Eu nunca pensei exatamente em como seria o meu futuro. Como eu seria daqui à dez anos ou no que eu trabalharia. A minha vida praticamente era repleta de sonhos e imaginações. Alguns tão bobos e outros tão... Irreais. Minha mãe sempre dizia que se eu não tomasse um rumo em minha vida, eu acabaria seguindo o mesmo caminho que ela. Sem marido, duas filhas pequenas para cuidar e um trabalho quase escravo.
Eu tinha apenas treze anos quando os meus pais se separaram. A minha mãe havia sido vítima de traição. O meu pai foi encontrado com duas garotas de menor na cama do quarto onde ele dormia junto a ela. A cena repugnante permaneceu em minha mente por muito tempo. Depois daquele ato, eu, minha mãe e minhas duas irmãs mais novas abandonamos a nossa casa em Londres e partimos a caminho do Brasil, pensando em viver em um lugar melhor e mais afastado de todo aquele outro lugar que nos trazia péssimas recordações. Nosso caminho até lá foi simplesmente sem ter noção de nada. Não sabíamos para onde ir, não tínhamos uma grande quantidade de dinheiro e muito menos uma casa para morar. Havíamos ido para lá como se estivéssemos fugindo de algo, mas na verdade, estávamos, do homem que havia nos dado péssimas lembranças de Londres. Ele ainda havia procurado por minha mãe dias antes de viajarmos, tentando explicar que tudo aquilo havia sido um engano, mas vi com os meus próprios olhos, e sabia que o que eu havia visto não tinha sido um mísero engano.
Depois de passar por aquela turbulência e as complicações ao passar dos anos, eu tentei um novo recomeço. Eu estava disposta a cuidar da minha mãe e das minhas irmãs mais novas. Eu tinha em mente que eu poderia mudar a vida delas, poderia tirá-las daquele lugar e dar a elas tudo o que nunca tiveram. Eu queria ser para as minhas irmãs um pai que nunca tiveram. E ser para a minha mãe o marido que nunca teve. Eu estava decidida em ir para os EUA para trabalhar assim que completasse dezoito anos, mas por não ter dinheiro para bancar a viagem, eu tive que passar mais dois anos no Brasil, trabalhando duro para conseguir dinheiro para a viagem. Embora o tempo parecesse não estar ao meu favor, antes do que eu esperava, consegui juntar dinheiro e trocar por dólares. Aquela quantidade nem chegava aos pés do que eu realmente precisava, mas eu daria um jeito ao chegar lá.
Após duros meses, eu consegui arranjar um emprego em Los Angeles. O salário não era exatamente o que eu precisava para ajudar a minha família que havia ficado no Brasil, mas ajudaria em algumas coisas. Logo após isso, eu consegui encontrar um segundo emprego. Eu tentava alternar os horários para ir aos dois trabalhos. Chegava a ser cansativo, claro, mas eu fazia aquilo porque eu precisava, e além de tudo, eu gostava de servir mesas e fazer entregas, era como se fosse o meu passatempo, mantendo a minha cabeça ocupada para não pensar na situação em que minha mãe e minhas irmãs estavam.
Alguns meses depois, eu definitivamente não sabia se o universo conspirava contra mim. Eu estava completamente desabando. Quando pensei que as coisas estavam melhorando, tudo se voltou como uma punhalada em minhas costas. Eu perdi os dois empregos em uma só tacada. Por um simples erro eu cheguei a perder tudo. Os meus pensamentos não envolviam como eu iria viver em Los Angeles com uma pequena quantidade em dinheiro, mas sim em como eu iria pagar as despesas do Brasil. Tanta coisa havia acontecido que eu já não sabia mais como agir. Até pensei em cometer suicídio, mas percebi que seria uma péssima decisão, pois minha mãe não precisava pagar por uma incompetência minha. Quando pensei que tudo estava acabado, surgiu uma nova oportunidade, até um pouco inusitada, mas a melhor que eu poderia recorrer naquele momento. Eu jamais poderia esquecer a frase que aquele senhor havia me dito. Sem nem mesmo conhecer-me, ele entregou a sua casa em minhas mãos para que eu trabalhasse nela, e em troca, receberia um salário, além de ter um lugar para morar e comer. Sr. Tuan havia sido minha salvação, mas até quando a sua atitude iria durar?
(...)
— Deus!
Digo automaticamente ao ver o corpo seminu a minha frente. Eu estava assustada. Não esperava ver um homem somente de boxer, principalmente quando se tratava do filho do chefe.
Eu não sabia o que fazer, a não ser, fechar a porta rapidamente e me virar de costas para ela. Eu não conseguia ver o meu rosto, mas tinha certeza de que ele estava todo vermelho, pois eu sentia as minhas bochechas queimarem.
— Ei!
Paralisei ao ouvir a voz dele e um rangido vir da porta, identificando que ela estava sendo aberta.
— Não! — Gritei e fechei os olhos por impulso. — F-fique, fique ai! Eu, eu... — Tampei os meus olhos com a minha mão e tentei caminhar cuidadosamente pelo quarto até a saída dele, para não esbarrar em nenhum móvel.
— Você pode me ouvir?
— Eu arrumarei o seu quarto depois.
Digo prosseguindo com o meu trajeto em cego.
— O que? Ei!
— Ai...
Solto um gemido ao sentir o meu corpo se chocar contra algo. Retirei minha mão de meus olhos e reparei que eu tinha batido contra a porta que estava fechada. Xinguei-me mentalmente por ter cometido aquele erro.
— Eu vou pegar uma toalha.
Escutei ele suspirar alto e caminhar de volta ao banheiro.
— N-Não precisa se incomodar... Eu vou te deixar tranquilo. — Digo e coloco a mão sobre a maçaneta, girando-a para o lado e abrindo a porta.
— Você trabalha aqui?
A porta é fechada bruscamente. Mexi os meus olhos para o lado, vendo a proximidade do terceiro filho. Ele estava com a mão apoiada sobre a madeira, impedindo que eu abrisse a porta. Dei uma rápida analisada pelo canto do olho em sua estrutura corporal. Embora ele tivesse dito que pegaria uma toalha, ela não escondia o seu peitoral. Logo voltei a centralizar o meu olhar na maçaneta.
— O-O que?
Engulo em seco, ficando paralisada.
— Você trabalha aqui, não é?
— S-Sim...
— Você costuma entrar no quarto dos outros sem... Autorização?
— Que? — Virei rapidamente a minha face para o lado, o encarando. — Ei! Eu apenas fiz o que o seu pai mandou!
— Mas deveria ter vindo antes da minha chegada, não acha? Ou... — Um sorriso de canto de boca apareceu em sua face, o qual logo estranhei. — É... nada. Pode ir. Eu digo aos meus pais que não te deixei arrumar o quarto. — Afastou-se da porta indo em direção ao banheiro.
— Que? — Olhei para a sua atitude um pouco surpresa e espantada ao mesmo tempo.
Após a cena constrangedora saí do quarto como um foguete. Com certeza depois daquilo eu não conseguiria mais encará-lo normalmente, sem antes lembrar-me do primeiro encontro vergonhoso.