O meu celular vibrou sobre o balcão. Afastei meu corpo do de Mark e olhei de relance para a tela do celular. Sr. Tuan me ligava.
─ Sr. Tuan?
Mark me olhou ligeiramente.
─ Eu preciso falar com você, Alissa. Venha o mais rápido possível. ─ Disse e a ligação é encerrada.
Olhei apreensiva para a tela do celular. Mark parecia desentendido.
─ Era o meu pai? ─ Perguntou. Afirmei com a cabeça e umedeci meus lábios, ansiosa. ─ O que ele queria?
─ Não sei. Ele apenas disse que queria falar comigo.
(...)
Estacionando o carro em frente a casa do Sr. Tuan, desci e encaminhei meus passos em direção a porta, seguida por Mark. Ao abrir, deparei-me com uma catástrofe. Vozes amplificavam-se de tom. O barulho de coisas se chocando contra outras se expandia pelo ambiente. Tudo resumia-se entre: Sr. e Sra. Tuan, meu pai, Sunny e Allison ─ que estavam no canto, mais distantes.
─ São minhas filhas! ─ Aumentou o tom de sua voz.
─ O senhor não tem com o que viver! ─ Disse Sr. Tuan.
─ Não importa! Eu darei um jeito de me virar!
─ Meu senhor, essas duas crianças não são como um objeto! ─ Repreendeu Sra. Tuan.
─ Quem são vocês, por acaso? Não são da família. Não me conhecem. Não sabem nada de minha vida ou da minha família!
─ Mas sabemos o suficiente para saber que o senhor não pode levar essas crianças! ─ Ampliou-se Sr. Tuan.
─ O que está acontecendo aqui? ─ Cochichei para Elizabeth que se aproximava de mim.
─ Seu pai está querendo levar suas irmãs para Londres. ─ Respondeu ela.
─ O que? ─ Modifiquei a direção do meu olhar o mais rápido possível para o meu pai. ─ Não pode levá-las. ─ Entrei naquela discussão.
─ Por que não? ─ Me olhou. ─ São minhas filhas! E você também deveria ir, Alissa.
─ Para vivermos de quê? Eu sei que a sua empresa faliu, e que perdeu a casa.
─ Eu ainda tenho os meus modos de conseguir dinheiro. ─ Disse. ─ Você pode ter uma vida melhor.
─ Mas nem tudo é tão fácil como parece.
─ Qual é? Vai querer viver o resto de sua vida lavando pratos? Fazendo o que os outros mandam? ─ Arqueou as sobrancelhas. ─ Você quer mesmo viver o resto de sua vida nesse trabalho de merda? Como uma empregadinha?
Travei o maxilar e respirei profundo ao sentir minha garganta queimar.
─ Não importa o quanto doloroso seja. Ou o quanto é diminuído pela sociedade. O que importa mesmo... É que aqui, eu encontrei uma família de verdade, quando eu estava sozinha. Porque... Se você quisesse mesmo nos dar uma vida melhor... Não teria traído a minha mãe. E teria feito o papel que um pai deveria fazer.
─ São águas passadas.
─ Para você talvez seja. Mas para nós, principalmente minha mãe, não é. Porque você não fez nada para impedir que fôssemos embora.
─ Eu tentei. E você sabe.
─ Com o argumento de que "não era o que parecia"? Ou... "Me perdoe, não farei mais." Eu lamento. Mas palavras não chegam nem aos pés de atos. ─ Cuspi as palavras.