Despejei o café dentro de uma das xícaras e a peguei em minhas mãos. Tomei um pouco do líquido escuro, levando cuidado para não queimar a minha boca. Fitei o balcão da cozinha, iniciando um processo de relembrar dos assuntos passados. Já haviam três anos que eu estava em Los Angeles, tendo um bom tempo longe da minha mãe e minhas irmãs mais novas. Mas aquela quantidade de anos, não me impediam de manter contato com elas. Sempre que eu podia, conversava com minha mãe via chamada de vídeo. Minhas irmãs cresciam cada vez mais. Às vezes eu me sentia mal por não estar presente na fase de crescimento delas.
Sempre me perguntei a razão de minha mãe não querer vir morar aqui em Los Angeles. Seria, talvez, mais fácil para ela e minhas irmãs. Ela poderia encontrar um emprego que pagasse bem e as meninas podiam ter um bom estudo.
Talvez ela achasse que seria um incômodo, já que praticamente moro na casa do Sr. Tuan. Mas a última vez que nos falamos, minha mãe prometeu-me que mesmo não tendo possibilidades dela vir até aqui, ela deixaria minhas irmãs virem, pois elas sempre tiveram vontade de conhecer outro país além do Brasil, já que saíram de Londres ainda muito pequenas.
Não importava a distância ou até mesmo as nossas economias, o meu único desejo, mais sincero, era que pudéssemos viver juntas mais uma vez.
— Alissa?
Escutei uma voz suave adentrar a cozinha, despertando-me de meus pensamentos. Era a Sra. Tuan. Ela sorria para mim como se estivesse sorrindo para o próprio filho.
— Onde está Elizabeth?
Perguntou mantendo-se com o semblante harmonioso.
— Huh... Ela foi arrumar o quarto do Mark... Digo... Do Sr. Tuan.
Repreendo o gesto considerado não educado ao me referir ao filho dos meus chefes.
— Oh. Certo. — Balançou a cabeça e caminhou até o balcão, mexendo em algumas coisas que tinha sobre ele. — Você não precisa se referir formalmente ao Mark, Alissa. Você tem quase a mesma idade que ele. E ainda mais... — Olhou para mim, sorrindo compassadamente. — Você é praticamente de casa.
— Certo. — Abri um sorriso um pouco envergonhado. — Mas ele é superior a mim...
— Ninguém é melhor que ninguém. Você sabe. — Voltou a sua atenção para as coisas sobre o balcão. — Refira-se desta forma apenas com quem é realmente mais velho que você.
— Eu sei, mas... Me sinto um pouco desconfortável.
Mantive-me envergonhada. Não que aquilo fosse ruim, mas que eu nunca saberia agir corretamente com eles ou quando fosse necessário.
— Sabe... — Ela solta um riso baixo. — Somos uma família. Todos daqui. — Ela me olha mais uma vez. — Um cuida do outro. Ajudam nas horas que precisa... E assim vai. — Diz. — Refira-se ao mais novos, normalmente. Como se refere as suas amigas. Apenas não exagere.
Ela diz suas últimas palavras entre risos, fazendo-me rir também.
— Obrigada... Sra. Tuan.
Exalo um sorriso agradecido em meus lábios, olhando para a xícara em minhas mãos.
— E... Sua mãe? Manteve contato com ela?
— Huh? Sim. Sempre falo com ela quando posso. — Voltei o meu olhar em sua direção.
— Oh. Bom. Eu sinto muito por você estar longe da suas irmãs e sua mãe.
Nego com a cabeça.
— Tudo bem. Eu sinto que não importa a distância, mas se eu as manter em meu peito... Sentirei elas perto de mim sempre.
— Belas palavras Alissa.
— Obrigada.
(...)
— Alissa! Seja rápida menina!
— Não me apresse Elizabeth! Isso tudo está uma bagunça! Meu Deus!
Olhei para as diversas malas jogadas pelo corredor do andar de cima até a porta do quarto do terceiro filho. Aquilo estava uma catástrofe. Eu não imaginava que quando ele disse que iria trazer algumas pessoas para cá, referia-se a seis garotos tão bagunceiros que iriam passar uma semana aqui. Se no primeiro segundo eles largaram suas malas pela casa, para irem à piscina, imagine em uma semana.
E aquela bagunça? Quem iria ter que arrumá-la?!