessa vez Poseidon sabia que havia um motivo por trás, e acima de tudo, ele passaria a conhecer esse motivo.

Atena tomou um segundo para reconhecer que estaria derrubando tudo o que construiu ao longo de sua vida nos próximos minutos. Todas as muralhas, todas as mentiras, os sentimentos escondidos, sua verdadeira história. Estava prestes a contar para a pessoa que era o motivo de tudo, o último que poderia saber. Mas já havia se passado tanto tempo... E Poseidon a amava. Ele também estava abrindo mão de algo importante para ele por causa dela. Ele entenderia seus motivos, teria que entender.

Atena devia a verdade para ele. Mesmo que não tivesse nenhum plano para depois que ele soubesse. Mesmo que tivesse que ser outra pessoa depois da verdade.

A deusa encolheu as pernas, elevando os joelhos, e apoiou os cotovelos sobre as coxas.

- Devo te avisar que é uma história longa - disse ela. - E Poseidon... Por favor, me ouça até o fim antes de fazer qualquer coisa. Vou entender se você me odiar depois disso, se não quiser mais olhar para mim. Mas eu quero que você saiba a verdade.

- Atena... - Poseidon a interrompeu com olhos preocupados. - Você não precisa me contar. Eu já entendi que é importante para você. Eu aceito o que quer que seja.

Os olhos de Atena arderam.

- Mas eu odeio que você esteja no escuro - ela murmurou. - Se você ainda fosse indiferente, se não se importasse comigo... Eu poderia deixar passar. Mas você merece a verdade, Poseidon. Não merece pensar que isso é culpa sua, que você poderia fazer qualquer coisa de errado. Você merece saber, mesmo que isso te vire contra mim.

- Eu não vou te odiar. - disse ele rapidamente. - Seja o que for. Isso é uma promessa.

Atena suspirou.

- Eu espero que sim. Bom... eu não sei ao certo por onde começar - disse devagar. - Acho que tudo começa com o dia em que eu... Nasci, para todos os efeitos. Você se lembra que meu pai deu uma festa em minha homenagem naquele dia?

Poseidon assentiu, atento.

— Na mesma noite, as três moiras me fizeram uma visita. Disseram que queriam testar a sabedoria da deusa escolhida para tal domínio, e me deram um desafio: eu poderia pedir três coisas; qualquer coisa, em qualquer tempo, e elas atenderiam aos meus pedidos.

"Eu teria pedido pela sabedoria, mas estava fora de cogitação, porque eu já era a deusa da sabedoria. Pensei que não precisasse de nada mais além disso. Todo o resto eu poderia conseguir sozinha. Mas eu herdei todas as memórias da minha mãe, e eu me lembrei; lembrei da razão pela qual os titãs e humanos mais poderosos caíam: o amor. Eu vi a desgraça causada pelos amores não correspondidos. Foi meu primeiro pedido. Eu pedi para nunca me enganar com o amor. A primeira pessoa por quem eu me apaixonasse seria a pessoa certa para mim. Cloto, a moira que tece o fio da vida, foi quem atendeu o meu pedido. Eu demorei a perceber o efeito, para falar a verdade. Já tinha até me esquecido do teste das moiras... quando eu te vi pela primeira vez. Você apareceu no Olimpo um dia, querendo falar com o meu pai sobre algum problema em Atlântida. Eu estava no jardim quando você passou, e assim que bati os olhos em você... Eu não posso explicar como, eu me apaixonei. Simplesmente isso.

— Não é tão difícil - Poseidon interrompeu, dando de ombros.

O nervosismo de Atena não permitiu que ela risse.

— Você pode se gabar quando eu terminar de falar - disse. - Continuando. Nesse dia, coincidentemente, você veio conversar comigo. E nós nos tornamos amigos. Você não se lembra disso, e eu vou explicar porquê daqui a pouco. Nós nos tornamos muito íntimos. Não desgrudávamos um do outro nem por um segundo. Ah, eu queria tanto que você se lembrasse. Você dizia... - Atena fungou, lágrimas se acumulando em seus olhos, perigosamente perto de escorrerem. - Dizia que ia se casar comigo. Dizia de brincadeira ("só porque Hera é muito chata e não nos deixaria viver em paz sem nos casarmos"), mas era verdade. E eu só não aceitava porque ainda não tinha nem vinte anos de idade. Então continuamos apenas juntos, nos encontrando sempre que você aparecia no Olimpo.

Três Desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora